Atleta com esclerose múltipla já participou de mais de 180 corridas

Foto: Arquivo Pessoal – Agenor Netto

Agenor Netto, 49 anos, é um exemplo de superação. Diagnosticado com esclerose múltipla (EM), doença autoimune que afeta o sistema nervoso central (SNC), o atleta que é natural de Ilhéus e trabalha como propagandista farmacêutico, tornou seu hobby, um esporte, e já completou 188 circuitos oficiais, incluindo maratonas e ultramaratonas. “Existe uma luz no fim do túnel, basta acreditar, buscar a superação e o mais importante: não desistir nunca”, reforça ele.

Caracterizada pela inflamação crônica e desmielinização da bainha de mielina, uma camada que protege os axônios dos neurônios e é fundamental para a transmissão dos impulsos nervosos, a esclerose múltipla é mais comum em jovens, entre 20 e 40 anos. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas no Brasil tenham a doença.

Agenor lembra que, antes de receber o diagnóstico, passou por várias consultas médicas devido aos surtos característicos da esclerose múltipla, que são manifestações de sintomas diferentes em cada indivíduo e têm duração mínima de 24 horas. “Tudo começou em novembro de 2010, quando eu não conseguia sair da cama para trabalhar. Sentia náuseas e uma sensação de vertigem. Procurei ajuda médica e me disseram que poderia ser labirintite. Quinze dias depois, enquanto dirigia meu carro, novos sintomas estranhos surgiram, como calafrios e visão embaçada, o que me impediu de buscar ajuda sozinho e chegar a um hospital. Mais uma vez, me recomendaram repouso, pois suspeitavam que fosse estresse”, relembra.

Somente após o terceiro surto, o qual provocou uma paralisia facial (boca torta) e perda os movimentos no lado esquerdo do corpo, os médicos o encaminharam para um especialista em Salvador, capital do estado, com suspeita de esclerose múltipla. Realizou então exames mais abrangentes e o diagnóstico de Agenor foi confirmado. “Eu me senti no fundo do poço. Era fim de ano e, depois de tudo o que passei, receber a notícia dos médicos, que não sabiam se eu poderia recuperar meus movimentos, foi extremamente difícil para mim”, afirma.

Mas, mesmo diante da situação difícil, Agenor não deixou se abater. No ano seguinte, iniciou a fisioterapia e começou a ser acompanhado por fonoaudiólogos. Aos poucos, ele foi reaprendendo a andar e, após quatro meses desde a identificação da doença, mesmo ainda tendo fadiga intensa e formigamento devido à falta de exercícios físicos, Agenor recuperou seus movimentos, a visão e a fala.

Em 2014, com o apoio de amigos e familiares, ele e sua esposa se inscreveram em uma corrida de rua, um percurso de 5 km. O desafio, que parecia inalcançável, se tornou pequeno diante das conquistas que viriam a seguir. Com a autorização de seu médico, treinamentos regulares e acompanhamento de um educador físico, Agenor completou sua primeira maratona, percorreu 42 km em 2018, oito anos após o diagnóstico, e, no ano seguinte, recebeu, pela Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), o título de 1º brasileiro com EM a completar uma ultramaratona, depois de percorrer 52 km.

“Por mais difícil que seja, nunca desista. O importante é entender que dar o seu melhor todos os dias é suficiente. Eu percebi que não é necessário realizar feitos extraordinários ou ser um super-herói. A constância e a disciplina são essenciais para alcançar seus objetivos: recuperar os movimentos e superar a esclerose múltipla”, incentiva o atleta.

Conhecido por seus colegas de corrida como Netto, o atleta utiliza a visibilidade que alcançou para realizar ações sociais. A cada novo desafio que enfrenta, o atleta propõe à comunidade local doações que beneficiam pessoas em vulnerabilidade social.

Embora sua doença esteja estabilizada, Agenor continua seu tratamento e faz acompanhamento médico regularmente. “A esclerose múltipla exige que eu esteja sempre alerta. Mantenho uma rotina constante de exercícios, treinos e alimentação saudável. Sei que quanto mais eu fizer por mim, menos chances a esclerose múltipla terá contra mim”, finaliza, determinado.

Sobre a esclerose múltipla: é uma doença que compromete o sistema nervoso central, um processo de inflamação crônica de natureza autoimune que pode causar desde problemas momentâneos de visão, falta de equilíbrio até sintomas mais graves, como cegueira e paralisia completa dos membros. A doença está relacionada à destruição da mielina – membrana que envolve as fibras nervosas responsáveis pela condução dos impulsos elétricos no cérebro, medula espinhal e nervos ópticos. A perda da mielina pode dificultar e até mesmo interromper a transmissão de impulsos. A inflamação pode atingir diferentes partes do sistema nervoso, provocando sintomas distintos, que podem ser leves ou severos, sem hora certa para aparecer. A doença geralmente surge sob a forma de surtos recorrentes, sintomas neurológicos que duram ao menos um dia. A maioria dos pacientes diagnosticados são jovens, entre 20 e 40 anos, o que resulta em um impacto pessoal, social e econômico considerável por ser uma fase extremamente ativa do ser humano. A progressão, a gravidade e a especificidade dos sintomas são imprevisíveis e variam de uma pessoa para outra. Algumas são minimamente afetadas, enquanto outras sofrem rápida progressão até a incapacidade total. É uma doença degenerativa, que progride quando não tratada. É senso comum entre a classe médica que para controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença, o diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais.

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