Colunista Moacir Saraiva: “Em tempo de eleições”

 

O povo pobre é muito visitado em tempo de eleições. Há uma verdadeira romaria de candidatos às comunidades carentes de todas as cidades brasileiras e às regiões interioranas. Os candidatos vêm com um sorriso largo, abraçando a um e a outro, dando tapinhas nas costas, constituindo-se em um sujeito que vende simpatia. Eles se apresentam com um séquito a fim de impressionar os nativos.

Quando o candidato faz parte do governo, ele traz secretários ou outras autoridades no sentido de prometer intervenções na comunidade visitada, a presença da autoridade lhe dá mais respaldo, uma vez que ele ganha uma voz oficial a fim de convencer os eleitores da comunidade visitada.

O sujeito levou para sua visita eleitoral um gerente de banco oficial e, em uma conversa com as lideranças da comunidade, ele, para falar o que o povo queria ouvir, mostrou os ganhos de uma agência bancária na comunidade e após enfeitar e reenfeitar os benefícios para aquela gente, com a presença do banco, foi dada a voz ao povo.

Levantou-se uma senhora e falou:

– Doutor, na cidade vizinha, ontonte, um banco seu, chei de vrido, meu fi trabalha lá olhando pro bicho a noite toda. De madrugada, chegaram uns moços e atiraram, jogaram uns negócios no banco e quebrou tudo, meu fi se fez de morto para não morrer. Os homes atiraram muito, umas pessoa que voltavam de uma festa receberam uns tiros e depois foram até pra Bahia pra não morrer.

A senhora continuou:

– Ontonce, Doutor, que é que nós ganha com isso?

O sujeito tentou conversar e para tentar dourar a pílula se saiu com essa:

– Meus amigos, vejam que o banco empresta dinheiro e isso é muito bom para vocês.

Dito isso, ele pensou que todos fossem ficar felizes e irradiantes e assim, fosse agradar ao político que o levara. E reforçou o discurso de que toda a comunidade ganha com a chegada de um banco. Um sujeito levantou-se e fez a seguinte fala:

– Doutor, meu irmão, um homem do campo, tomou emprestado um dinheirinho em seu banco, na cidade vizinha, e depois de um tempo, a seca chegou, ele não pôde pagar e o banco tomou a rocinha dele. Doutor, quem ganhou com isso?

O político acabou a reunião.

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