Colunista Moacir Saraiva: “O namorado rico”

         Em muitos inícios de namoro o encanto e o vislumbre escamoteiam o que o outro, às vezes, realmente é. O brilho nos olhos de um apaixonado torna tudo, tudo mais belo, mas não para o sujeito desta crônica.

Não há luar como o de janeiro, nem amor como o primeiro. Esse é um adágio antigo e que muitos o tem como um dogma, uma verdade absoluta e inquestionável.

O sujeito começou a namorar uma moça em janeiro e era sua primeira experiência nesta seara, não era jovem, maseramseus primeiros passos na direção do amor. A moça encantadora e já não era imberbe neste campo. A primeira saída do casal foi para um restaurante na praia, à noite, no mês de janeiro, e com um luar lindo, um bom restaurante e a lua banhando o mar com vontade.

Antes de se apearem do carro, no restaurante, muitos beijos, muitas palavras trocadas de encantos, de promessas, de elogios e outras coisitas mais. O moço desceu primeiro e foi abrir a porta do carona, deu a mão para a amada e só depois ela pôs os pés no chão, ele demonstrou uma cortesia pouca vista nos dias atuais, inclusive pela moça, mas para demonstrar amor e polidez, tudo vale.

Ao entrarem no recinto, havia uma mesa reservada para eles, com flores e um cartão bem amoroso, próprio de amantes enlouquecidos. O rapaz preparara o ambiente para nada, nada dar errado, porquanto ali seria o selamento do início de uma relação amorosa, uma vez que ele estava muito ansioso para desfilar nas ruas de mãos dadas com a amada, visto que era um dos seus sonhos poder mostrar ao mundo que tinha uma namorada.

Ao chegarem à mesa, o ritual da cortesia do carro se repetiu, ele puxou a cadeira a fim de a amada se sentar, só depois ele foi para o lugar dele. O sujeito não nadava no dinheiro, no entanto tinha contas bancárias recheadas,mas andava com os pés no chão no que tange ao uso de seus recursos. Ambos ficaram vislumbrados com o ambiente, os olhares para a mesa e para o entorno denunciavam que não eram habituados a frequentarem ambientes daquela estirpe. O sujeito escolheu esse ambiente a fim de impressionar a moça.

Ele pediu um vinho, porque é a bebida mais usadanos encontros românticos, isso se vê na literatura, nas novelas e nos filmes, portanto, nada melhor do que celebrar esse momento com a bebida dos amantes. Ele se denunciou que não tinha nenhuma intimidade para beber vinho, pois a forma que ele pegou na taça de cristal pareceu mais que estava pegando em um copo americano cheio de cerveja.

Depois de beberem algumas taças do vinho, foi solicitado o cardápio, ela o pegou da mão do garçom, com certa indelicadeza, e escolheu três iguarias sofisticadas, o rapaz achou que ela exagerou na quantidade, entretanto, nada falou, o garçom, educadamente, disse que o pedido feito era muito para os dois, no que ela retrucou argumentando que estava com bastante fome. O vislumbrado amante, nada disse, e o pedido foi confirmado.

Antes das iguarias chegarem, o vinho veio acompanhado de alguns petiscos e o casal consumiu tudo, pois eram deliciosos. E a conversa movida a vinho rolou solta, os dois trocando muitas carícias nas mãos e os olhos acariciando o rosto um do outro. O encontro de casais nessa fase é bonito de curtir e também de se ver, pois contagia a quem está por perto.

O pedido chegou e começaram a comer, a moça tirou pequenas fatias de cada iguaria e ficou satisfeita. O namorado também comeu pouco e sobrou muita comida, o rapaz, apesar de estar apaixonado, mas internamente ficou indignado com o desperdício, pois jogou dinheiro e muito dinheiro fora.

Acabado o jantar, foram embora, na porta da casa da moça, dentro do carro, muitos beijos e outras práticas as quais não preciso explicitá-las, pois todos as conhecemos e já fizemos. Se despediram e ela, com muito amor na voz e um sorriso largo, o pediu para vir buscá-la no dia seguinte, isso ficou pactuado, conforme o horário estabelecido.

Ele, ao sair, pensou no amor e no desperdício. Nunca mais voltou à casa da moça.

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