Colunista Moacir Saraiva: “A frustração da avó”

         Os pais tinham uma prole numerosa, alguns já casados, mas nenhum se aventurara ainda a colocar um rebento no mundo, apesar de ser o maior desejo dos velhos pais. Ser avó era o maior sonho da genitora dessa turma numerosa, a senhora muito espirituosa e certa feita, escreveu uma petição ao filho mais velho e à esposa, se passando por um delegado e intimidando-os a apresentarem um exame positivo de gravidez. Isso foi motivo de muitas resenhas na família toda e por um bom tempo.

         O casal interiorano e alguns filhos moravam em sítios bem próximos aos pais, dois apenas fixaram residência em uma cidade nas redondezas, situação que permitia que se visitassem com muita frequência, e, aos domingos, um churrasco na casa do patriarca.

         Os churrascos regados a pouca bebida alcoólica ou sem nenhuma, pois a família não tinha o hábito de abrir as portas de suas casas para acolher o álcool e tampouco as portas do corpo para ingeri-lo. Mas em um domingo qualquer, o filho mais velho trouxe uma garrafa de Pérgola e todos ficaram a se perguntar o motivo daquela bebida ali. Ele diante da curiosidade de todos, apenas disse que aquela bebida seria para celebrar algo muito especial na vida dele, da esposa e de toda a família.

         O almoço posto, o rapaz abriu o vinho e o serviu em copos americanos e como eram insuficientes, colocaram o vinho também em copos reutilizados de massa de tomate. Após brindarem, o rapaz tirou um documento do bolso bem sucinto e leu para todos:

         “Prezada Senhora: (dirigindo-se à mãe dele)

         Em resposta à vossa intimação de seis meses a esta data, vimos informar a V. Sa. e a todos aqui presentes que daqui a oito meses nascerá Kaelisson.”

         A alegria foi geral, afinal viria o primeiro neto tão desejado pelos anfitriões, o primeiro sobrinho dos irmãos e voltaram a brindar novamente e até choro houve por parte de alguns e mais ainda pelos avós. Um momento de muita alegria, pois era uma vida que estava chegando.

         Após todas as comemorações, algumas falas, muitos risos, enfim um momento que tem suas manifestações próprias pela novidade. Após todo esse alvoroço, a matriarca, um pouco triste, disse:

         – Meu filho, eu nasci na roça, vivi aqui a vida toda, não frequentei escola e não sei falar direito, e seu filho com esse nome difícil eu nunca vou acertar falar o nome dele.

         Após a fala da matriarca, houve risadas murchas, mas o clima de alegria continuou e o filho respondeu:

         – Mamãe, a senhora é uma pessoa inteligente e rapidamente vai falar o nome do neto bem explicado.

         O menino nasceu e a velha só o chamava de “meu neto” isso causava uma angústia muito forte na velha, pois ao conversar com as amigas, cada uma enaltecia os feitos dos netos, chamando-os pelo nome, enquanto isso a senhora, que já ganhara outros, chamava-os pelo nome, mas o primeiro, só o chamava de “meu neto”.

         Após quatro anos, ela já com seus oitenta anos, adoeceu e no leito do hospital revelou:

         – Vou morrer mais triste ainda, apesar de eu ter me esforçado muito,  não acertei chamar o “meu neto” pelo nome.

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