A missão ampliada dos professores na formação das novas gerações

Artur Marques da Silva Filho*

Imagem de Drazen Zigic no Freepik

Neste 15 de outubro, Dia do Professor, cabe reiterar a premência de sua valorização e melhoria das suas condições de trabalho para a promoção da qualidade do ensino nas redes públicas. Não foi sem razão que, na Reunião Global de Educação em 2020, promovida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), numerosos governos comprometeram-se a proteger os orçamentos do setor e apoiar o desenvolvimento das habilidades dos docentes.
 

Porém, o Brasil está na contramão dessa lógica. Além dos conhecidos cortes orçamentários no ensino e na pesquisa, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que os salários dos servidores públicos, dentre eles os do Magistério, caíram 8,5%, ante 2,9% na iniciativa privada, entre o trimestre de maio a julho de 2019, antes da pandemia, e o mesmo período de 2022. A diferença decorre do congelamento e/ou reajustes abaixo da inflação para aqueles que servem à sociedade nas distintas áreas estatais.
 

Quando falamos em valorização dos professores e melhoria de suas condições de trabalho, não nos referimos apenas a salários e aporte de infraestrutura e tecnologia nas escolas. Também é preciso eficaz suporte para sua formação acadêmica e educação continuada. Os mestres precisam estar cada vez mais preparados para enfrentar os novos desafios da educação, que transcendem em muito ao já relevante trabalho de lecionar e cumprir com eficácia as grades curriculares de suas respectivas disciplinas.
 

Muito além desse escopo, torna-se fundamental o papel dos professores na construção de novas mentalidades, inerentes a um mundo cada vez mais exigente quanto a princípios éticos, probidade, respeito à diversidade, aderente ao desenvolvimento sustentável e caracterizado pelo avanço tecnológico e digitalização da economia. Todos esses valores precisam ser trabalhados desde os primeiros anos de escolaridade nas novas gerações.
 

Há, ainda, a questão da inteligência emocional e o equilíbrio das crianças e jovens. Nestes dois aspectos, os professores brasileiros estão dando um exemplo formidável, ao encararem o desafio de manter a motivação e trabalhar na recuperação psicoemocional dos alunos, muitos dos quais perderam pessoas queridas, assistiram às suas famílias enfrentarem o desemprego e a diminuição de renda e sentiram de modo acentuado o impacto que a Covid-19 provocou em toda a humanidade.
 

Os gestores do ensino no Brasil precisam compreender que todas essas questões refletem-se de modo direto e intenso na sala de aula, exigindo atenção, cuidado e tratamento eficaz por parte dos professores. Tais desafios abrangem a abordagem de estudantes das distintas idades e etapas da escolaridade. Por isso, muito mais do que ensinar, os mestres estão sendo portadores de esperança, motivação e propósitos, numa dedicada mobilização, que não deveria passar despercebida, de resgate da autoestima de milhões de alunos.
 

O Brasil tem cerca de 2,6 milhões de professores, sendo 2,2 milhões lecionando na Educação Básica, dos quais 1,7 milhão trabalham na rede pública e 500 mil, na particular. Outros 397 mil atuam no Ensino Superior. Destes, 183 mil estão nas universidades federais e estaduais e 214 mil, nas particulares. Esses dados dos censos da educação revelam o contingente de brasileiros que, mais do que nunca, merece ser enaltecido e reconhecido por todos nós. Esses profissionais têm uma das mais relevantes missões no contexto do desafio do desenvolvimento do País, que dependerá de nossa capacidade de prover conhecimento universal de excelência às presentes e próximas gerações.
 

*Artur Marques da Silva Filho, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, é presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP).

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