Vida saudável com diabetes
Por Saúde Abril
Mal silencioso, o diabetes atinge entre 12 e 14 milhões de brasileiros. O diagnóstico, no entanto, não é mais uma sentença de falta de qualidade de vida. “Trata-se de uma doença crônica, progressiva, sem cura, mas possível de ser controlada para que a pessoa tenha uma vida saudável e absolutamente normal”, afirma o endocrinologista Augusto Pimazoni Netto, coordenador do Grupo de Educação e controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão, instituição ligada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Existem basicamente três tipos da doença: o diabetes tipo 1, que normalmente é diagnosticado na infância e adolescência. Representa cerca de 10% dos pacientes e trata-se de uma reação autoimune do corpo, que passa a atacar as células do pâncreas. Assim, o órgão deixa de produzir a insulina — hormônio que leva a glicose (o açúcar dos alimentos) do sangue ao interior das células para ser transformada em energia.
O diabetes tipo 2 normalmente é diagnosticado na pessoa adulta, em geral após os 40 anos, e costuma estar associado à obesidade e ao sedentarismo. Envolve os outros 90% de pacientes. O excesso de gordura no organismo causa uma resistência à insulina, dificultando o trabalho do pâncreas, que pode entrar em colapso.
Por fim, existe o diabetes gestacional, que costuma surgir na gravidez em mulheres com predisposição. Pode persistir ou não depois do parto e atinge até 25% das grávidas.
O que ocorre no corpo do diabético
O diagnóstico de diabetes é feito por meio do exame de sangue. O mais comum é a glicemia de jejum, que mostra o índice de açúcar no sangue naquele momento. No entanto, o exame mais recomendado e seguro é o de hemoglobina glicada, que apresenta uma “fotografia” do perfil glicêmico dos últimos 90 dias. É considerado diabético o paciente que apresentar uma glicemia de jejum maior do que 126 mg/dl ou a hemoglobina glicada maior do que 7%.
Esse tipo de acompanhamento é fundamental. Estudos apontam que apenas 60% das pessoas sabem que têm diabetes. Acredita-se que só metade dos pacientes apresentam sintomas claros, como excesso de sede, aumento do volume urinário e perda de peso repentina. A outra metade, quando percebe, é tarde demais e já está com alguma complicação instalada. Saber que tem a doença é o primeiro passo para iniciar os cuidados necessários.
Causas
Essa questão da ancestralidade foi observada inclusive nos pacientes que se autodeclararam negros ou pardos. Segundo a professora da Uerj Marilia de Brito Gomes, pesquisadora do CNPq e da Fapesp e responsável pelo estudo, mais de 50% dos diabéticos que se declararam pardos e 39% dos que disseram ser pretos possuíam ancestralidade europeia.
Na pesquisa não foi encontrado nenhum paciente negro com ancestralidade 100% africana. “Não existe mais negro puro no Brasil. Já miscigenou muito, e eles tem um percentual importantíssimo de ancestralidade europeia. Agora queremos descobrir se tem algum fator ambiental que aumente o risco para a doença”, destacou a professora.
Os pesquisadores concluíram que quanto maior a ancestralidade europeia da pessoa, quanto mais branco geneticamente era o paciente, maior o risco de desenvolver diabetes tipo 1.
Na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o Laboratório de Investigação Clínica e Resistência à Insulina (LICRI) está pesquisando outra linha inédita para entender o diabetes tipo 2: a influência da macrobiota do intestino na obesidade e, consequentemente, nos casos de diabetes. A macrobiota são os vírus e bactérias que vivem no intestino, e os pesquisadores já descobriram que a macrobiota de obesos e diabéticos é diferente daquela encontrada em pessoas saudáveis.
Segundo o professor Mario Saad, coordenador do laboratório, o grupo está buscando entender a obesidade e o diabetes dentro de um processo evolutivo, já que há 50 anos praticamente não havia pessoas obesas. Eles observaram que, uma alimentação saudável e baseada na dieta do Mediterrâneo(leia mais abaixo), por exemplo, melhora a macrobiota intestinal, reduzindo os riscos de a pessoa se tornar obesa e de desenvolver o diabetes.
“Observamos claramente uma relação de causa e efeito. Uma boa alimentação altera a macrobiota e ajuda a prevenir a obesidade. Agora, qual o mecanismo no organismo que faz isso? Isso ainda não entendemos, e é isso que buscamos responder”, afirmou o professor.
Se comprovada mesmo essa influência da macrobiota no desenvolvimento da obesidade e do diabetes, uma das alternativas no futuro seria fazer o transplante de macrobiota (o mesmo que o transplante de fezes), que nada mais é do que transferir a macrobiota de um paciente saudável para um que esteja engordando para melhorar o seu intestino.
“Você extrai o DNA das fezes saudáveis, separa as bactérias fundamentais para o organismo e as infunde no paciente obeso por meio de uma sonda. A ideia é que isso ajude a repovoar o intestino com bactérias boas. O transplante é uma possibilidade, mas ainda vai demorar um tempo até chegarmos lá. O importante é que as pesquisas continuam”, afirmou Saad.