Projeto de replantio de mangue vence competição entre jovens das comunidades tradicionais da Ilha de Maré

Foto: reprodução

Grupo participou de curso de formação de agente ambiental, desenvolvido pelo projeto Corais de Maré com patrocínio da Braskem, e foi estimulado a propor soluções para problemas ambientais da região

Filha de pescador, a marisqueira Talita Maciel conhece a importância dos manguezais como fonte de alimento e renda para a população da Ilha de Maré. Preocupada com a degradação desse ecossistema, ela desenvolveu o projeto Berçário do Mar com a proposta de replantio de mudas de espécies nativas na região. A ideia venceu uma competição entre os jovens das comunidades tradicionais da Ilha de Maré que participaram do curso de formação de agentes ambientais, desenvolvido pelo projeto Corais de Maré. Essa iniciativa é realizada pela empresa Carbono 14 em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA) e com patrocínio da Braskem.

Durante a capacitação, os jovens tiveram aulas sobre ecossistemas com foco em manguezais e recifes de coral, além de debaterem sobre economia circular, reciclagem, empreendedorismo e consumo consciente. O curso também contou com formação para produção de projetos. “Através da reflexão sobre essas temáticas, buscamos mobilizar os jovens para que eles tenham ciência da capacidade de atuação deles e assumam o protagonismo da transformação das comunidades onde vivem”, explica José Roberto Caldas, conhecido como Zé Pescador, CEO da Carbono 14.

“Iniciativas como essa servem para dar uma sacudida na juventude, que muitas vezes reclamam, mas não se mobilizam para resolver. A partir do curso, eles percebem que são capazes de diagnosticar um problema, mas também propor uma solução. Pensar sobre o que de fato podem fazer para mudar a comunidade onde estão inseridos”, complementa Adriana Muniz, socióloga e especialista em educação ambiental e gestão de projetos que ministrou as aulas. Para a gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges, a ação contribui para a formação dos jovens como agentes de multiplicação. “A partir dessa experiência, os participantes podem propagar esse conhecimento, impulsionando o desenvolvimento sustentável da região”.

Simples e prático – O projeto de Talita Maciel foi escolhido pela comissão julgadora, formada por especialistas nas áreas de biologia e educação ambiental. “O trabalho dela se destacou por estar bem estruturado e ser algo factível de ser realizado, que conseguimos executar no mesmo dia. Isso mostra que não precisamos de algo mirabolante ou inédito para contribuir com o planeta. Ações simples também têm impacto positivo no meio ambiente e na comunidade”, acrescenta Adriana.

Além de ganhar um notebook, Talita pode ver a sua ideia sair do papel. “Eu recolhi as sementes do mangue vermelho, coloquei numa vasilha com areia até o dia de executar o projeto. Fizemos a limpeza da área, coletando 182 kg de resíduos e plantando 30 mudas e 20 propágulos. Gostei muito de participar, porque aprendi coisas que não sabia e pude pensar em algo para ajudar nossa comunidade”, conta Talita, que agora já pensa em viabilizar as propostas dos outros jovens que participaram do curso.

Restauração – Além do incentivo à educação ambiental, o projeto Corais de Maré busca restaurar os recifes de corais nativos da Baía de Todos-os-Santos. Para isso, foi desenvolvida uma técnica inédita utilizando plástico e outros materiais recicláveis para potencializar o crescimento da espécie Millepora alcicornis a partir de sementeiras construídas com o uso do esqueleto do Coral-sol, espécie considerada invasora na região. A tecnologia é testada desde março em berçários instalados na Baía de Todos-os-Santos com a participação de pesquisadores, ambientalistas e pescadores.

Com essa ação, o projeto Corais de Maré pretende recuperar parte dos recifes da Baía de Todos-os-Santos, que teve a quantidade de corais reduzida em cerca de 50% desde 2003, conforme levantamento de pesquisadores da UFBA. Esses ecossistemas são essenciais para a biodiversidade, já que abrigam pelo menos 25% das espécies marinhas, além de contribuir para a segurança econômica e alimentar da população das cidades costeiras, de acordo com estudos da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN).

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