Professora negra expulsa de voo ao se recusar a despachar mochila diz: ‘Fiquei bastante abalada’


Samantha Vitena foi expulsa de voo em Salvador — Foto: Reprodução / Programa Encontro

Notebook estava dentro da bagagem da professora. Companhia aérea alegou que medida foi tomada porque passageira colocou em risco a segurança do voo. Mulher expulsa de voo por não despachar mochila fala pela primeira vez sobre o ocorrido

Na última sexta-feira (29) a professora Samantha Vitena, expulsa de um voo da Gol no aeroporto de Salvador .E hoje (1º) de maio a mesma se pronunciou pela primeira vez , após a repercussão do caso e as denúncias de racismo. A companhia aérea alegou que medida foi tomada porque passageira colocou em risco a segurança do voo. A professora expulsa de voo por não despachar mochila fala pela primeira vez sobre o ocorrido no programa Encontro, da Globo, ela diz ainda estar “tentando entender tudo”. “Os testemunhos e vídeos têm me ajudado”, relatou. A professora Samantha Vitena, falou nesta segunda-feira, no Programa Encontro, da TV Globo, sobre a expulsão que sofreu em um voo da Gol Linhas Aéreas, ao se recusar a despachar a mochila com um notebook dentro, na sexta-feira (28).

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“Eu ainda estou tentando entender tudo. Os testemunhos e vídeos têm me ajudado a entender”, disse.

“Eu fiquei bastante abalada com toda essa situação, mas tenho recebido todo suporte e bastante apoio. Ainda não consegui responder todas as mensagens”.

Durante a entrevista, a professora relatou como foi a discussão com o comissário. Veja nos tópicos abaixo:

Comissário pediu para Samantha Vitena despachar mochila;

A passageira disse que não poderia por causa do computador que estava no local;

“Até onde eu sei a gente não pode despachar um laptop, não é recomendado por questão de risco e tudo mais, então falei que isso não seria possível”, relatou.

Após ser expulsa de voo por negar despachar notebook, professora se pronuncia: "Fiquei bastante abalada"
  • Foto: Reprodução/Redes sociais
  • Comissário insistiu para que a professora despachasse a mochila. Ela tentou colocar embaixo do banco, mas não ficou adequado

“Eu falava que não tinha como despachar minha mochila e a gente precisava achar uma outra solução e ele falava: ‘Você precisa despachar, vai ter que despachar”.

  • Samantha se levantou e contou com a ajuda de um passageiro, para colocar a mochila no bagageiro. Para isso, o idoso se ofereceu para retirar uma sacola pequena dele, que estava no local;
  • Em seguida, a professora sentou na cadeira e aguardou o avião decolar.

“Quando os policiais entraram eu não sabia por que eles estavam ali, não poderia imaginar que era por mim. Quando eles olharam pra mim e falaram levante e se retire, eu acredito que qualquer pessoa reagiria dessa forma. Perguntei o que aconteceu, qual o motivo”, contou.

“Quando ele falou do crime, levantei para me retirar e falei para os demais passageiros. Perguntei se eu fiz alguma coisa que me tirasse do avião e as pessoas falavam que eu não tinha feito nada”, contou.

A professora disse que muitas pessoas começaram a gravar a situação e chegaram a dizer que não iam deixá-la descer da aeronave sozinha.

“Começaram a retirar as malas do bagageiro para descer comigo. Isso foi algo que me surpreendeu muito positivamente, me tocou muito e eu queria agradecer essas pessoas”.

No entanto, ela contou que não queria que essas pessoas deixassem de chegar nas suas casas.

“O outro policial me falou: ‘Você não vai conversar com o comandante, me acompanhe’ e aí eu o acompanhei até a delegacia”.

Após o fato, a passageira disse que espera não passar pela mesma situação novamente.

“Espero que isso não volte acontecer, essa história não é só sobre mim, é sobre todas as pessoas que passaram e passam por esse tipo de situação. Espero que essas pessoas sejam responsabilizadas e isso não volte acontecer”.

No domingo (30), a Polícia Federal na Bahia informou que abriu um inquérito para apurar crime de racismo contra a professora. A decisão foi tomada depois que os ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos acionaram a Procuradoria-Geral da República na Bahia e a PF, para que crimes, infrações e ou violações relacionados ao caso fossem apurados.

A PF classificou a retirada da professora Samantha Vitena como “compulsória” e disse que a investigação se manterá em sigilo, até que todo o caso seja apurado.

Em uma nota divulgada no sábado (29), a Gol disse que Samantha acomodou a bagagem em um local que obstruía a passagem, o que trazia risco a segurança do voo. Testemunhas e a defesa do professora negam a informação e afirmam que a mochila foi colocada no bagageiro, depois que outros passageiros ajudaram, porque a tripulação a teria ignorado.

Neste domingo (30), a empresa encaminhou uma nova nota e informou que estará empenhada em colaborar com a investigação da PF, quando for notificada. Disse ainda que segue à disposição das autoridades e que tem contratou uma empresa independente para apurar o caso.

A mochila que Samantha transportava é classificada pela própria companhia aérea, no site, como artigo pessoal, que pode ser armazenado dentro da aeronave, abaixo do assento à frente da poltrona do próprio passageiro

O caso aconteceu em um voo da Gol Linhas Aéreas, que sairia de Salvador com destino a São Paulo. Segundo a jornalista Elaine Hazin, que testemunhou a situação, o episódio foi um fato “extremamente violento de racismo”, e relatou que um tripulante da Gol teria dito: “Se você não despachar, a gente não sai daqui. Ou você despacha ou você sai do voo”.

A defesa de Samantha também aponta racismo estrutural no caso e disse que ela está muito abalada. “A gente está buscando a responsabilização de todas as pessoas que lesaram o direito de Samantha. Isso envolve companhia aérea, pessoas físicas e está no processo de estruturação”, disse Fernando Santos.

Também em nota anterior, a Gol também afirmou que lamenta imensamente a experiência de Samantha no voo, que apura os detalhes do fato e que não tolera qualquer atitude discriminatória. Atualiza Bahia

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