Paulinho Boca de Cantor apresenta novo álbum e sucessos

Foto: Divulgação

Em 1952, Paulo Roberto Figueredo de Oliveira vencia um concurso de calouros realizado na praça pública de Santa Inês, há 300 km de Salvador. Na época, ele tinha apenas seis anos. “Foi a primeira vez que me lembro de ter sido mordido pela mosca branca da música e nunca mais quis saber de outra coisa”, lembra Paulo Roberto. Algum tempo depois, ele ganhou o apelido de Paulinho Boca de Cantor, como é conhecido ainda hoje por todo o Brasil.

Filho de funcionários públicos – o pai, do Tesouro; a mãe, do cartório de registro civil –, Paulinho lembra que em casa todo mundo era apaixonado por música. Além dele e dos pais, eram mais oito irmãos, seis homens e duas mulheres. E entre eles todos, a mãe era a mais afinada, mas só ele quis seguir na carreira musical.

As primeiras experiências no meio musical, após o concurso que o sagrou campeão, foram em Amargosa, cidade para a qual ele e a família se mudaram em 1957, quando Paulinho tinha 11 anos. Lá, ele cantou com violonista em bailes e fez serenata para as primeiras namoradas. Os Figueredo de Oliveira permaneceram pouco tempo na cidade, quando em 1959 migraram para Salvador.

A ida para a capital foi motivada pelos estudos. Paulinho conta que no interior existiam poucas escolas que ofereciam o ginásio na época: “Em Amargosa até tinha, eu consegui estudar lá”. Já em Salvador, ele e todos os irmãos precisaram trabalhar para ajudar com as despesas de casa. O pai conseguiu ser transferido, mas a mãe de Paulinho não, por isso passou a trabalhar de casa, fazendo pastéis para vender na rua. Quem fazia a venda era Paulinho.

“Saía com as latas de pastéis penduradas, eu era magro, pongava no bonde, e ia até a Rua Nova de São Bento, entregando pastéis nas lanchonetes. A coletoria do meu pai era lá, e como tinha um carro que o levava e trazia, eu deixava as latas lá na volta e vinha curtindo pela Avenida Sete, vinha andando até o Santo Antônio, gastando o dinheiro dos pastéis da minha mãe, tomando sorvete, brincando. Era uma vida maravilhosa”, lembra o artista.

Ensaios

Na época, eles moravam na Soledade. Entre as moradas da família, também estão a Rua Direita de Santo Antônio, onde também morava Gilberto Gil na época, e depois foram para a Rua 8 de Dezembro. Foi nessa mudança que ele conheceu a Associação Atlética da Bahia, na qual se filiou e deu os primeiros passos como profissional de música.

Paulinho passou a ensaiar na Carlito e Sua Orquestra, lá virou amigo dos músicos e teve a primeira chance para cantar com eles. Começou a frequentar os bares com os artistas, até que o cantor que estava na orquestra saiu e ele entrou. Foi a partir de então que surgiu o apelido Boca de Cantor. “Surgiu antes dos Novos Baianos, é de 1963”, conta Paulinho.

Carlito, que dava nome à orquestra, saiu da banda e a mesma passou a se chamar Orquestra Avanço, que além de Paulinho incluía os músicos Perinho Albuquerque, Moacyr Albuquerque, Tuzé de Abreu, Tuti Moreno e Valmir Andrade. Todos seguiram carreira mesmo após o fim da banda e tocaram no antológico espetáculo Nós, por exemplo, no Teatro Vila Velha.

Foi por conta da Orquestra Avanço, numa das festas realizadas na casa de Tuzé de Abreu, que Paulinho conheceu Moraes Moreira e Galvão, à época apenas uma dupla de compositores que estava fazendo músicas para outros cantores.

 A aproximação foi imediata e, em 1969,   já com Baby e Pepeu no grupo, realizaram juntos o show Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal, também no Teatro Vila Velha. A partir daí, pensaram numa carreira.

F oram para o Rio de Janeiro e lá conheceram João Araújo, pai de Cazuza e produtor da gravadora RGE, por indicação de Tom Zé. Foi somente na apresentação do grupo no Festival de Música da TV Record que surgiu o nome Novos Baianos. O resto é história.

Solo

A banda que fez muito sucesso durante os 10 anos em que existiu, projetou o nome de seus integrantes que ainda hoje produzem, lançam novos álbuns e realizam shows por todo o Brasil e exterior. O primeiro disco individual de Paulinho, inclusive, data de 1979. Nesses anos de carreira solo, ele já perdeu as contas. São mais de 20 discos lançados.

Em 2021, junto com o filho, o pesquisador e produtor musical Betão Aguiar, ele colocou no mundo seu trabalho mais recente, o Além da Boca, onde ele reúne músicos como Edgard Scandurra, Curumin, Pupilo e Manoel Cordeiro, além das participações especiais de Anelis Assumpção, Zeca Baleiro e Tim Bernardes.

“A ideia do meu filho era transformar numa grande jam session. Começamos a convidar as pessoas e todos os músicos – não digo que fiquei surpreso –, tinham a gente do Novos Baianos como referência. Criamos juntos, passamos momentos especiais juntos. Tem músicos excelentes”, conta Paulinho.

Nos próximos dias 14 e 15 de outubro, às 20h30, Paulinho leva o show do Além da Boca para o palco do Wish Hotel da Bahia, dentro do projeto Estação Rubi, e convida a cantora Anelis Assumpção para se juntar a ele. “É um show mais intimista, vamos fazer uma festa legal”, antecipa Paulinho. “Convidei Anelis, parceira da música Eu Vou Deixar Essa Canção no Ar. Disse a ela que no lançamento da Bahia a convidaria”.

Para a cantora paulista, é “um prazer, uma honra, uma felicidade e um aprendizado” poder cantar e compor com Paulinho, a quem ela atribui o título de figura importante para a música brasileira. “É um ídolo, uma referência de musicalidade, de música livre, de liberdade, expressão e é muito importante, sempre, a gente olhar para nossas bases, as fontes que matamos nossas sedes de criatividade, e o Paulinho é inesgotável e regado de ideias, saberes e de uma musicalidade que o Brasil precisa olhar. E mais do que resgatar, admirar”, afirma Anelis.

Paulinho pede que aqueles que queiram assistir aos shows, que façam suas reservas antecipadamente “porque o lugar é pequeno e para os melhores lugares, é melhor garantir logo”. O couvert para cada noite custa R$ 100. *A Tarde

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