Moacir Saraiva: “A esperteza do neto”

O avô já com mais de 80 anos, senhor de si, serelepe, ainda dirigindo seu automóvel, administrando suas contas e gerenciando muito bem sua casa e seu sítio. No entanto, apresentava um problema que, esporadicamente, surgia: o esquecimento das datas, isso o deixava tenso. Só após alguns momentos, não muito curtos, conseguia lembrar-se do dia, utilizando algumas associações tendo como referência os domingos. 

Os domingos eram muito importantes para ele, porque passava o dia todo com os três netos, era o dia em que voltava a ser criança, os meninos entre 4 e oito anos iam para o sítio e era só alegria para todos. Aí, ele fazia todas as vontades dos pequenos, até mesmo contrariando o filho, a filha, o genro e a nora. Os meninos chegavam no sábado à tardinha e só voltavam para suas casas no domingo à noite. 

Os filhos, a cada fim de semana, iam e levam os netos para fazerem companhia ao pai, porque há três anos, ele enviuvara e passou por momentos difíceis, pois perdeu a esposa já com mais de 50 anos de vida a dois, assim, agora, todo o amor que devotava à esposa era revertido para os netos. 

Mesmo com os lapsos de esquecimentos das datas, era um inventor de brinquedos e de brincadeiras para trazer mais alegria à netaiada, não esquecia um só detalhe para tornar os brinquedos atrativos e os momentos de peraltices em situações prazerosas. Essa estratégia enchia o coração dos meninos de alegria e de admiração pelo avô, eles ficavam rezando a semana toda para chegar o domingo. Esse dia era tão importante que eles o chamavam “O Domingo do Vovô”.

O avô sabia exatamente o que cada neto gostava para o café matinal, assim, ele preparava com esmero as guloseimas preferidas por eles e, algumas vezes, ainda era assessorado pelo menino mais velho. Eles gostavam de omelete, o senhor inventava receitas as quais caiam no gosto da meninada. Tapiocas com recheios diferentes eram apresentadas aos meninos, enfim, o café da manhã era o manjar do avô. 

Em um domingo de dezembro, após o café da manhã, ainda na mesa começaram a conversar e o avô foi perguntado por um dos filhos que dia do mês era aquele, o senhor, vasculhou a mente e não conseguiu se lembrar. O filho pediu que quando tivesse dúvida olhasse no celular. O nonagenário ficava triste quando esses esquecimentos vinham à tona. Eles estavam se tornando cada vez mais frequentes.

Mas logo o semblante do avô voltou ao normal pelas brincadeiras puxadas pelo neto mais velho. Nesse ínterim, o mais novo saiu do recinto, demorou cerca de 5 minutos e ao voltar trouxe uma folha de papel e uma caneta, se aproximou do avô, o entregou esses dois materiais e lhe disse:

– Vovô, anote o que vou dizer para o senhor se lembrar:

O avô recolheu a folha de papel, a colocou sobre a mesa e ficou com a caneta na mão esperando o que o neto iria ditar para ele escrever. O pimpolho pausadamente falou:

– Daqui a dez dias é o dia 25 de dezembro e é dia de dar presentes para os netos.

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