Março Lilás: Norte e Nordeste lideram casos de Câncer de Colo do Útero

Foto: Freepik

Com incidência da doença acima da média mundial em 4 das 5 regiões brasileiras, especialista destaca a importância da vacinação dos adolescentes contra o HPV para a redução dos casos
 

Março Lilás é o mês da Conscientização e Combate ao Câncer de Colo do Útero. Sendo o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres (excluindo os casos de tumores de Pele Não Melanoma), a doença é causada por uma multiplicação anormal das células na parte inferior do útero chamada “colo”. Dentre os 483 mil novos casos de câncer estimados pelo INCA no ano de 2023, 17 mil serão de Colo do Útero. No entanto, a doença pode ser prevenida — e até erradicada — por meio da vacinação contra os tipos mais prevalentes de papilomavírus humano (HPV) e do rastreamento e tratamento precoce das lesões causadas pelo vírus. A vacinação protege contra os tipos de HPV que causam verrugas genitais, responsáveis por cerca de 70% dos casos de Câncer de Colo do Útero. A versão mais recente do imunizante pode evitar até 90% dos casos da doença entre os imunizados.

Quase todos os casos de Câncer de Colo do Útero são causados pela infecção do HPV, que é transmitido na relação sexual. A maioria das pessoas tem contato com esse vírus ao longo da vida, mas quase sempre ele é eliminado naturalmente. No entanto, se a infecção persistir, após vários anos podem aparecer lesões que, se não tratadas, podem causar câncer. Aproximadamente 80% dos casos surgem de células que revestem a parte inferior do colo do órgão. Os demais são, em grande parte, de adenocarcinomas que se manifestam em células glandulares no Colo do Útero superior. A doença é geralmente curável quando detectada precocemente e gerenciada de forma eficaz, mas as opções de tratamento são mais limitadas em estágios avançados. Quando diagnosticada na fase inicial, as chances de cura chegam a 100%. Contudo, ela é silenciosa em seu início. Sinais e sintomas como sangramento vaginal, corrimento e dor aparecem somente em fases mais avançadas da doença. Por isso a importância do exame preventivo, o papanicolau7.
 

Angélica Nogueira Rodrigues
MD-PhD em oncologia clínica e com pós-doutorado em oncologia pelo MGH/Harvard University, é idealizadora e membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA)

“É necessário conscientizar a população sobre a prevenção do Câncer de Colo do Útero, que pode ser realizada por meio da vacinação contra o HPV e é hoje disponível no SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos. Infelizmente, a cobertura vacinal ainda é baixa. Embora a meta de imunização para 2022 seja de 90%, a cobertura vacinal no ano passado alcançou 75,81% entre as meninas e apenas 52,16% dos meninos. Vacinar os meninos também é uma medida importante para ampliar a proteção às futuras mulheres e interromper o contágio. Com a população imunizada, a expectativa é que a incidência diminua, até a possível erradicação da doença, quando causada pelo HPV.”

A incidência do Câncer de Colo do Útero no Brasil é outro ponto a ser destacado. Ela está acima da média mundial em 4 das 5 regiões brasileiras. No Norte e no Nordeste, é o segundo tipo mais encontrado, com 20,48 e 17,59 casos a cada 100 mil mulheres, respectivamente. No Centro-Oeste, é o terceiro mais diagnosticado, com 16,66 casos a cada 100 mil. No Sul, a doença ocupa a quarta posição, com 14,55 por 100 mil. Finalmente, no Sudeste, é o quinto tipo mais diagnosticado, com 12,93 casos a cada 100 mil mulheres3. Já na projeção global, o Câncer de Colo do Útero foi o quarto mais frequente em mulheres em todo o mundo, com uma estimativa de 604 mil novos casos, representando 6,5% de todos os tipos de câncer femininos. Esse valor corresponde a um risco estimado de 13,30 casos por 100 mil mulheres3.
 

Para acelerar a eliminação da doença como um problema de saúde pública, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe diversas metas para serem alcançadas até 2030, como a imunização contra o HPV de 90% das meninas com 15 anos, a realização de exames de rastreamento para diagnóstico precoce de 70% das mulheres entre 35 e 45 anos e identificação e tratamento de 90% das mulheres que tenham histórico de lesões e câncer3.
 

Angélica Nogueira Rodrigues
MD-PhD em oncologia clínica e com pós-doutorado em oncologia pelo MGH/Harvard University, é idealizadora e membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA)
 

“A vacinação e a realização dos exames preventivos são essenciais para a prevenção e o diagnóstico precoce da doença, especialmente porque os sintomas iniciais são discretos e, geralmente, imperceptíveis. Com o avanço da doença, podem aparecer sangramentos fora do período menstrual, dor e corrimentos. No entanto, esses sintomas são também comuns a outras doenças. Por isso, é essencial que mulheres entre 25 e 64 anos que já tiveram atividade sexual realizem o papanicolau a cada três anos e que os adolescentes sejam vacinados.”

Além da infecção pelo HPV, existem outros fatores de risco para o desenvolvimento do Câncer de Colo do Útero ligados à imunidade, genética e comportamento sexual. Tabagismo, iniciação sexual precoce, pluralidade de parceiros sexuais, múltiplas gestações e uso de contraceptivos orais também são consideradas condições agravantes. A idade também é um fator relevante, visto que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que, acima dessa idade, a persistência é mais frequente.

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