Mães trabalhadoras: Como conciliar cuidados com os filhos e as atividades laborais, sem prejudicar a saúde mental e o bem-estar?

Ana Paula Teixeira – Médica do trabalho, especialista em Saúde e Bem-estar

Todo dia é assim: acorda, prepara o filho para a escola e se arruma para o trabalho. Essa realidade é de muitas mães solo, como também para aquelas que possuem apoio familiar. Toda essa rotina, que se desenha a cada raiar do sol e encerra quando é hora de ir para casa, acaba sendo atropelada quando algum incidente faz com que haja a fuga do padrão: uma queda da criança no colégio, um mal-estar súbito, uma briga ou até mesmo uma doença.

Essas notícias chegam de forma repentina e, da mesma forma, é capaz de paralisar um indivíduo, elevando o hiperfoco com relação a situação e transformando um ser produtivo em uma ‘máquina’ – ainda mais quando se tem muito trabalho e pouco tempo para entregar. “Conciliar as duas “funções”, mãe e profissional, não é tarefa fácil. Algumas mães não têm com quem deixar seus filhos depois da escola, ou pagam babá para que os cuidados sejam feitos e, ainda assim, muitas se sentem inseguras”, afirma a médica do trabalho e conselheira consultiva especialista em saúde, Ana Paula Teixeira.

Ela afirma ainda que situações como essas devem ser evitadas com gestos simples dos empregadores, como uma iniciativa de criar um espaço reservado para filhos de trabalhadoras: brinquedoteca, sala de jogos, biblioteca e até um espaço para reforço escolar incluindo creches. “Efetivamente é um investimento que demandará levantamento da demanda, planejamento, contratação de profissionais e controle dos custos, mas pensando a longo prazo proporcionará segurança, paz e tranquilidade para essas mães. As iniciativas existentes revelam que o retorno vale a pena, Ou seja, é positivo para a colaboradora e também para a empresa. É uma iniciativa que todos ganham ao final”, afirma Ana Paula Teixeira.

Consultoria

Profissionais da Medicina do Trabalho também podem auxiliar quando o assunto é alertar os empregadores através da consultoria, já que podem sugerir práticas motivacionais, de alívio do estresse e, até mesmo, de relaxamento como atividade laboral; bem como instruções ou soluções para serem dadas caso a caso, já que cada ser é único – principalmente em situações em que o filho tiver algum tipo de deficiência que necessite uma maior atenção. Um psicólogo também pode ajudar a atenuar sentimentos reclusos e de culpa excessiva.

“O grande cerne da questão é não se preocupar excessivamente com a ausência. O mundo e as relações sempre giraram desta forma. As crianças, que ficavam com vizinhas, tias ou até brincando na rua, não podem mais fazer o mesmo, especialmente nas capitais. E isso se deve, inclusive, pela percepção de que nossos vizinhos não são confiáveis, já que tendemos a estabelecer um vínculo superficial com eles. Além do mais, com a sensação de que a violência se agrava, não nos sentimos seguros de mandar as crianças nas ruas à vontade como antes. Com todo esse misto de pensamentos, surgem a angústia e a culpabilidade. Algumas mães chegam a dar mais presentes, fazer mais vontades, enfim, trocam o presencial pelo material – o que não resolve o caso”, detalha a especialista.

A médica conta que é preciso fazer as crianças entenderem a situação, logo em que consigam de fato ter essa noção. De acordo com Ana Paula Teixeira, é importante que o filho saiba que o trabalho da mãe é importante para sua realização pessoal e, também, ajuda a manter a casa e tudo que ele tem, inclusive os jogos, os doces, possíveis mordomias etc – sem fazer promessas. Também é necessário criar vínculos dessas crianças e outras pessoas que não sejam só os pais, mas que sejam de confiança, para que ambos fiquem aliviados em situações extremas. A inteligência emocional também ajuda muito nesse processo e as brincadeiras com os filhos são caminhos efetivos para esse desenvolvimento.

Preocupação excessiva é sinal de alerta

* Muito da preocupação excessiva tem como origem a percepção, por parte dos pais, que os filhos não entendem o que eles estão querendo dizer ou mesmo o que sentem.

* As mães com ansiedade em relação ao cuidado dos filhos, assim como em relação à educação e socialização, é um problema cada vez mais comum. O medo é uma das causas do problema, pois os pais vivenciaram um mundo diferente do que os filhos encontrarão, e isso gera angústia e apreensão.

* Os filhos “absorvem” tal ansiedade e passam a considerar todos os medos e angústias dos pais, ou seja, começam a enxergar que o mundo é realmente um bicho de sete cabeças.

* A ansiedade dos pais pode chegar nos filhos e esse é o grande problema. Em todo o mundo, não são raros os casos de ansiedade infantil em criações novas e também em adolescentes. Um quadro que precisa ser corrigido com a ajuda de profissionais, afinal a ansiedade pode prejudicar diretamente o desenvolvimento emocional e social de um indivíduo.

Culpabilidade em números

Um estudo revelou que 51% das mães brasileiras sentem culpa na maternidade. Elas se sentem culpadas em relação aos bebês, por acharem que poderiam fazer mais por eles. Algumas também têm o sentimento de quererem voltar à vida que tinham antes do nascimento da criança. A amostra também revelou a sensação de culpa ainda mais intensa em mães solo: 65%.

Para além disso, quando questionadas se concordavam ou não com a frase “me sinto julgada como mãe”, 42% responderam que sim. Os dados fazem parte da pesquisa “Parentalidade Real” realizada pelo instituto On The Go e encomendada pela Huggies. O estudo, que contou com 1.010 mães e pais de 25 a 40 anos de todo o Brasil, foi realizado em fevereiro deste ano. Segundo os realizadores, a amostra é representativa do país.


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