Jovens empreendedores encontram dificuldades na hora de gerir e expandir os seus negócios.

Jovens empreendedores encontram dificuldades na hora de gerir e expandir os seus negócios.
Ter um negócio de sucesso é o sonho dos jovens empreendedores, mas será que eles estão preparados para as dificuldades de empreender?
Nos últimos anos, o Brasil vem se destacando como um dos principais protagonistas no cenário global do empreendedorismo. Com uma população ávida por oportunidades, o país viu surgir um número significativo de novos empreendedores, conforme revelado pela recente pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). O Brasil figura entre os dez países com maior índice de empreendedorismo, são cerca de 14 milhões de empreendedores, o que representa 9,9% da população adulta.

O mercado de trabalho fragilizado é um dos fatores que impulsiona os jovens brasileiros a buscarem empreender, seja pela busca por independência financeira, mais autonomia, flexibilidade de horário ou pela oportunidade de oferecer produtos/serviços inovadores.
No entanto, por trás desses números promissores da pesquisa, existem desafios significativos. Muitos empreendedores jovens enfrentam dificuldades na gestão e expansão de seus negócios.

Renan Kaminski, CMO e sócio da empresa 4blue, especialista em gestão de pessoas e processos, ressalta: “Muitos começam seus empreendimentos sozinhos devido à falta de capital para investir, o que muitas vezes resulta em desafios na gestão e nos processos do negócio.”
José Augusto, empreendedor de 33 anos, viu seu sonho de abrir uma cervejaria com os amigos se tornar um problema.

“Nós fizemos investimentos significativos em uma fábrica própria, adquirimos maquinário e realizamos reformas no imóvel para atender às especificações do nosso negócio. No entanto, com a chegada da pandemia da Covid-19, nos vimos obrigados a operar exclusivamente através do serviço de entrega por um período de um ano e meio. Mesmo com a retomada do mercado, nunca conseguimos recuperar completamente nossa posição anterior, principalmente devido à intensa concorrência de novas cervejarias artesanais e ao aumento exorbitante dos preços dos insumos”, conta.
Hoje, após 5 anos da abertura de seu empreendimento, José Augusto precisou recorrer novamente ao trabalho de carteira assinada para conseguir sobreviver e continuar pagando as contas do empreendimento.


“Ao avaliar o cenário da cervejaria e sua subsequente dificuldade após a pandemia, fica evidente a armadilha de investir pesadamente em um mercado inflado por circunstâncias momentâneas, como o boom do consumo durante a crise sanitária. Este exemplo ilustra a importância de uma análise criteriosa antes de expandir um negócio, destacando a necessidade de considerar a sustentabilidade do mercado a longo prazo e explorar alternativas estratégicas, como parcerias ou otimização de fornecimento, para evitar o risco de investimentos excessivos em uma única empreitada.” – avalia Dema Oliveira, CEO da Goshen Land e especialista em expansão de negócios.
 
A falta de planejamento e pesquisa de mercado na hora de abrir e investir em negócios, além de fatores imprevisíveis, faz com que muitos jovens não consigam crescer e expandir.

O especialista em expansão, Dema Oliveira, explica que para analisar o momento adequado de expandir o seu negócio é essencial sintonizar-se com os sinais que o mercado apresenta. Quando seus clientes começam a demandar seu produto em novas regiões, isso indica uma oportunidade de crescimento horizontal. Além disso, a autoavaliação é crucial; se você acredita ter alcançado o máximo potencial e domina o mercado, talvez seja hora de considerar a aquisição de concorrentes ou o desenvolvimento de novos produtos e serviços. Esses são os primeiros indícios de que chegou o momento de expandir.

“A expansão de um negócio não se resume apenas a seguir um plano pré-estabelecido, mas sim a estar atento aos sinais do mercado e agir com assertividade quando surgem oportunidades. Entender os pedidos dos clientes em novas regiões, realizar uma autoavaliação realista do potencial do negócio e explorar diversas formas de crescimento são os primeiros passos para identificar o momento propício para expandir.” – comenta Dema Oliveira.
Na expansão de um negócio, é essencial agir com prudência e estratégia. Antes de dar o próximo passo, avalie se sua base está sólida, como lucros consistentes, vendas estáveis e boa performance. Não expanda por impulso ou para fugir de problemas. Entenda para onde está indo e escolha o momento certo. Considere opções como comércio eletrônico ou franquias, mas sempre com análise cuidadosa.

“Expansão é como pular de paraquedas: coragem é importante, mas é essencial garantir que o paraquedas funcione. Avalie os riscos, verifique os retornos e escolha o momento certo para dar o salto. Com cuidado e análise, seu negócio pode alcançar novos horizontes. O erro está em não saber para onde você está indo, em não ter um objetivo claro em mente. Na hora de expandir, é crucial verificar se você está expandindo algo que já está dando retorno. Muitas vezes, as pessoas estão indo mal em seus negócios e ainda querem expandir através de franquias, por exemplo. Você só deve expandir o que está indo bem, o que tem potencial para crescer ainda mais. Bons lucros, boas vendas, boa performance são indicadores-chave.” – explica Dema Oliveira

Um dos grandes pontos observados ao conversar com esses jovens empreendedores é que muitos não sabem precificar seus produtos e serviços, e reclamam que, ao cobrarem um valor justo, o consumidor não quer pagar, o que os força a manter uma margem de lucro muito abaixo do esperado e, às vezes, não conseguem fazer uma reserva para possíveis problemas, manutenções e investimentos.


“O preço errado é o atestado de falência do seu negócio. E dentro da gestão financeira, com certeza, a precificação é a parte mais difícil porque envolve vários fatores financeiros, matemáticos e mercadológicos”, explica Renan Kaminski.
Marcos Paulo, que tinha uma doceria em casa, resolveu expandir seu negócio para uma loja física em 2023 e, apesar do investimento de mais de 300 mil reais, enfrentou um momento difícil para fazer a loja vender o suficiente, compensar o valor total investido e bancar os custos de sua loja física.

“Com a crescente popularidade do serviço de entrega, é evidente que menos pessoas optam por visitar uma loja física para desfrutar de um doce e uma xícara de café. Elas preferem desfrutar desses produtos no conforto de suas próprias casas. Isso significa que o mercado está se tornando cada vez mais competitivo. Além disso, enfrentamos desafios adicionais, como os altos custos de operação de um espaço físico, os investimentos necessários em marketing digital para manter presença nas redes sociais, e garantir insumos de qualidade para atender a uma clientela cada vez mais exigente, mesmo em meio a um cenário em que o poder de compra está diminuindo”, observa Marcos.

“Ao planejar a expansão de uma doceria, é crucial considerar a jornada empreendedora do proprietário, especialmente se ele tiver pouca experiência no ramo. É essencial compreender o perfil do cliente, incluindo sua localização e preferências de consumo. Manter consistência nos produtos entre o delivery e a nova loja física é fundamental, assim como estabelecer uma comunicação eficaz para atrair os clientes certos. Uma abordagem gradual e cautelosa, aprendendo com erros e acertos, é recomendada antes de investimentos significativos, garantindo o sucesso da expansão.” – avalia Dema Oliveira.

O especialista Renan Kaminski expõe que toda empresa é composta por seis grandes engrenagens: finanças, estratégia, marketing, vendas, pessoas e processos. “Para aumentar a performance como um todo, você precisa estar muito atento ao financeiro, porque se você está com um balde furado, não adianta, você vai encher de água e o balde vai continuar vazando, sem chegar ao seu objetivo”, afirma.

Em grande parte, os jovens acabam optando por abrir seu negócio sem ter o conhecimento necessário das necessidades básicas de uma empresa, como gerir, administrar, precificar, impostos, insumos e custo operacional, motivados pela necessidade de sobreviver e ter qualidade de vida. Muitos precisam ajudar nos custos de casa, pagar faculdade, plano de saúde, ajudar a família e acabam vendo no empreendedorismo a oportunidade de uma vida melhor.

“A maioria de nós não foi educada para saber lidar com dinheiro, para ter sucesso, para ser rica e assim por diante. A maioria de nós tem crenças financeiras limitantes. Então, não tem outro caminho, o jovem empreendedor vai ter que estudar, vai ter que se capacitar, vai ter que entender o seu comportamento financeiro pessoal e vai ter que aprender as técnicas financeiras para o negócio, porque do contrário, vai vender, vai vender, vai vender e não vai ver a cor do dinheiro”, comenta Renan Kaminski.

A força que o empreendedorismo jovem vem adquirindo está relacionada à globalização do mundo dos negócios e ao desenvolvimento de novas ferramentas tecnológicas, que possibilitam criar suas próprias oportunidades, abrindo espaço para a criação de empresas em diferentes setores.


Camila Ferreira

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