Indígena do Xingu produtora de chocolate é uma das atrações de Festival em Salvador

Chocolate Indígena


Indígena do Xingu produtora de chocolate
é uma das atrações de Festival em Salvador

Evento tem início nesta quinta-feira, dia 14, no Centro de Convenções Salvador

A indígena Katyana Xipaya, de 36 anos, é uma das convidadas do Chocolat Salvador 2024, Festival Internacional do Chocolate e Cacau que acontece até domingo (17) no Centro de Convenções Salvador. Além de indígena e líder da comunidade Ribeirinha de Jericoá 2, na região da Volta Grande do Xingu, no Sudoeste do Pará, Katyana é produtora agrícola e dona da marca de chocolate Sidjä Wahiü, que significa mulher guerreira na língua indígena.

“Indígena, mulher, agricultora e poder ganhar meu próprio sustento e trazer soluções para a sobrevivência da minha comunidade. Isso mudou minha forma de ver a vida e podemos mostrar para outras comunidades que a vida não é só a que a sociedade impõe. O indígena quer trabalhar e se sustentar. E tenho certeza que o chocolate que estou produzindo é de alta qualidade, vai levar a cultura indígena e as riquezas da Amazônia e a força da Natureza para lugares que nem imagino”, afirma Katyana.

Há sete anos, Katyana perdeu seu avô, então líder da Comunidade Jericoá, na região da Volta Grande do Xingu, e passou a se preocupar em formas para prover a sobrevivência de sua comunidade. Ela viu na agricultura a capacidade de se desenvolver e empreender. Através do programa Belo Monte Empreende, promovido pela Norte Energia, concessionária da usina Belo Monte, em parceria com o Centro de Empreendedorismo da Amazônia (CEA), Katyana recebeu o treinamento para abrir seu negócio e o suporte financeiro para desenvolver a marca e o design da embalagem de seu chocolate.

O chocolate que Katyana está produzindo é um chocolate intenso, com 72% de caucau e 15% de frutas secas oriundas de sua terra. A desidratação das frutas, ela aprendeu a fazer com o avô. Das lavouras da comunidade de Katyana são colhidos tanto o cacau como frutas como abacaxi, pitaia e banana.

Mas o que tem de tão especial no cacau da Amazônia e que vem despertando o

interesse do mercado global? De acordo com especialistas em cacau, ou os chamados classificadores, o cacau nativo da Amazônia tem propriedades sensoriais (organolépticas), que são características específicas de substâncias puras e de alimentos, um grande diferencial para o resultado do produto final.

Além de ajudar a desenvolver a região, a produção sustentável de cacau feita pelos indígenas tem recuperado florestas degradadas na região amazônica, pois aplica sistemas agroflorestais combinados com cultivos de mandioca, banana, cupuaçu, açaí, além de manejo de madeira, como o cedro-cheiroso e o mogno. O resultado é a recuperação dessas áreas, cuja maior parte foi convertida de pastagens, com a redução do fogo e do desmatamento na região.

A fruta cresce grudada no tronco do cacaueiro, e a colheita é feita manualmente com a ajuda de podão de cacau (uma ferramenta específica para cortar a planta). A amêndoa da fruta é matéria-prima para a produção de chocolates. Normalmente quatro anos depois do plantio a produção está apta para a colheita. Após, o fruto nasce todo ano.

De acordo a classificadora de chocolate da Cacauway, os critérios para um bom cacau começam na lavoura com colheita, com fruto na maturação ideal e na cor amarelo ouro, seguem para o processo de fermentação que vai de sete a oito dias e na sequência são colocados para secar ao sol. Só após, o cacau é levado para a fábrica de chocolate, onde passa por rigorosa avaliação de qualidade e pelo crivo do classificador, que observa também aparência e aroma. A etapa seguinte é o processo de fabricação.

Estudo da Embrapa e instituições parceiras comprovou que a expansão sustentável do cacau tem sido extremamente benéfica para a Amazônia, integrando geração de emprego e renda à preservação da floresta e a rota do chocolate é também um atrativo para o turismo. Paralelamente ao fato de o Pará ser hoje o maior produtor nacional desse fruto, com um rendimento superior a 50% do total movimentado no País – R$ 1,8 de 3,5 bilhões -, 70% do cultivo é feito em áreas degradadas, majoritariamente por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais.

Maria Eduarda Martinez

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