Copa do Mundo: Especialistas alertam para o aumento de problemas auditivos nesta época

Foto: reprodução

Coincidentemente ao evento, campanha Novembro Laranja chama atenção para o zumbido e outras intolerâncias sonoras

Entre todas as campanhas de saúde pública que ocorrem neste mês, uma delas merece destaque especial porque trata da conscientização sobre o zumbido, problema que pode aumentar muito em decorrência da realização da Copa do Mundo. Criada, em 2006, pela professora e médica Tanit Ganz Sanchez com o intuito de realizar ações voluntárias de divulgação do assunto, a Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido saiu de um único dia para, a partir de 2014, alertar também sobre a misofonia (um tipo crescente de intolerância a sons baixos e repetitivos) e a hiperacusia (condição caracterizada por uma maior sensibilidade a certas frequências e volumes de som, sendo um aumento da acuidade auditiva), recebendo o apelido de Novembro Laranja.

A exposição contínua a sons altos, como os fogos de artifício, pode gerar danos permanentes à audição. Apesar de serem tradicionais em festas e celebrações, o barulho pode atingir de 150 a 175 decibéis. Para adultos, o máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são 140 decibéis. Em crianças, o valor indicado é apenas de 120. Consequentemente, a exposição aos fogos de artifício, bombas e rojões é perigosa.

“O ouvido humano tolera sons entre 80 a 85 decibéis por um período entre 06 e 08 horas. Acima desse nível e por mais tempo são altamente lesivos para audição. As grandes explosões, de 110 e 120 decibéis, lesam o ouvido interno de imediato. E essas perdas vêm sempre acompanhadas de zumbido em 85% dos casos, o que sinaliza para um sintoma auditivo”, explica o otorrinolaringologista Milton Pamponet, da Otorrino Center, empresa que integra o Grupo H+Brasil, uma das maiores holdings de saúde do país na área de multiespecialidades.

De acordo com ele, essa informação torna-se mais relevante, pois estamos em pleno período de Copa do Mundo, quando fogos, rojões e todo tipo de artefato sonoro são usados em larga escala pelo povo brasileiro e podem causar perda auditiva temporária ou definitiva. Segundo o otorrinolaringologista, é frequente que, no período de festas, ocorra a perda de audição unilateral, em apenas um dos ouvidos, que também deve ser estudada por um profissional da área.

Os sintomas de distúrbios no ouvido causados pelo barulho intenso dos fogos de artifício são imediatos. O sinal mais recorrente é o zumbido, transtorno que atinge milhões de pessoas no mundo e acontece quando a pessoa escuta constantemente um som ou barulho incômodo, que pode vir na forma de chiados, apitos, cliques ou estalos, por exemplo. “Esses barulhos podem ser leves, sendo ouvidos somente durante o silêncio, ou mais intensos, a ponto de persistirem durante todo o dia”, explica o especialista. Para ele, os desvios de coluna, alterações cardiovasculares, diabetes, disfunções da articulação da mandíbula e consumo excessivo de cafeína, álcool e tabaco são alguns dos causadores do incômodo.

“A impressão de que o zumbido atinge mais os idosos é falsa, mas tem uma explicação real, pois cerca de 90% dos casos têm como causa principal a perda auditiva”, afirma. De acordo com ele, se a duração do zumbido nos ouvidos for superior a três semanas, é importante se atentar se há outros fatores associados, como sensação de ouvido entupido, perda de audição e tontura, entre outros. Os casos mais comuns de zumbidos e traumas acústicos atendidos são de jovens que utilizam muito o fone de ouvido com o sol mais alto e por longos períodos de tempo em celulares e games, que gostam de baladas ou tocam em bandas, assim como artistas de todas as idades e pessoas que moram ou trabalham em regiões com alto índice de poluição sonora.

Para o otorrinolaringologista Milton Pamponet é preciso observar reações como a sensação de pressão nos ouvidos, irritação com sons altos e dificuldade para escutar: “Caso os sintomas permaneçam, é necessário procurar o mais breve possível um otorrinolaringologista para realizar a avaliação do dano”.

Surdez a médio e longo prazo

Considerada como um dos mais sérios problemas auditivos, a surdez pode ser gerada por alguns distúrbios que afetam o ouvido interno, entre eles: degeneração própria do envelhecimento (presbiacusia), trauma sonoro, infecções graves, traumas de crânio com fratura do osso temporal, Síndrome de Meniere, tumores e surdez decorrentes do ouvido médio e externo.

Estudos da OMS de 2018 apontavam para 466 milhões de pessoas no mundo com problemas auditivos, sendo 34 milhões crianças. Com base na evolução destes dados, estima-se que 900 milhões de pessoas possam ter surdez até 2050, quase o dobro da quantidade atual. Atualmente, no Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência auditiva e, entre os fatores que explicam o aumento de casos está o envelhecimento da população e a falta de prevenção, principalmente na infância, onde 60% dos casos poderiam ser prevenidos.

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