Colunista Moacir Saraiva: “O pânico instalado pelo latido dos cães”

         Dois primos moravam na mesma casa em uma comunidade pequena onde todos se conheciam, se visitavam, era uma comunidade bem entrosada, fora esses dois sujeitos que não mantinham o mesmo grau de aproximação comum entre os demais, limitavam-se apenas ao cumprimento seco aos demais moradores.  Deles, os demais tinham poucas informações, sequer sabiam da ocupação laboral desempenhada pelos estranhos.

         Em uma sexta, pela madrugada,uma noite de uma chuva fina, conhecida como chuva de enganar besta, alguns barulhos estranhos acordaram os moradores, paralelo a isso,os cachorros da comunidade latiram bastante, foram ouvidos, além de dois tiros, poucos gritos e pisadas de poucas pessoas correndo, tudo foi tudo muito rápido, logo a situação se acalmou. No entanto, durante esse movimento, alguns moradores passaram mal, uns tiveram de correr para o banheiro pois a barriga desafrouxou, outros se esconderam sob a cama, enfim, a maioria perdeu o tino, pois foi a primeira vez que tamanha desordem se abateu sobre aquele pacatogrupo. Após longos minutos, um vizinho acendeu a luz, depois outro, mais outro e começaram a olhar a rua por janelas entreabertas e até pela fechadura das portas, pois o movimento externo instalou pânico em todos. Já amanhecia, quando um morador abriu a porta, ainda assustado, a fim de tomar ciência do que acontecera.

         Após a maioria dos moradores saírem, se juntaram na parte central do pequeno lugarejo e faziam conjecturas do que ocorrera. Alguém viu que a porta principal da casa dos dois rapazes estava fora do padrão, sinalizando que tentaram derrubá-la de qualquer jeito e com sinais de que fora arrombada, logo ele chamou os demais e ninguém se atreveu a adentrar no imóvel, a vontade era muita, mas o medo era maior ainda.

         A polícia foi chamada e os policiais, ao entrarem na casa, se depararam com um corpo perfurado por duas balas e já sem vida, a janela dos fundos aberta, isso mostra que um dos primos conseguiu fugir.

         Após três dias, apareceu um carpinteiro e fez o reparo da porta.Não se falava em outro assunto na comunidade e nas redondezas, uma vez que  fato similar jamais acontecera naquela comunidadee chocou a todos, nesses casos, cada um tem uma versão a dar, cada um tem uma dor a sentir, ninguém se cala, mesmo os mais tímidos criam coragem para vociferar sobre o acontecimento e deixar registrada sua fala marcante, o engraçado é que, nessas situações, o ser humano manifesta suas ideias calcadas apenas nas emoções, nas crenças, afastando-se da razão, mas jura de pé junto e separado de que sua versão é a verdade.

         Após 4 dias, o sobrevivente voltou para casa e a comunidade tomou conhecimento de que o motivo do crime foi a língua, ou seja, os rapazes, mesmo não se comunicando com a comunidade em que moravam, nos outros ambientes falavam muito e teceram comentários a respeito do que não deviam falar, por issofoi caçado o CPF de um. Tal informação deixou a comunidade apreensiva, pois quem falou demais foi o morto ou ovivo? Se foi o morto o problema estava resolvido, mas se o falastrão era o vivo, os caras voltariam para matá-lo.

         Diante dessa incerteza, todas as vezes que os cães ladravam na madrugada, os moradores, que outrora se avexaram no assassinato do vizinho, repetiam o mesmo comportamento, uns se escondiam sob a cama, outros simplesmente se deitavam no chão e outros corriam para o banheiro pois a barriga desafrouxava de vez. Dentro das casas era um pandemônio. No entanto todo esse alvoroço era carregado de um silêncio sepulcral, um pio não era externado.

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