Colunista Moacir Saraiva: “O afeto da neta”

A pandemia se encolheu ou foi encolhida e todos vislumbravam com a possibilidade de retirar as “focinheiras” em definitivo e sair pelas ruas se abraçando, fazendo festa, enfim, voltar às atividades de outrora.

No decorrer desses dois anos, quandoqualquer pessoa tossia ou havia outra alteração na saúde, todos que estavam no entorno ficavamatônitose diziam: vá fazer o teste. Não era preocupação com o outro e sim para não se contaminarem.Por isso, essa doença trouxe um comportamento diferente, poucas pessoas confortam o doente, a maioria nem se aproxima, algumas não atendem nem ligação do enfermo e jamais ligam com medo do contágio.

E agora, nessa fase de sobrevida da Covid, outros vírus não tão letais, mas desmanteladores da saúde de quem os contrai, entraram em ação – gripe, Influenza, HN ……, e tão contagiosos como o da maldita. Então, estamos na seguinte situação:se correr o bicho pega, se ficar o bicho mata.

           Uma senhora passara pela primeira fase da pandemia incólume, apesar de trabalhar muito na rua, ou seu santo era forte, ou tem o corpo fechado, ou sua imunidade muito alta, o fato é que vizinhos, amigos de trabalho e parentes foram invadidos pelo vírus, alguns até foram para o outro lado da vida. Ela sempre sorridente, alegre, faz brincadeira com tudo que lhe aparece e usa o seguinte discurso com relação à pandemia: “sou bloqueada, o vírus que chega perto de mim, ou morre ou voa para bem longe.”

           Mas agora, nessa fase, não se sabe se os santos relaxaram, se o corpo estava mais aberto, ou a imunidade desceu de patamar, o fato é que a senhora começou a sentir sintomas similares aos relatados por aqueles que passaram perrengue com o vírus da Covid. Inicialmente, apenas desconforto na garganta, mas como não era percebido por ninguém, essa informação foi guardada. Ela continuou trabalhando normalmente, frequentando os mesmos ambientes, pois tinha certeza de que estava bloqueada contra o maldito vírus. Depois disso, o corpo ficou quente e a tosse se fez presente.

           Apesar desses sintomas, ela dizia que era apenas uma gripezinha, ainda assim ela ia para alguns lugares, mas a empresa onde trabalhava a colocou na quarentena e a encaminhou para fazer o teste a fim de ver o que realmente ela carregava no corpo.

           Enquanto aqueles que apresentam sintomas ficam isolados, mas no caso da senhora do corpo bloqueado contra o maldito vírus, tinha uma neta e quando a avó chegava em casa, a criança não desgrudava dela por nada, apesar dos apelos da avó para ela sair de perto, pois a neta poderia ser acometida da doença que carregava.

           A neta pequena, com seus cinco anos, beijava a avó, fazia carinho e quando a avó descansava, ela trazia água, lanche e o que mais avó solicitasse, era um zelo e dedicação que confortavam muito a enferma.

           Exame feito e realmente era só uma gripe que foi se esvaindo rapidamente. Em um dos últimos dias de convalescença em casa, a avó estava deitada e a neta junto. Ela disse para a criança que queria um remédio para dor, pois estava com dor danada na cabeça. A menina para se solidarizar com a dor da vó e confortá-la, disse:

           – Minha vó, estou com uma dor danada na perna.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Close