Colunista Moacir Saraiva: “… Não vou mais estudar …!”

Foto: reprodução

            Quem disser que estudar é coisa boa e prazerosa, tá mentindo, principalmente quando isso é dito a crianças que estão abrindo os olhos para a vida.

            O menininho ia para a escola, ou melhor, era levado, ora pelo pai, ora pela mãe, mas sempre não ia com muita vontade e dias havia que parecia estar sendo levado para um campo de concentração, tamanha era sua falta de vontade de chegar até a casa da ciência.

            Essa falta de vontade se manifestava de várias maneiras, desde simular doença, fingir que estava dormindo, choro e outras estripulias próprias de crianças que se negam a fazer determinadas atividades, apesar de inventar mil e um pretextos para não ir aos bancos escolares, era um aluno dedicado, pois desenvolvia bem as atividades que lhes eram postas sobre sua responsabilidade. Fazia com celeridade e esmero a fim de ficar livre delas.

            Os pais achavam estranho esse comportamento, pois o outro irmão um ano mais velho, não dava trabalho nenhum para chegar à escola, aliás ia com prazer. Para o comportamento do mais novo, houve reuniões com professores, diretores, setor pedagógico a fim de tentar detectar a aversão dessa criança para se deslocar, diariamente, aos estudos.

            O que todos estranhavam era o fato do ir e não o processo educativo, mas o menininho dizia sempre que desenvolvia todas as atividades escolares para se ver livre, pois ele não gostava da escola. Os doutos na psicologia infantil estudaram todas as variáveis a fim tirarem uma conclusão e solucionarem o problema, até a mudança de escola foi sugerida e acatada pelos pais, ainda assim, o pestinha, ao ir para a escola, se sentia como tivesse indo a um cadafalso pueril em que havia muitas formas de torturas específicas para ele.

            Os pais e professores se acostumaram a essa “rebeldia” do menininho, como diz Saramago: “em todos os tempos há de haver uma novidade que espante a todos, depois habituam-se”. Aos pais e educadores desses pestinha aconteceu isso e certamente é mais um caso que constará nos livros de estudiosos do assunto para a posteridade.

            Após os anos escolares que culminaram na formatura do menininho, houve estranhamento nesse dia. Ele acordou e levantou sem a necessidade de ser chamado pelos pais, tomou o café como nunca fizera, com muita disposição e alegria. Passou o dia entusiasmado e repetindo que seria seu grande dia, pois ia receber a beca pela formatura no ABC. A festança foi no final da tarde, mas o sujeitinho passou o dia muito feliz, os pais ficaram sem entender essa alegria e até ligaram para os professores da escola que acompanharam o caso, ou seja, mais uma novidade para ser estudada.

            Ele tomou um banho bem tomado, se perfumou e se arrumou com muito prazer, em seguida, junto com os pais e o irmão mais velho, foi para a formatura. No cerimonial do grande evento, um a um dos formandos foi chamado, era embecado pelos pais e voltava ao seu lugar.

            O menininho inovou, a beca ao ser colocada sobre sua cabeça pelos pais, ele a retirou, a jogou para cima e gritou com todas as forças:

            – Oba, estou formado e a partir de agora não vou mais estudar!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Close