Colunista Moacir Saraiva: “Golpe de Mestra”

 

Duas jovens senhoras, em um café da cidade, conversando sobre filhos, pandemia e outros assuntos de interesse delas, uma puxou um assunto delicado. Ambas trabalhavam muito, assim como, seus respectivos esposos. Um casal tinha dois filhos pequenos e o outro apenas uma menina de 5 anos. A mãe que puxou o assunto foi a que tinha dois meninos, respectivamente com 2 e 3 anos.

Mas antes de ela ir no foco no problema, falou que amava demais o marido e que sentia também ser amada, e financeiramente viviam bem, com tranquilidade, mas narrou que algo a perturbava demais, e até a deixava desanimada, pois suas forças para resolver a questão estavam se esvaindo. A amiga era uma boa ouvinte, sabia escutar, olhava fixamente para a amiga falante, não interrompia a fala da interlocutora em nenhum momento. Após a reclamante fazer uma pausa longa, como que querendo um estímulo para continuar, a amiga, a instigou, usando um argumento corriqueiro e perguntou:

– Amiga, por acaso teu marido está cedendo muito aos apelos da mãe dele e te escanteando?

Ela fez essa pergunta, porque na crença dela, um filho único ao casar, às vezes, a mãe movida por um ciúme doentio do filho implica com a nora infernizando a vida do casal, a fim de a nora se mandar e deixar o filho só para a mãe. E o rapaz em questão preenchia esse requisito, era filho único e nasceu com a mãe já desiludida da maternidade.

-Não, amiga. Pelo contrário, tanto a sogra como meu sogro estão sentindo comigo o problema que está me desanimando, estão me dando força e buscando comigo uma saída a fim de eu voltar a sorrir junto com meu marido.

Assim respondeu a mãe dos dois meninos.

A amiga escutou a resposta e pensou, poxa, se não é sogra, se não é traição se não é cachaça, se o cara não sai de casa, que peste de problema é esse?

Agora, ela saiu da posição de uma boa ouvinte e perguntou como uma pessoa fofoqueira querendo saber da vida dos outros.

– Amiga, desembucha logo.

Com muita calma veio a resposta:

– É o celular.

Continuou dizendo que o marido ficava até tarde da noite ligado no celular, nos fins de semana só se separava do aparelho em situações excepcionais – levantava para comer e ir ao banheiro – quando ia comer, levava o bicho e o colocava ao lado do prato, e se dividia entre as garfadas e o celular. O bicho é levado também para a cama, ele se deitava e ficava até altas horas olhando para o écran e teclando. Faz amor muito pouco.

Finalizou, dizendo:

– Estou desesperada, sozinha para fazer tudo e sem saber como agir para reverter essa situação.

Dizendo isso começou a chorar.

A mãe da menina pôs a mão sobre a mão da desabafante e disse:

– Fácil de resolver esse problema.

Prosseguiu com tranquilidade e disse que também passara por isso e hoje ela e o marido estão muito bem.  E narrou para a amiga o que fez. Disse que nenhum argumento fez o marido mudar o comportamento, assim, disse que mudou a estratégia. Um dia ele, na cama me procurou e eu peguei o meu celular e não dei chance de ele continuar. No dia seguinte, à noite, ele me abraçou, já muito tarde da noite, após ele ter ficado no celular até aquele momento. Quando ele me abraçou eu fiquei olhando e teclando  no meu celular e me desvencilhei dele. Na terceira investida, recusei e ele reclamou me indagando porque eu estava fria com ele.

Quando ele me indagou eu falei que doravante teria de ser feito um pacto para o uso do celular dentro de casa. Só teria amor se fizéssemos esse acordo, pois continuar como estava, não tinha mais sentido.

A amiga finalizou dizendo:

– O acordo foi feito, estabelecemos hora para o uso do celular em casa, fazer tarefa escolares com a filha, estabelecemos também o lazer da pequena, enfim, fizemos uma constituição doméstica e nossa vida está muito bem.

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