Colunista Moacir Saraiva: “Almoço indigesto”

 

Há muito tempo não vejo jornais televisivos, em nenhum horário, prefiro ocupar meu tempo com algo que não venha trazer energias negativas para dentro de mim e de minha casa, ainda mais no momento das refeições nas quais devem reinar o saboreio do que se está comendo e bater papo com a família ou, se for o caso, com amigos, mas ficar fazendo refeição com uma peste de tv ligada ou ouvindo comunicações via celular não faz bem nem ao corpo nem à alma.

Estar sentado à mesa para refeições tem de ser um momento de alegria e de bate papo com a família, no mundo do corre corre, em que vivemos, são poucos esses momentos, portanto devemos aproveitar cada instante, em volta da mesa, como um grande encontro, uma troca de ideias, de afetos, pois isso nos faz comer melhor, mastigarmos mais, prestarmos mais atenção no que estamos comendo e, o melhor, une mais e mais a família. Quando a alimentação é feita pelos pais ou outro membro da prole, integra mais o fazedor da alimentação, em volta da mesa se criam boas lembranças que ficarão gravadas pelo resto da vida, quantos casos engraçados, quantos pratos elogiamos, são situações que geram em cada participante uma memória afetiva que só engrandece a todos.

Em viagens, às vezes, tornamos esses momentos agradáveis, no entanto nem sempre é possível, pois nas churrascarias e restaurantes, tem um aparelho de tv, um não, vários ligados e, na hora do almoço, há telejornais que exalam cheiro de miséria, de desgraças cujos protagonistas são exaltados pela mídia. No período da pandemia, os apresentadores só falavam nos números de mortos no Brasil e até mostravam os números com certa alegria, uma vez que o objetivo não era informar e sim mostrar que havia um único culpado.

Agora, com a queda de infectados e de mortes causados pelo maldito vírus, o Brasil passou a ser o Brasil de antes da pandemia, com assassinatos, com roubos, com extorsões, com explosões de banco, com decapitações, essa volta à normalidade deveu-se à trégua dada pelos criminosos durante a pandemia, segundo a imprensa, só voltaram a cometer crimes agora. Observando o país pelo olhar dos apresentadores de jornais televisivos bem como os de rádio, parece só tem isso, seja nas cidades como na zona rural não acontece nada de bom, nada de construtivo.

Recentemente fiz uma viagem sozinho, e na estrada, algumas vezes, almocei em espaços cujo centro não eram os bons pratos servidos, mas as tvs ligadas. Por ser o horário de meio dia ou próximo, os programas apresentados eram desse tipo, vi e ouvi versões absurdas, ao invés de trazerem informações, os apresentadores faziam teatro dourando um crime comum com um palavreado esculachado, um tom de voz diferente, usavam músicas de fundo, com cenários como se estivessem apresentando uma primorosa peça propagandística.

Essa é a companhia de muitos brasileiros no horário sagrado de estar com a família ou com amigos, para você ter uma alimentação melhor e um momento prazeroso, não leve para as refeições mau humor, silêncio, desprezo, outras grosserias e menos ainda uma tv, pois o sabor das refeições não está, apenas na escolha dos pratos, mas nas pessoas com quem você partilha o alimento e as ideias.

 

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