Colunista Moacir Saraiva: “A vizinha viajou”

 

As aulas na pandemia tiveram um prejuízo enorme. Professores, alunos e famílias foram obrigados a se adaptarem para que as perdas não fossem maiores. E não houve preparação para tal, pois a pandemia chegou repentinamente e mudou nossas vidas.

Para mim que aprendi a conduzir aulas apenas com “cuspe e giz”, depois chegaram os quadros magnéticos usados com pinceis, aparece também a máquina que passava slydes – projetor de slydes – avanço danado, depois apareceu o retroprojetor outro salto positivo nas aulas, preparávamos as lâminas e era uma novidade que a todos impressionava. Na evolução da tecnologia, apareceu o Datashow, essa evolução toda em curto espaço de tempo. Todos esses recursos foram incorporados pela educação e são ferramentas de grande valia, se utilizadas com sabedoria.

Nessa escalada de avanço, hoje, já se ministra aulas e cursos pelo celular, pelo computador e, nesses aparelhos, pode-se colocar filmes, slydes e tudo o que for necessário para explicar melhor ao aluno. Antes da pandemia, bem poucos profissionais usavam tais recursos e o destino eram também uma classe de alunos que optava por tal metodologia por ser mais conveniente, vê-se, nesse caso, que havia uma vontade expressa dos dois atores em utilizar esse processo.

Na pandemia, as escolas foram obrigadas a usarem essa ferramenta a fim de legitimar o ano letivo, pois sem isso, não haveria como justificar o avanço do aluno para a série seguinte. E foi um deus nos acuda, a maioria dos professores não foi treinada para isso, as escolas sem estrutura de internet e de computadores que favorecessem aos professores ministrarem suas aulas. Foi tudo feito da casa do professor, com o computador e internet do professor. Tanto o professor como os alunos foram obrigados a essa nova metodologia, não tendo havido anuência dos atores nesse processo educativo advindo forçosamente por causa dessa peste maldita.

Para piorar a situação, muitos alunos não têm computador, celular e internet.

Após uma semana de prova de uma determinada escola e já no conselho de classe, tudo virtual. Quase todos os professores e o coordenador pedagógico presentes, muitos com a câmara e microfones abertos. Um aluno é mencionado pelo coordenador pelo fato de não ter feito duas provas. Antes que ele expusesse o motivo, um professor reclama, como tom de gozação desse aluno e fala sorrindo:

– Esse menino disse que não fez a prova porque a vizinha viajou, onde já se viu isso?

Poucos professores riram concordando com o colega.

O coordenador, após esses gracejos, falou de forma muito séria se dirigindo ao professor que levantara essa questão:

– O aluno em questão não tem internet em casa, usa a da vizinha e ela viajou e desligou o wifi, por isso que ele não fez duas provas.

Após o relato, o professor que fizera o comentário ficou muito sério, de seus olhos saíram lágrimas e falou com a voz trêmula:

– Fiz um comentário infeliz, me desculpem.

Esse é um pequeno retrato do que vem ocorrendo na educação, durante a pandemia. Além de outras adversidades, falta de estrutura mínima para muitos alunos.

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