Campeonato mundial de futebol: por que todo mundo torce durante os jogos? Psicóloga explica

Foto: Master1305 – Freepik

Até quem não gosta de futebol costuma parar para torcer durante a competição. Afinal de contas, por que temos esse “comportamento coletivo” frente a alguns acontecimentos?

A cada quatro anos a cena se repete: amigos, familiares e colegas de trabalho — até mesmo aqueles que não gostam muito de futebol – se reúnem para torcer durante o torneio mundial de futebol. Segundo o estudo “Quem Torce Também Joga”, da agência de pesquisa de tais comportamento Apoema, 62% dos brasileiros vão torcer ou acompanhar os jogos da seleção brasileira, enquanto 71% dizem acreditar que nosso País será o campeão da competição. Mas afinal de contas, por que temos a tendência a seguir o comportamento de “manada” e torcer também?
 

A psicóloga e professora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, doutoranda Thais Vargas, explica que o Brasil tem aspectos peculiares quando se trata da competição e de futebol.
 

“Por ser um esporte coletivo e possuir muita influência em nossa cultura, o futebol desperta paixões e acaba sendo um objeto de catarse entre as pessoas. A modalidade une tribos diferentes e reforça laços sociais e emocionais entre os indivíduos”, afirma a professora universitária.
 

Mas não é apenas durante o campeonato mundial de futebol que esse comportamento se repete, em maior ou menor intensidade. Outros eventos importantes como as Olimpíadas e datas comemorativas como o Carnaval, Páscoa, Natal, Ano-Novo e até datas comerciais como a Black Friday movimentam as pessoas.
 

Em comum, todas elas têm características como atividades e rotinas realizadas coletivamente, além de aspectos emocionais. São datas que costumam nos fazer relembrar momentos e pessoas importantes do passado: um parente que gostava de acompanhar os jogos, um amigo que decorava a casa para torcer, reuniões em família, entre outras situações que podem despertar o desejo de comemorar em grupo com quem temos afinidades.
 

Ainda segundo a especialista, o comportamento de torcer pode ser comparado, ainda, à tendência que temos em assistir filmes e séries e ler livros que amigos e conhecidos também estão consumindo, por exemplo. Como o ser humano é um ser essencialmente social, o colecionar figurinhas, por exemplo, é uma atividade coletiva que cria sensação de pertencimento a um grupo social.
 

A afirma lembra que, na Psicologia, o conceito de grupos é o tema fundante da psicologia social, com estudos a partir do final do século XIX, pela então denominada Psicologia das Massas ou das Multidões.

A professora, pondera, amparada no referencial teórico de Le Bon (2008), que é possível compreender que uma multidão organizada pode constituir uma multidão psicológica, uma vez que a massa reunida forma um único ser que se encontra submetida a uma “espécie mental das multidões”. Milhares de indivíduos separados podem em um determinado momento, sobre a influência de certas emoções, como por exemplo, um grande acontecimento de mobilização nacional e/ou mundial, adquirir as características de uma multidão psicológica.
 

“A palavra multidão representa uma reunião de indivíduos quaisquer, mas do ponto de vista psicológico tem outra significação. Em circunstâncias específicas, a reunião de pessoas adquire características novas: a personalidade consciente desaparece, os sentimentos e as ideias de todas as unidades orientam-se numa mesma direção, formando-se uma alma coletiva transitória e nítida”, diz.

A competição deste ano inicia no Catar em 20 de novembro, país árabe de pouco mais de 2,8 milhões de habitantes localizado no continente asiático. O torneio terá investimentos de cerca de U$$ 200 bilhões, para construção de estádios, centros de treinamento e obras de infraestrutura como estações de metrô, tudo para receber estimados 1,2 milhão de turistas vindos de diversos países para assistir os jogos.

O evento deve ainda movimentar, além das redes dos campos de futebol, a economia brasileira: a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que os setores de comércio e serviços terão um incremento de R$ 1,48 bilhão em vendas, 7,9% a mais em comparação com a última competição, realizada em 2018.

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