População tende a levar na bagagem as preocupações do trabalho mesmo durante férias e folgas planejadas

Imagem: Freepik

Especialista em Saúde Mental Corporativa, Ana Paula Teixeira explica porquê é tão difícil se desligar e alerta para os impactos voltados à saúde emocional

O mês de julho é um dos mais procurados pela população para curtir as férias, de acordo com levantamento realizado pelo Booking.com, sendo Salvador um dos destinos mais procurados pelos turistas. O grande problema é que, apesar do período de descanso, muitas pessoas costumam carregar na bagagem preocupações do trabalho. Essa prática, aparentemente inofensiva, pode desencadear consequências sérias, especialmente quando se torna um hábito.

Ana Paula Teixeira, especialista em Saúde Mental Corporativa, consultora e autora com atuação voltada à transformação de ambientes de trabalho, alerta: manter o vínculo com o trabalho durante os períodos de descanso compromete o repouso necessário, aumentando o risco de exaustão e reduzindo a disposição para encarar, com motivação, os desafios do ano. “E, para alguns profissionais, estar sempre disponível, conectado, produzindo a qualquer tempo e hora é terreno fértil para o fenômeno de Burnout – dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), deste ano, corroboram essa afirmativa. O estudo coloca o Brasil em segunda posição no ranking mundial de casos, com mais de 30% dos trabalhadores afetados”, explica a especialista.

O período de repouso, os finais de semana, as folgas e, principalmente, as férias, devem ser usadas em prol de atividades que levem à distração e desassociação dos profissionais com relação às rotinas trabalhistas. “Legalmente, férias significam afastamento completo das atividades laborais. Se o trabalhador permanece atuando nesse período, mesmo que informalmente, o empregador pode ser obrigado a remunerar novamente esses dias como se não tivessem sido usufruídos. Afinal, segundo especialista, férias, folgas são cruciais para se cumpriu a finalidade da pausa: que é a de garantir o descanso físico e mental do empregado”, completa Ana Paula, que também é médica do trabalho e escritora.

Além disso, há um fenômeno crescente chamado Fear of Switching Off (FoSO) – o medo de se desligar. Segundo a Forbes, 61% dos brasileiros ficam mais ansiosos e estressados ao se afastarem do celular e do trabalho nas férias. O receio de perder mensagens importantes ou voltar desatualizado faz com que muitos não consigam relaxar. Esse comportamento, de acordo com Ana Paula Teixeira, é ainda mais comum entre empreendedores, que se sentem insubstituíveis e sobrecarregados.

Desligar é possível e saudável


Práticas simples e eficazes podem ajudar a mudar esse panorama e fazer com que a população não chegue nesta linha de risco. Ana Paula Teixeira recomenda estratégias simples para garantir que as férias cumpram seu propósito: “Trate a pausa como um tempo de distração, lazer e desconexão. Desative notificações, entregue o celular corporativo e evite checar e-mails institucionais.”

Ela também lembra que o processo de desconexão é gradual. “Na primeira semana, ainda estamos saindo do ritmo. É só na segunda semana que começamos a relaxar de verdade. A terceira semana costuma ser a mais prazerosa. E na quarta já começamos a nos preparar para o retorno. Por isso, sempre que possível, tire os 30 dias completos e evite vendê-los”, orienta.

No retorno, caso esse sentimento de pressão, exaustão, tristeza profunda e improdutividade permaneçam, é necessário buscar ajuda do médico do trabalho da instituição, consultores e psicólogos para uma atuação conjunta no tratamento destes sintomas”, recomenda Ana Paula Teixeira. A médica sugere ainda a adoção de práticas como meditação, atividade física e alimentação equilibrada. “Síndromes como a Burnout são silenciosas e subdiagnosticadas. A prevenção é sempre o melhor caminho”, ressalta.

Os dados reforçam a urgência


Na Bahia, apenas em 2024, 4.517 afastamentos pelo INSS foram motivados por ansiedade, seguidos por 3.313 por depressão – todos transtornos mentais associados ao excesso de estresse. “Férias de verdade não são luxo – são um investimento em saúde, produtividade e equilíbrio”, conclui a especialista.

*Comunicação Interativa

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