Colunista Moacir Saraiva: “Eita porra, o feijão queimou!”

 

Na pandemia muitas empresas adotaram o home office, em um bom português significa que o trabalhador desempenha suas funções dentro da própria casa, geralmente, a partir de uma máquina que se conecta com o mundo, seja um celular, um computador ou um notebook, ou outro instrumento desses que o cronista não sabe nem o nome.

Para um casal que trabalha em duas grandes organizações, não está sendo diferente, tanto o marido como a esposa, repentinamente, estão circunscritos em casa, mas sem deixar de desempenhar suas atribuições profissionais, aliado a isso, assumiram também as rotinas domésticas, tais como, preparar café da manhã, construir o almoço, lavar roupas, é bem verdade que os filhos, com 8 e 9 anos já participam das divisões desse trabalho, no entanto, o planejamento diário fica a cargo dos pais que assumem o serviço mais riscoso e dão as coordenadas para os filhos nas atribuições menos riscosas.

Essa nova vida imposta pela pandemia, na literatura é bonita, é até poética. Alguns dizem que são gestos belos e nobres daqueles que permanecem em seus lares, em tempo integral, pois além de continuarem com as demandas da profissão, assumem também os afazeres domésticos e o amor entre a família se fortalece. Esse encanto é só na literatura ou em outras linguagens artísticas, porque na prática, mesmo os pais sendo extremamente amorosos com os filhos e com o lar, a realidade é outra, pois como diz o adágio popular: ao mesmo tempo, ninguém pode assobiar e chupar cana; há até mesmo um preceito bíblico nos alertando para isso: ninguém pode servir a dois senhores. Por aí, já se vê que um dos lados vai ter prejuízo ou até mesmo todos os lados sofrerão danos. Além do que, os pais, em casa, não têm a mesma destreza na rotina doméstica comparando com suas atividades profissionais, ainda mais que o casal, motivador desta crônica, já está há mais de 15 anos na empresa, portanto, desacostumado com o dia a dia de uma casa.

Há muitos fatos que mostram a inabilidade dos genitores nessa “nova” função, alguns risíveis, outros nem tanto, mas o desconhecimento da rotina traz prejuízos ou apenas produzem episódios para serem relatados na posteridade.

O casal supra citado, já passado pouco mais de um semestre dessa reviravolta, começou a ter reuniões presenciais na instituição, ora um ia, ora o outro se ausentava, mas não era com tanta frequência. Um desses dias, a esposa atendeu a uma convocação, e o esposo assumiu todas as atividades domésticas sozinho, além de as tarefas da empresa não serem interrompidas.

Por volta, das 11:30 h, ele colocou o feijão para esquentar e, em seguida, recebeu uma ligação do chefe e a conversa demorou, já beirando meio dia, ele sentiu odor de feijão queimando.

Ele enrubesceu de raiva, pelo descuido, e, sem pensar, disse:

– Eita porra, o feijão queimou.

Do outro lado, o chefe sorriu e falou:

– Já aconteceu comigo, vá lá. Tiau.

 

MOACIR SARAIVA

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