Uso de substâncias psicoativas cresce durante a pandemia; Especialista alerta para consequências
Pesquisa aponta que 38,4% dos brasileiros em quarentena aumentaram o consumo de drogas
A pandemia de Covid-19 modificou estilos de vida e rotinas. Medos, incertezas, novos modos de relação com o outro são alguns dos motivos para toda esta transformação. Diante deste novo contexto e novo espaço-tempo, o uso de substâncias psicoativas pode ser adotado por algumas pessoas como uma forma de lidar com os sentimentos provocados pelo período em que passamos. Um estudo brasileiro, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), realizado entre abril e maio do ano passado, aponta que 38,4% das pessoas em quarentena relatam aumento no consumo de drogas, legalizadas ou não.
São consideradas substâncias psicoativas aquelas que, incorporadas no organismo, alteram o funcionamento do sistema nervoso central. Elas podem ser naturais ou artificiais e são divididas em: Depressoras, que produz distintos graus de relaxamento, sedação, sonolência e anestesia – como álcool, benzodiazepínicos e inalantes; Estimulantes, que são as que produzem euforia com sensação de bem estar e melhora do humor, aumento de energia e do estado de alerta – como cigarro, café, cocaína, crack e anfetaminas; e Alucinógenas ou Perturbadoras, que são as que agem produzindo alterações qualitativas no sistema nervoso central, deformando a informação transmitida pelos neurônios nas sinapses realizadas – como maconha, LSD e êxtase.
A psicóloga e psicanalista Maria Eugenia Nuñez, que atua na área de dependência e adições há mais de 20 anos na Bahia, diz que o uso de substâncias psicoativas pode se apresentar para alguns como uma solução, mas pode acabar sendo um problema. Para aqueles que já têm uma relação problemática com o consumo, a falta ou mudanças ao acesso do tratamento em tempos de isolamento social pode ser um agravante. “Em período de quarentena, existe uma migração do consumo no bar e restaurante pelo consumo em casa. Este uso é um uso relativamente solitário, o que pode desativar alguns mecanismos de controle que estão presentes quando se usam em grupo e em lugares públicos. A mudança do contexto de consumo pode afetar a experiência e a relação com as substâncias neste período de isolamento. Torna o consumo mais individual do que social, e isso pode ter consequências”, alerta.
Aumento no consumo de álcool
Pesquisas revelam o aumento no consumo de álcool. Dados prévios, divulgados pela Global Drug Survey – que anualmente faz um dos estudos mais completos sobre o consumo de drogas no mundo – mostram que, na pandemia, 41% dos brasileiros disseram ter aumentado o número de dias em que consomem álcool. Entre as razões apontadas pela pesquisa estão o tédio e o tempo disponível em casa.
Essas e outras pesquisas mundiais sobre o consumo de substâncias psicoativas levaram à Organização Mundial da Saúde (OMS) a recomendar que os países limitassem a venda de bebidas alcoólicas durante a pandemia. Segundo a OMS, o álcool reduz a imunidade e pode, consequentemente, aumentar as chances de complicações, caso a pessoa seja contaminada pelo vírus. Segundo a organização, há consequências na piora geral nas condições de saúde, além de aumento nos comportamentos de risco e problemas de saúde mental.
A especialista chama atenção para o aumento de consumo durante a segunda onda da pandemia: “Após mais de um ano, muitos pacientes, que conseguiram se manter equilibrados ou com controle na primeira onda, começaram a apresentar sintomas de descontrole, apresentando crise de ansiedade, irritabilidade e angústia. É perceptível o aumento do uso não só de álcool, mas de outras substâncias psicoativas”, pondera Maria Eugenia Nuñez.
Diagnóstico e consequências
Para diagnosticar uma pessoa dependente de substância psicoativas deve-se considerar a quantidade e frequência do uso, além de alguns outros sinais, especialmente o desejo ou compulsão incontrolável de usar, consciência da dificuldade para controlar o uso, insistência no uso sabendo que causa danos à saúde física e mental e uso para atenuar sintomas de abstinência. “É importante analisar três aspectos: sujeito, contexto de uso e sustância. O que o usuários espera com esse uso, como e com quem se dá esse uso, qual o momento pessoal e físico de quem a usa”, salienta a psicóloga e psicanalista.
O abuso de substâncias psicoativas podem trazer prejuízos na rotina do usuário, como abandonar atividades sociais ou ocupacionais para fazer uso da substância. Outras consequências da dependência ou uso de risco são aumento da criminalidade e acidentes automotivos, violência doméstica, apresentar doenças físicas associadas, como endocardite, insuficiência renal e hepática, doenças respiratórias, cirrose e câncer no fígado. A partir da identificação de algum sinal de dependência o recomendado é procurar ajuda especializada.
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