Proteção da biodiversidade é imprescindível para uma economia sustentável



Conservação de recifes de corais é exemplo de integração entre proteção da biodiversidade e desenvolvimento econômico Foto: Filipe Cadena/Fundação Grupo Boticário

Por Malu Nunes*
Diante do agravamento dos efeitos provocados pelas mudanças climáticas e dos diversos riscos à vida no planeta, o encerramento sem acordo oficial entre os mais de 190 países que participaram da COP16, a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, gerou frustração e, principalmente, muita preocupação. Afinal, esperava-se avanços concretos, especialmente relativos ao financiamento, para que os diversos países possam atingir as metas do Marco Global Kunming-Montreal da Biodiversidade, aprovada na COP15, realizada dois anos atrás.
As metas buscam reverter o perigoso declínio ambiental, que ameaça a sobrevivência de até um milhão de espécies e causa impacto direto na vida de bilhões de pessoas na Terra. Entre outras medidas, o Marco Global estabelece a proteção de 30% das áreas terrestres, costeiras e oceânicas; o investimento anual de US$ 200 bilhões para a conservação da natureza; e a busca de novos recursos direcionados para Soluções Baseadas na Natureza (SBN). Essas são algumas das intenções que devem ser alcançados até 2030.
São alvos ambiciosos e necessários, difíceis de atingir, mas que interessam o mundo todo, trazendo holofote para a América Latina e o Caribe. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a região que engloba territórios do Brasil, Colômbia, Equador, México, Venezuela e Peru é a mais biologicamente diversa do mundo. Só a América do Sul abrange acima de 40% da biodiversidade da Terra, sendo que 15% dessa riqueza natural está concentrada no Brasil.
A conservação, a restauração e o uso sustentável dos recursos naturais precisam ser priorizados e todos os ecossistemas têm grande importância nessa equação, considerando florestas, matas, campos, montanhas, rios, lagos, mares, dunas, manguezais, restingas, entre outros. A capacidade produtiva dos ambientes costeiro-marinhos, por exemplo, que muitas vezes são subestimados quando pensamos na conservação da natureza, chega a 19% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, segundo a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, órgão ligado ao Governo Federal.
Ao olharmos com cuidado para o mar, no entanto, a situação é preocupante. Os manguezais, um dos ecossistemas mais importantes para a biodiversidade marinha, capazes de armazenar até cinco vezes mais carbono que algumas florestas tropicais, merecem mais atenção. Trezentos municípios costeiros se beneficiam desse ecossistema, responsável por até 50% da pesca artesanal, sustentando o ciclo de vida de espécies marinhas de alto valor comercial, como robalos, tainhas, siris, ostras e caranguejos. 
Estudo inédito da coleção Oceano sem Mistérios, lançado na COP16, revela que os manguezais brasileiros armazenam 1,9 bilhão de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) e podem gerar até R$ 48 bilhões em créditos de carbono, considerando um cenário conservador, baseado apenas no mercado voluntário brasileiro.
Apesar do enorme potencial econômico e importância ecológica, os manguezais estão em perigo em todo o mundo e são alvo de constante pressão por atividades humanas. Esse descuido representa uma ameaça real ao equilíbrio natural no combate às mudanças climáticas, já que, além de reter o gás carbônico – que contribui com o aquecimento do planeta -, os manguezais são barreiras naturais e engenheiros ecossistêmicos para as regiões costeiras, diminuindo a força das ondas, evitando inundações e erosões.
Ainda com os olhos voltados para o mar, os recifes de corais também merecem atenção na COP16. Apenas no Brasil, geram R$ 167 bilhões em serviços de proteção às comunidades costeiras e para o turismo. Os corais, mesmo ocupando 0,1% do fundo do oceano, são essenciais para 25% da vida marinha, além de minimizar riscos de danos causados por ressacas e alagamentos em regiões próximas ao mar.
Com base em dados de mercado e análise das atividades turísticas nos cinco principais destinos com recifes de corais no Brasil – Fernando de Noronha e Ipojuca (PE), Maragogi e São Miguel dos Milagres (AL) e Caravelas (BA) –, o impacto econômico do turismo nesses locais ultrapassa R$ 7 bilhões anuais em atividades de lazer e recreação. 
Porém, assim como ocorre com os manguezais, a sobrevivência dos recifes de corais está ameaçada. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), até 90% desses ecossistemas podem ser perdidos até 2050. Uma das principais ameaças é o branqueamento provocado pelo aquecimento e acidificação do oceano. Esse processo torna esses organismos vulneráveis, podendo levá-los à morte.
Nos voltando para terra firme, também não faltam bons motivos para que os países reafirmem compromissos e ajustem estratégias de conservação e recuperação dos ecossistemas. A integração entre desenvolvimento econômico sustentável, conservação ambiental e proteção da biodiversidade é a chave para garantir que os benefícios naturais sigam gerando riqueza, segurança alimentar, bem-estar social e resiliência climática.
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Malu Nunes é diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
Informações para a imprensa
 Tamer Comunicação
Luciano Fontes – Jessica Orlandi -Ana Claudia Bellintane

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