Professores se reinventam para superar desafios do Covid-19

A crise causada pela pandemia do novo coronavírus está provocando uma das maiores transformações no modelo acadêmico até aqui conhecido, levando à reinvenção da carreira de professor. Acostumados à rotina das aulas presenciais, precisaram passar por uma rápida transição digital e mergulhar nas aulas virtuais. Para atuar com desenvoltura nas novas plataformas digitais, os educadores tiveram que aprender como se comportar em frente às câmeras, pensar em novas estratégias de aula, promover discussões em fóruns e chats, editar vídeos e outras formas de apresentação de conteúdo, sempre preocupados em fazer com que os alunos, de fato, aprendam.

Segundo a professora Cleonice Lima, do curso de Direito, do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), em Salvador, a transição não tem sido fácil, mas tem mostrado caminhos promissores. Acostumada a um ambiente mais formal, ela se apresenta pontualmente, em frente às câmeras, para dar início às aulas. Não abre mão da maquiagem, e cobra atenção de seus alunos para o conteúdo. “Para compensar a ausência de um contato mais próximo, procuro incentivar a discussão nas aulas, dar destaque para os que querem se pronunciar. Atuo como uma moderadora e percebi que fóruns e chats funcionam muito bem neste cenário”, explica.

A professora ainda se impressiona com algumas cenas vazadas na tela coletiva dos alunos durante as aulas virtuais. Como a de um aluno escutando a aula jogado na cama sem camisa. “Chamo a atenção sobre esta questão, pois precisamos ter uma postura diferente. Aula virtual requer atenção e comprometimento”, afirma.

Bastante familiarizado com o uso de tecnologias digitais, pela longa vivência como consultor, o professor do curso de Engenharia da Unijorge, Osvaldo Andrade Souza, decreta: “este é um caminho sem volta. As aulas virtualizadas irão fazer parte de nossa rotina daqui para a frente”, garante. Ele lista os benefícios desta nova realidade. “Poderemos ter novos públicos inseridos na universidade; redução de tempo no deslocamento de alunos e um sentido humanizado mais aguçado entre todos. Somos aprendizes de um novo tempo, temos que seguir”.

Para não perder o foco nas aulas e não imaginar um espaço vazio, o professor de Engenharia não se fez de rogado e criou um aluno imaginário: o famoso Wilson, nome dado a uma bola de futebol criado pelo personagem Chuck Noland, no filme  O Náufrago, estrelado por Tom Hanks. Com ajuda de Wilson, o professor imagina uma proximidade com alunos, estimulando perguntas. “É uma boa técnica provocar perguntas e respostas. Já tive aula com 20 alunos onde registrei mais de 300 interações”, ressalta. Hoje ele orienta oito grupos de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), todos online.

A jornalista Anna Valéria, que tem mais de 30 anos de experiência em frente às câmaras, lembra que é natural que os professores sintam um desconforto neste novo ambiente, mas que a palavra chave é a naturalidade. E orienta aos educadores a utilizar as regras do vídeo para não atrapalhar a compreensão do conteúdo. “Deve-se evitar o uso de roupas estampadas, listradas e uso de acessórios chamativos. O que importa é o que o professor está falando, não o que está usando”, garante.

Para dar sustentação a este novo cenário, os professores reforçam o aprendizado em cursos de Metodologias Ativas oferecidos pela Unijorge e, aos poucos, vão dando personalidade as aulas virtuais. “Desde 2012 utilizamos esses recursos tecnológicos como suporte para as aulas presenciais. Por este motivo, estamos bem preparados para receber essa demanda online e disponibilizar os instrumentos necessários para que a experiência de aprendizado seja preservada neste novo momento”, destaca o reitor da Unijorge, Guilherme Marback Neto. Ele também acredita que as aulas virtualizadas e atividades remotas farão parte da nova forma de educação. *AT

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