O que a crise vai nos ensinar?

Por Luciano Neves

E para quem não acreditava em profecias, previsões catastróficas ou arte distópica, cá estamos. Aqui lembro Raul Seixas com ” O Dia em que a Terra Parou” e Barack Obama com seu discurso futurista há quase 6 anos, quando declarou que “Governos precisam se preparar para uma eventual guerra biológica de alcance internacional”.

Há vários anos,  quando o assunto era discutir possibilidades de uma Terceira Guerra Mundial, pensava -se  em escassez de água e armas biológicas. O pensamento voltava -se para motivações das guerras do passado. Mas  fomos pegos de surpresa pela evolução do Coronavírus  e agora médicos, cientistas  e governos conscientes correm contra o tempo para diminuir o número de mortes, imunizar as pessoas e conter os impactos na economia. Desta vez não há lados, há todos lutando contra um único vírus.

Além da perda de vidas, inevitavelmente teremos perdas econômicas. A globalização dos mercados trará perdas em todos os  segmentos, o valor dos danos ainda não pode ser mensurado.
No entanto, certamente entre os mais prejudicados estarão os pequenos empregadores e os trabalhadores. Com o desaceleramento  econômico, a conta fica mais pesada para quem tem pouco ou quase nada para passar pela crise.

O lado triste é que estamos aprendendo com muita dor e perdas para ter que nos reinventar e perceber que mercados precisam ser descentralizados. Não dá mais para concentrar 95% da produção de EPIs ligados à saúde apenas na China. Não dá para não investir em ciências e tecnologia, afinal um país dessa magnitude como o nosso precisa ter mão de obra capacitada para produzir testes e descobrir vacinas. Não dá para apostar apenas no agronegócio e sucatear a indústria de ponta, porque a soja e o algodão são importantes, mas  produzir respiradores, medicamentos e outros equipamentos também.

No cenário local também precisamos aprender com tudo que estar acontecendo. Não dá para apostar só no turismo e não investir na diversificação dos serviços, afinal ser dependente de outros centros econômicos tem seu preço e agora ficou caro. Supermercados atacadistas, bancos, contadores, advogados, rede de farmácias, clínicas especializadas, afinal não dá para comprar comida na lojinha do açaí, nem remédios controlados na choperia da esquina.

Além disso, os países precisam rever sua estratégia para trabalhadores em meio as crises, criando planos de contingência e orçamento público para tanto. Não dá para esperar governo competente ou incompetente decidir se pessoas morrem ou não com fome em meio a crise. Assim como temos lei para fundo eleitoral de campanha por exemplo, que tenhamos também fundo para contingência para ajudar pequenas  empresas e trabalhadores em crise desta proporção. Crises sempre haverão de surgir, a diferença é estar ou não preparado para enfrentá – las.

É certo que mudanças virão com a descoberta da cura. Mudanças culturais, sociais, estruturais, econômicas e familiares em proporção global.De concreto, o que vai se desenhando é que governos, empresas, políticos, sindicatos,  trabalhadores e a sociedade como um todo, precisam extrair de tudo isso novos olhares enquanto pessoas e instituições.

Em meio a tantas incertezas, só nos resta cooperar ficando em casa, fortalecendo o isolamento social e manter a confiança e a esperança na ciência.

Jamais seremos os mesmos.

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