“Necessitamos combater de forma coerente o racismo”, diz a Mestranda em Relações Étnicas, Evanilda Pedrosa

por Joberth Melo | Atualiza Bahia

Quando todos irão viver de forma igualitária? Mortes como o de George Floyd, afro-americano que morreu em 25 de maio em uma ação policial nos Estados Unidos, e o de jovens negros no Brasil mostram que o racismo estrutural está enraizado na sociedade.

Na entrevista a seguir, Evanilda Pedrosa – Mestranda em Relações Étnicas e Contemporaneidade ODEERE/ UESB, Pedagoga, especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica, e membro do Grupo de Pesquisa e Estudos Hermenêuticos sobre Família, Territórios Identidades e Memórias – aborda a relevância da discussão sobre o racismo estrutural, o aumento dos atos racistas após as redes sociais, o caso George Floyd e como denunciar.

Joberth Melo: Você já passou por alguma situação de racismo? Como não deixar se abater com esta situação?

Evanilda Pedrosa: Sim, acredito que estas situações acontecem frequentemente com homens, mulheres, crianças e adolescentes negros em nossa sociedade. Uma vez que o racismo está muitas vezes “disfarçado” em nossa sociedade. Para superar tais situações é necessário a construção de uma identidade sólida, emancipada, que lute por igualdades de direitos.

A morte de George Floyd desencadeou e restabeleceu o debate sobre o racismo estrutural da humanidade. Manifestações iniciaram nos Estados Unidos e repercutiram por outros países, inclusive no Brasil. Qual a relevância destas manifestações como forma de luta contra as opressões para com os negros?

O fato ocorrido levantou um debate racial nas grandes mídias nacionais e internacionais, nos fez reacender um acalorado debate a cerca das milhares de vidas negras que são mortas todos os dias em todo o Mundo em decorrência do racismo. Este fato tomou repercussão internacional porque uma mulher com um ato de coragem gravou e denunciou, mas quantos casos não ganham visibilidade e passam despercebidos em nosso dia a dia. Precisamos pensar sobre os contextos em que as coisas ocorrem e como elas causam o impacto em nossa vida. O caso George Floyd trouxe à tona a violência simbólica, física e emocional enfrentada pelos negros, onde as manifestações se tornaram relevante para as reflexões sobre os privilégios da branquitude e dos processos sociais que enfrentamos, colocando as vidas negras como subalternas e dominadas pelo Estado dominante, pela opressão social.

Quais são os mínimos detalhes que demonstra o racismo estrutural enraizado na sociedade?

O racismo está tão naturalizado em nossos discursos que muitas vezes ao invés de combate-los, nós reforçamos no cotidiano. Quando usamos expressões como: “Hoje é dia do azar, não pode ver gato preto”; “a ovelha negra da família”, “o dia hoje está com uma nuvem negra” quando as coisas não vão bem, “negro de alma branca”, “negro de traços finos”, “ele(a) é negro, mas é bonito”; e tantos outros dialetos que está em nosso cotidiano que colocam nos negros como algo negativo, ruim, desvalorizando o ser, reforçando a hegemonia do que é “branco é algo positivo”, e isto foi criado por nossos colonizadores para dominar os povos.

O racismo mata. Segundo o informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, a população negra tem 2,7 mais chances de ser vítima de assassinato do que os brancos. Como modificar esses dados?

Este ainda parece um longo processo, que necessita envolver todas as esferas sociais. Sabemos que a população brasileira é formada por sua maioria pela população negra, e estes dados acabam interferindo nos escores de violência no país, mas não podemos associar estes fatos a questão racial ou estaremos reforçando o racismo estrutural, onde reforça o negro como tudo que é negativo, associado a violência. Necessitamos combater de forma coerente o racismo, pensar no principio de equidade, fornecer mecanismos para conscientização social. Precisamos lutar pelo atendimento aos povos, pois vivemos em um Estado coronelista que manipula os grupos invisibilizado para torna-los subalternos e coloca-los num espaço de inferioridade e servidão. Assim, faz-se necessário pensar na efetivação das politicas publicas e seguridade da vida para todos, vejo a educação como uma ferramenta fundamental.

Casos de racismo também se difundiram pela internet. Muitos destilam seu ódio devido a possibilidade dos perfis falsos. Como tem observado estes casos nas redes sociais? Houve um aumento nos atos racistas?

As redes sociais se tornaram um veículo de disseminação do ódio, do preconceito e do racismo. Encontraram nestes meios de comunicação uma forma de publicitar, mascarar e “ocultar” a identidade daqueles que o pratica. Assim, com o aumento significativo destas ações, medidas judiciais são tomadas constantemente para punir aqueles que o realizam. É lamentável que um artificio de entretenimento, de aproximação de pessoas distantes estão sendo utilizados para fins tão cruéis.

Em uma população com a maioria negra, como você tem visto o auxílio das políticas públicas em busca da igualdade no Brasil e a ação dos Direitos Humanos nestas situações?

É muito preocupante o atual cenário brasileiro, a sociedade está presenciando o desmonte das politicas publicas sem tomar nenhuma providencia, e pior que os grupos em situação de vulnerabilidade social é quem mais sofrerá. Precisamos reivindicar nossos direitos, e acima de tudo conhece-los. Quando vemos muitos jovens negros, homens e mulheres negras negarem a sua identidade étnico-racial nos preocupamos com as subjetividades desses sujeitos, como elas foram construídas ao longo deste processo. É preciso compreender que as cotas é uma politica publica importante para a população, o que muitas vezes é criado no imaginário, pela falta de conhecimento, que se trata de um coeficiente de aprendizagem, quando a finalidade não essa, não para saldar uma divida histórica os descendentes das comunidades remanescentes, dos povos negros e indígenas em nosso país, mas para assegurar que a estes sejam dado o direito de participar ativamente de um espaço que ao logo do percurso foi direcionado pela formação da sociedade a homens brancos, para discutir raça, racismo, necessitamos discutir gênero, classe social e a branquitude, levar a reflexão a cerca dos espaços de privilégios do homem branco.

Ao presenciar uma situação de racismo, como denunciar?

O caso George Floyd nos mostrou a importância de ter a coragem em publicizar estas ações para que ganhem conhecimento da população, é necessário procurar os órgãos competentes e realizar a denúncias, não podemos nos calar, é um direito Constitucional a igualdade de direitos, e em nosso país o racismo ser crime é uma grande vitória, pois historicamente o Brasil foi um dos últimos a abolir a escravidão.

Evanilda Pedrosa é Mestranda em Relações Étnicas e Contemporaneidade ODEERE/ UESB, Pedagoga, especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica, especialista em Neuropedagogia e Psicanálise, especialista em Políticas Públicas da Educação Básica. Membro do Grupo de Pesquisa e Estudos Hermenêuticos sobre Família, Territórios Identidades e Memórias. Membro do Grupo de Estudos sobre as Epistemológias do Sul. Professora do Ensino Superior nos Cursos de Graduação e Pós-graduação.

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Foto: reprodução

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