Março Amarelo – Desafios do tratamento da endometriose durante a pandemia

O isolamento social por conta da pandemia da covid-19 vem sendo um grande desafio para pacientes que realizam tratamento contínuo de alguma doença crônica, a exemplo da endometriose.

por Fabiana Oliva

O diagnóstico veio em meio à pandemia, quando as dores abdominais no período de adaptação ao DIU tornaram-se insuportáveis para a empresária Daniela Barreto dos Santos, de 37 anos. “Eu parei de usar anticoncepcional e coloquei o DIU de cobre em dezembro de 2019, porque planejava engravidar no final de 2020, começo de 2021. Foi justamente a partir daí que passei a ter mais cólicas, a minha ginecologista me explicou que era normal, pois eu estava passando por um período de adaptação. Só que as dores foram aumentando. Eu passava muito mal, vômito, chorava de dor, cheguei a desmaiar, além de muito inchaço abdominal, tudo apenas durante o período menstrual. Até que em agosto de 2020, resolvi ir à emergência, porque estava com muita sensibilidade na barriga, até encostar doía. O médico me disse que possivelmente se tratava de endometrioma, que eu devia procurar um ginecologista especializado na doença, porque meus ovários estavam com o volume de quase 8cm, cada um. A partir daí conheci Dr. Marcos Travessa e comecei a peregrinação para confirmar o diagnóstico, com a realização de exames de ressonância, ultra com preparo intestinal, medicação.”

A empresária nunca tinha tentado engravidar, então não sabia até que ponto a endometriose estava prejudicando a sua fertilidade. “Cheguei a ir à clínica de fertilização para conhecer o procedimento de congelamento de óvulos, mas era muito caro, então decidimos programar o quanto antes a cirurgia para que os meus ovários fossem preservados ao máximo, pois eu já estava com os dois comprometidos. Depois de tudo preparado, as cirurgias eletivas foram suspensas devido à pandemia. Só consegui ser operada em agosto de 2020”.

Daniela passou por duas cirurgias, a primeira por vídeolaparoscopia e a segunda foi com a plataforma robótica, em janeiro deste ano. Um alívio para a empresária que agora poderá retomar seus planos da maternidade e recuperar a qualidade de vida. “Desde março de 2020 tenho trabalhado de casa. Nesse período, enfrentei incertezas, medo, desesperança, angústia, devido à endometriose. E a situação da covid ainda me trouxe mais insegurança e desespero. Não fui infectada, mas acho que todo mundo está carregando as sequelas emocionais dessa pandemia. Tive um atraso considerável no meu tratamento devido a tudo isso, mas hoje sigo bem, sem dor, quase 60 dias após a cirurgia. Agora é esperar com positividade e esperança o próximo passo pra tentar uma gravidez, se Deus assim permitir.”, finaliza.

Endometriose – acomete 2 bilhões de mulheres no mundo, entre as idades de 15 a 49 anos. No Brasil, são 7 milhões de mulheres portadoras da doença que se apresenta com cólicas intensas no período menstrual e dificuldade de engravidar, dentre diversos outros sintomas que impactam de forma negativa na qualidade de vida.

Para o cirurgião ginecológico, Diretor do Núcleo de Ginecologia do IBCR e do Centro de Endometriose da Bahia, Marcos Travessa, as consequências que a doença traz para a mulher tornam-se mais desafiadoras na pandemia. “No que tange ao sonho da maternidade, a endometriose representa de 40% – 50% das causas de infertilidade feminina. Mulheres com idades acima de 35 anos, tentando realizar o sonho da maternidade, lutam contra o tempo para que recebam o tratamento adequado, a fim de que consigam aumentar suas chances de sucesso em ter um filho. Nesse cenário, o acesso à assistência médica especializada fica adiado, aumentando as consequências relacionadas a uma gravidez em idade avançada”.

A endometriose também traz implicações da vida profissional das pacientes, segundo Dr. Travessa. “Quando pensamos na produtividade das mulheres, avaliamos as estatísticas que mostram que a endometriose é causa de cerca de 38% da improdutividade no trabalho, devido a sintomas de dor intensa que se agravam de forma acentuada no período da pandemia devido a impossibilidade de assistência médica adequada, dificuldade de agendamento e procedimentos cirúrgicos essenciais adiados”.

Endometriose em números:

2 bilhões de mulheres acometidas no mundo (15-49 anos)

7 milhões de mulheres no Brasil

1 em cada 10 mulheres tem endometriose

Em torno de 7 médicos são consultados até o diagnóstico final

38% causas de improdutividade no trabalho

40-50% das causas de infertilidade

 

Foto: reprodução

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