Manifestações culturais enfrentam desafios para se manter em Valença

Por Joberth Melo | Atualiza Bahia

As cidades ao longo dos anos constroem manifestações, crenças, tradições que as identificam. Essa identidade cultural deve ser perpetuada por gerações para que a ideia de pertencimento àquele lugar não acabe. Atualmente é observado o desaparecimento destes aspectos culturais. Em Valença não é diferente. A cidade do baixo sul da Bahia já sofre com a perda da cultura construída.

Considerada com uma identidade cultural diversificada, Valença já não conta com o Terno de Reis e a Micareta. No Terno de Reis, 50 mulheres com vestidos enfeitados desfilavam pelas ruas, no período em que os Reis Magos teriam visitado e presenteado o menino Jesus. A Micareta levava à cidade um carnaval fora de época. Os frequentadores costumavam se fantasiar. O evento não ocorre há mais de 15 anos.

Entre as manifestações existentes, o Boi de Ouro e Escola de Samba Filhos de Mangueira, já encontram desafios para se manter. A segunda manifestação cultural foi criada em 1957 no bairro do Tento. A Escola de Samba parou em 2000 e retornou em 2014 pela falta de carnaval na cidade e o término da Micareta. Segundo o organizador Luiz Carlos, a escola não recebe incentivo governamental fixo e a verba que adquire nos poucos eventos que são chamados tem que pagar os participantes.

O mesmo desafio é encontrado pelo organizador do atual Boi de Ouro. Conforme Reginaldo Correia, quando era adolescente e seu pai organizava o Boi Dragão, centenas de integrantes da manifestação cultural saiam pelas ruas “porque tinham o prazer de participar da festa popular”.

Queda nas manifestações culturais

A elevação nos índices de violência, a chegada da televisão, das tecnologias e a falta de incentivo ao conhecimento cultural da cidade também contribuíram para a queda no número de manifestações na cidade.

A Secretária de Cultura, Janete Vomeri, acredita que é necessário ensinar as crianças os costumes da manifestação para que elas continuem ocorrendo. “Todas essas manifestações precisam ser renovadas e as pessoas que já faziam precisam montar grupos mantenedores desta manifestação. As crianças, por exemplo, serem ensinadas a fazer esta manifestação através da confecção de roupas, da utilização do instrumento, das cantigas a serem cantadas”, afirma.

Essa passagem da tradição é observada na Escola de Samba Filhos de Mangueira. Os filhos de alguns integrantes trabalham com artesanatos com o auxílio de Luiz Carlos e também já participam das apresentações. O artesanato criado por eles é vendido para a arrecadação de dinheiro para manter o espaço.

As questões religiosas também contribuem para que jovens não participem das manifestações. “Muitas vezes por intitular que aquilo não é de Deus”, cita a secretária. Em outras situações por falta de apoio. “A igreja muitas vezes quando você se oferece para montar um grupo de canto, um samba de roda, um Terno de Reis, ela descaracteriza um pouco isso. As igrejas poderiam facilitar a manutenção destas manifestações”, completa.

A falta de uma matéria sobre a história da cidade nas escolas contribui também para que a cultura e consequentemente as manifestações não sejam preservadas. “Essa foi uma das questões colocadas na Conferência de Educação. No momento em que as escolas tiverem uma matéria sobre a história da cidade, os alunos vão se identificar localmente”, declara Vomeri.

Incentivos

O Boi de Ouro quanto a Escola de Samba Filhos de Mangueira não possuem associação. Sem associados e incentivos governamentais fixos, as manifestações encontram problemas para a manutenção. Reginaldo compra os instrumentos para o Boi de Ouro com recursos próprios. Já a Escola de Samba Filhos de Mangueira tem sede em uma casa alugada. O aluguel é pago pelos próprios organizadores. A energia do espaço ocorre por intermédio de baterias veiculares e não há água encanada.

Uma possibilidade para o recebimento de incentivo é através da criação de CNPJ e associação por essas manifestações culturais. “As associações podem receber benefícios diretos e indiretos do município. Ela pode buscar através de leis específicas da cidade, um apoio para a manutenção daquela associação”, afirma Janete Vomeri. Segundo ela, a falta deste conhecimento e da informação levam as manifestações a um estado de latência.

De acordo com a Secretária de Cultura, a sua pasta trabalha através de um calendário cultural, para que todos os anos as manifestações recebam e participem pelo menos uma vez de eventos municipais. A Caminhada Cultural, a Ocupação Cultural, a Consciência Negra; a Escola de Samba Filhos de Mangueira, no carnaval, e os Bois, entre eles o de Ouro, no São João, integram o calendário.

Atualiza Bahia

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Close