De Mãe para Filha

Atuante em Valença, voluntariado de Fátima Menezes foi inspirado em sua mãe 

por Joberth Melo | Atualiza Bahia

Fátima Menezes está sempre ajudando pessoas que lhe procuram na cidade de Valença, onde nasceu. Aos 58 anos, sua vida se divide entre a sede e o distrito de Guaibim, local onde mora. Os 20 km são percorridos quase que diariamente para prestar ações voluntárias. Na realidade, quando não está em Valença, o trabalho está sendo feito no distrito.

Visitas a doentes, projetos sociais e eventos beneficentes seguem a vida de Fátima e isso foi originado pela sua mãe, Maria de Lurdes, que já faleceu. “Eu fui crescendo nessa aptidão, nessa vontade e saiu assim de mim, suavemente”, diz Fátima Menezes, que durante a infância, sua mãe a levava para a missa aos domingos na Igreja Sagrado Coração de Jesus e em seguida visitava doentes nos bairros mais afastados da cidade. Na época, as casas não eram de alvenaria, não tinham energia elétrica e água encanada. Maria de Lurdes, que era agente de enfermagem, fazia curativos, cobrava dos governantes melhores condições para os moradores e evangelizava as pessoas que não tinham condições de ir para a igreja.

O trabalho social de Fátima se aflorou na adolescência. Nessa época, ela morava no bairro da Vila Operária, primeiro local planejado da cidade e construído para os funcionários da Fábrica de Tecidos Nossa Senhora do Amparo. Ali resolveu participar dos trabalhos da associação de moradores do bairro e se viu presidente. “Dona Delza Vasconcelos passou para mim”, diz Fátima, que durante os 13 anos sob o comando, verificou as necessidades e dava apoio às famílias que viviam em conflito. Assim, fazia o trabalho do associativismo.

Nesse período, já estava casada e teve três filhos: uma menina e dois homens gêmeos. O trabalho social talvez tenha sido sua válvula de escape. Ela se apegava muito ao trabalho social para ter forças no seu lar, já que sua vida em casa era de tribulações. O seu marido era dependente do álcool.

Ações com Famílias

Ao decorrer dos anos, Fátima Menezes se integrou a outros projetos que tinham o objetivo de auxiliar as famílias. Por 18 anos participou como voluntária do Juizado da Infância e da Juventude, período em que criou a Associação dos Comissários de Valença. Ela também trabalhou no Sesi, onde dava aulas para crianças e jovens carentes. Também auxiliava as famílias deles. Apesar de ser remunerada nessa época, Fátima já se doava mais do que estava destinada a fazer e a partir dali criou projetos próprios.

Ainda no Sesi, teve contato com um grupo de idosos, em que promovia atividades para a socialização. Nesse período, resolveu iniciar um novo grupo de mesma faixa etária no Centro Social Urbano, mas destinado para os mais carentes. “A periferia fica desassistida e me despertou buscar aquelas carências dos idosos que não são vistos e nem bem quistos”, diz Fátima Menezes.

Eventos com o intuito de promover a alegria às crianças foram realizados na praça da Vila Operária. Presença de palhaços, concursos da bicicleta mais ornamentada, promoviam a criatividade e um dia diferente para eles. Fátima também promoveu o projeto social “Bom de Escola e Bom de Bola”, em parceria com o antigo Emarc. O projeto incentivava o estudo, orientava pais e promovia atividades para 50 jovens feirantes durante dois anos.

“Eu fazia festas beneficentes na quadra da Vila Operária, quando Valença não tinha festa de São João. Nós reuníamos a comunidade e os recursos eram revestidos para a construção de uma residência”, diz Fátima, que por meio dessas festas pôde entregar uma casa para uma senhora deficiente, com seis filhos e o esposo com oligofrenia. “Foi a ação social que mais me marcou”, lembra Fátima.

O auxílio às famílias surgido desde a época da presidência da Associação de Moradores da Vila Operária levou Fátima Menezes a integrar ao grupo de conciliadores da justiça. “Tenho o perfil de ajudar as famílias que estão em desavenças. O meu perfil é de conjugar”, diz.

Voluntariado por meios de comunicação 

Fátima Menezes observou no rádio o meio de solicitar melhorias para localidades e contribuições para ajudar adoentados que precisavam de medicamentos e equipamentos. Assim que tinha uma demanda, “eu ligava para programas na Rádio Clube de Valença, de Dorgival Lemos, Roberto Melo, do saudoso Abel Queiroz”, cita Fátima Menezes.

O despertar da comunicação surge quando deixa o telefone e começa a participar dos programas no estúdio. Passado algum tempo, ela inicia um programa aos domingos na emissora. “Quando eu já trabalhava no Juizado da Criança e da Juventude, visitava muitas famílias e quando a gente chegava nas casas a gente percebia que os pais estavam dispersos da criança e eu busquei aproximá-los por meio do rádio”, lembra Fátima, que criou o “Clube da Criança”, espaço em que dava prêmios, contava histórias e tocava músicas destinadas para a idade.

Ainda na Rádio Clube de Valença, Fátima Menezes apresentou o programa “Luz da Fé”, “Chocolate com Pimenta” e a “Discoteca da Saudade”. Programas de entretenimento, mas que tinham espaço para o social. Por meio deles, diversas pessoas conseguiram cadeiras de rodas e de banho, muletas, cestas básicas que eram solicitados no ar.

“Tive a oportunidade de receber meu curso de rádio de forma gratuita e tirar meu DRT”, lembra Fátima, que há uns três anos não apresenta programas no rádio. “Estar fora do rádio é algo que eu mais sinto falta. O rádio leva a informação, a palavra de conforto e anima quem está debilitado”, afirma.

Recentemente, Fátima promoveu uma festa beneficente para seu amigo Jorge Passos com a ajuda de divulgações no rádio e nas redes sociais. “Ele era pintor na época da Prefeitura de Valença e não cobrava pelas faixas produzidas a meu pedido para projetos da Associação de Moradores da Vila Operária”, diz Fátima, que lembra que o evento foi para juntar fundos para um exame. “Ele foi acometido com a diabetes e culminou em uma cegueira. Então me vi no direito de ajudá-lo, já que há exames que não são feitos pelo SUS”, afirma Fátima.

Jorge Passos também faz trabalho social mesmo com a saúde debilitada. Sentado no sofá da sua casa, localizada próximo à Praça de Fátima e a cerca de 30 km do local em que Fátima mora, ele lembra de todo esse surgimento da amizade entre os dois, citado já por Fátima. “Ela sempre foi uma pessoa que procurou fazer o bem e beneficiar as pessoas”, diz Jorge Passos, que participou da festa em seu intuito. “Nunca é como a gente espera, mas graças a Deus transcorreu tudo bem. Deu muita gente. É cada um procurando ajudar o outro”, afirma Passos.

Quase que diariamente ela liga para o programa de Dorgival Lemos, na Rádio Clube de Valença, e também criou as principais redes sociais e um canal no Youtube. Por elas, Menezes faz momentos de oração para os doentes, promove reflexões e campanhas, além de mostrar os problemas da cidade. Há aproximadamente um mês estávamos na Praça do Gaivota, na Praia de Guaibim. Após conversarmos sobre a história da sua vida, o local destruído se originou em um vídeo solicitando melhorias. Fátima segue o que a mãe pediu: “Nunca pare meus trabalhos”.

Atualiza Bahia

Foto: arquivo pessoal

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