Como evitar que as férias desfaçam o que a escola ensinou sobre o uso consciente da tecnologia
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Após lei que proíbe celulares em sala de aula, educadora da FourC Bilingual Academy orienta pais sobre como preservar o equilíbrio digital no recesso escolar
A sanção da Lei nº 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares em sala de aula, reacendeu debates sobre os impactos da tecnologia no ambiente escolar — e o desafio de regular o uso das telas vai além dos muros da escola. Durante o período de férias, quando as crianças e adolescentes estão fora da rotina estudantil, uma pergunta vem à tona: como evitar que o excesso de telas comprometa os avanços construídos ao longo do semestre letivo?
Para Ana Paula Lilly, orientadora educacional da FourC Bilingual Academy, a solução não está na proibição total, mas na construção de relações mais conscientes com os dispositivos. “O grande desafio não é apenas manter um tempo de tela reduzido, mas encontrar atividades que ofereçam o mesmo nível de interesse e prazer que a tecnologia proporciona para as crianças e adolescentes”, afirma. Ela destaca que, nas férias, é comum que crianças fiquem mais conectadas sem se darem conta da quantidade de tempo que passou, o que reforça a importância de acordos familiares que ajudem a manter o equilíbrio entre vida on e offline.
Esses combinados, segundo Ana Paula, devem ser definidos antes mesmo do início das férias. Ela explica que o ideal é conversar com os filhos sobre o uso da tecnologia, definindo o que é permitido e em quais momentos. “Nem todo tempo de tela é igual. Há o tempo voltado ao lazer, como jogos e redes sociais, mas também o tempo de leitura, pesquisa ou criação”, argumenta. “Mais importante do que proibir é valorizar esse equilíbrio. A meta não é controlar rigidamente, mas transformar esse tempo em uma oportunidade para desenvolver consciência e alternar momentos com e sem conexão.”
Entre as atitudes que ajudam a preservar o progresso conquistado na escola, Ana Paula sugere oferecer alternativas atrativas longe das telas, como jogos de tabuleiro, passeios, leitura compartilhada ou atividades físicas. Mas ela também chama atenção para o valor do ócio. “Às vezes a gente tem essa angústia de preencher o tempo todo da criança, mas o tédio é bom. Ele pode trazer novas ideias, inventar brincadeiras, criar. Isso é algo que a tecnologia muitas vezes bloqueia.” Ela reforça que pais e responsáveis não precisam se preocupar em preencher todos os momentos dos filhos. Ao contrário, permitir que eles lidem com o vazio pode estimular a criatividade e a autonomia.
Outro aspecto importante é que os adultos sejam exemplo. “Se os pais estão o tempo todo conectados, fica incoerente exigir o contrário das crianças”, comenta. O uso da tecnologia deve ser uma conversa de toda a família. Segundo Ana Paula, é possível e necessário criar momentos e espaços livres de conexão com a internet, como nas refeições, antes de dormir ou durante passeios, para que todos possam desenvolver uma relação mais equilibrada com os dispositivos.
Para a especialista, o recesso pode ser um momento potente para desenvolver responsabilidade digital e habilidades de autorregulação. “Se a gente traz para a criança essa discussão desde o início, com combinados claros e participação ativa, fica muito mais fácil manter os acordos e evitar os excessos”, avalia. Segundo ela, a proposta não é desconectar por completo, mas aprender a estar conectado com propósito.
Vitória João – Mira Comunicação