Como cuidar de um carro que fica ao relento

Deixar o carro ao ar livre é um drama de muita gente. São vários os agentes que atacam a pintura: sol forte, chuva ácida, dejetos de pássaros, seivas vegetais e as temidas quedas de granizo fazem parte do pesadelo de quem não tem como estacionar em vagas cobertas.

A bancária Ritiele Veiga é daquelas que sofrem com a necessidade de deixar seus carros dormindo ao relento, já que ela e o marido sempre gostaram de automóveis antigos, mas nunca houve espaço para todos eles em vagas cobertas. Ela pensou ter achado a solução ao deixar seu L’Automobile Ventura, uma rara réplica nacional do Alfa Romeo 1931, protegido por uma capa. Mas nem isso ajudou. “Apesar de ter forração, a capa acabou provocando manchas na pintura depois de alguns anos”, afirma Ritiele. “Sob sol e chuva, ela acabou grudando na carroceria, mesmo tendo o interior de feltro. Por isso, faz mais ou menos um mês que desisti da capa, que fica guardada no porta-malas, não apenas por causa desses problemas, mas também para espantar os curiosos que queriam ver que carro estava por baixo.”

Isso não quer dizer que a capa não deva ser usada, mas ela precisa ser de boa qualidade e colocada com alguns cuidados, além de dar um belo trabalho se você precisar tirá-la e colocá-la todos os dias. Se esse for seu caso, o ideal então é ficar atento ao estado geral da pintura e providenciar toda semana uma lavagem, segundo recomendação dos especialistas.

De acordo com Antônio Cosimato, proprietário do centro de estética automotiva Deep Cleaning, “um carro que fica ao relento sofre e vai precisar de mais proteção para a pintura, com a utilização de uma cera de longa duração”. A aplicação da cera deve obedecer ao critério visual. Quando o carro perde o brilho, é hora de passar por um novo enceramento. Outro truque é ver se a água se acumula na lataria ou não. Se as gotas escorrem com facilidade, é sinal de que a carroceria está protegida pela cera e não precisa de uma nova aplicação.

Operação plástica

Cosimato também explica que, dependendo do tipo de automóvel, varia o grau de preocupação do dono. “O verniz da pintura de modelos importados de primeira linha, como Audi, Mercedes-Benz e BMW, é mais resistente, com aditivos de cerâmica. Por outro lado, uma lataria que foi repintada é mais suscetível à ação das intempéries”, diz Cosimato. “Mas em todos os casos existem alguns componentes, como plásticos e borrachas, que vão se deteriorando até chegar ao ponto de terem de ser trocados por outros, como é o caso dos frisos e vedações.” Para esse tipo de peça, existem em lojas de autopeças e hipermercados produtos conhecidos como protetores ou renovadores de partes plásticas.

Um dos agentes mais agressivos à pintura é o dejeto de pombos. “Recomendo ter sempre no carro uma garrafa d’água e um pano para retirar esse tipo de sujeira o mais rápido possível, principalmente se ele estiver exposto ao sol”, diz Cosimato. Já marcas de seiva vegetal, que pingam de alguns tipos de árvores, devem ser retiradas com solventes à base de hidrocarbonetos, conhecidos popularmente como tira-grude. Outro grande problema é a chuva ácida, causada pela combinação da água com os poluentes do ar, que acaba corroendo a pintura e deixando marcas esbranquiçadas. Nessa situação, pode ser necessário submeter a pintura a tratamentos mais intensos, conhecidos como polimento, cristalização e vitrificação, cada um com prazo diferente de duração.

Wilson Zimmermann, proprietário da funilaria SP Center Car, explica que o polimento tem efeito reparador e é realizado com o objetivo de corrigir danos na pintura e dar brilho, mas sem proteger a lataria. Feito com uma politriz que aplica uma cera especial, mais abrasiva, deve ser usado com parcimônia, sob risco de diminuir a camada de tinta. O processo é indicado para pinturas que estejam mais desgastadas ou riscadas e deve ser feito no máximo uma vez a cada dois anos, ao custo médio de 250 reais. “Já a cristalização tem algum efeito protetor contra sol e goteiras, entre outros agentes não tão nocivos. Ela custa em média 300 reais e chega a durar seis meses”, diz Zimmermann. Há ainda um terceiro estágio, a vitrificação, que forma uma camada de resina protetora da Tribond em cima do verniz, dura três anos e fica em torno de 600 reais, preço que acaba aumentando se o serviço for feito em concessionárias.

Outro vilão para o carro que dorme a céu aberto é a chuva de granizo. Aqui só mesmo um teto sobre a garagem ou uma capa revestida com forro espesso pode evitar o prejuízo. Especialistas em consertar esses pequenos amassados dizem que o tempo e o custo desse tipo de serviço varia conforme o tamanho das pedras de gelo que atingiram a carroceria. “Há casos em que conseguimos entregar o carro no dia seguinte e outros que exigem trabalho mais longo. O custo parte de 1000 reais e pode superar 2 000 reais em casos mais graves”, diz.

MANTO PROTETOR

Usar uma boa capa automotiva pode ser uma saída para proteger a pintura do carro que fica estacionado ao ar livre, porém é preciso ter alguns cuidados e escolher bem antes de comprar, senão você vai acabar gastando dinheiro à toa e ainda correrá o risco de ter a lataria manchada. Segundo a gerente de vendas da Bezi Indústria e Comércio, Valéria Rosa, a capa mais indicada para quem deixa o carro ao relento é a feita de polietileno especial texturizado com forração total, inclusive nas laterais. Ela deve ter também outros dois itens importantes: cabo de aço preso por um pequeno cadeado (o que evita furto e que ela se solte do carro com vento forte) e um pequeno balão inflável, colocado entre a capa e a capota, para facilitar a ventilação. Um modelo de boa qualidade custa entre 120 e 200 reais, dependendo do tamanho.

A dica mais importante, explica Valéria Rosa, é que a capa não deve ser colocada se ela estiver com a parte interna molhada, ou ainda caso o motor do carro esteja quente. “Só se deve usá-la com a lataria completamente seca. O material é impermeável, por isso não deixa a água penetrar e, em caso de mau uso, também não deixa a umidade sair. É isso que pode causar manchas”, diz ela. Portanto, evite os modelos mais baratos, feitos de PVC ou polipropileno, já que não resistem ao sol e podem até esfarelar com o tempo. E não use capa se a pintura não estiver em bom estado, ou no caso de veículos recém-pintados. *Quatro Rodas

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