Colunista Moacir Saraiva: “O senhor ainda bebe?”

         A idade não vem sozinha, além de trazer sabedoria para o sujeito, vem carregade panacuns abarrotadade doenças, algumas pessoas precisam de cestas extras para carregar as enfermidades.

Assim, muitos prazeres são tirados das pessoas que avançam na idade, seja por iniciativa própria ou por imposições, os anos, por mais que se viva uma vida saudável, arrancam graxas lubrificantes das engrenagens do nosso corpo, das  junções ósseas, às vezes, entopem as vias por onde circula o sangue, enfim cada idoso manifesta esse desmantelo em órgãos diferentes e, diante de todos os efeitos dessa desgraxatização do corpo, a recomendação incide em mudanças de hábitos a fim de os problemas avançarem mais lentamente. Mudanças na alimentação, na bebida, na mobilidade, aliado a isso, começa a fazer parte da bagagem do idoso um panacum de remédios.

         Quando o idoso toma consciência de suas limitações e se propõe a mudar hábitos com o objetivo de ter mais qualidade de vida, o sujeito não sofre, pois, para ele, suas opções têm um objetivo maior. Ese veem muitos homens e mulheres assumindo tal postura, seja nos hábitos alimentares, na mobilidade, no sono, enfim, eles criam convicções que essa nova forma de viver trará menos problemas à saúde. 

         Nem todos aderem a essa nova forma de viver, há aqueles que preferem continuar com a vida costumeira em nome do prazer. Alguns dizem: se eu comer eu morro, se eu não comer morro também, portanto vou comer tudo e pronto. A mesma postura é adotada, por alguns, em relação à bebida, além disso, permanecem em um sedentarismo maior ainda.

         Um amigo, já com mais de oitenta anos, lúcido, com uma mobilidade invejável, senhor de todos os seus afazeres, não abdicou de seus hábitos antigos, apenas não os pratica com a mesma intensidade e, agora, em menor número de vezes, por exemplo, a bebida, bebe pouco, mas quase que diariamente. Com relaçãoàalimentação, diminuiu as mais prazerosas sem, no entanto, excluí-la do seu cardápio,rabadas, caruru, acarajé, feijoada e outras dessa linhagem, que dão tanto prazer, mas são traiçoeiras, pois por um lado fazem um bem danado, pois dá prazer a quem come, entretanto funcionam como uma erva daninha em um organismo já cambaleando. Ainda assim, o amigo belisca esporadicamente tais iguarias.

         O pior para um idoso, não são esses cortes que, às vezes, são necessários, mas as cobranças dos parentes e “amigos”. Um sujeito novo encosta no idoso não preocupado com a saúde do longevo, e é bom que o idoso não fale de seus problemas para os estranhos e não estranhos, pois o que o sujeito quer é dar pitaco sobre sua vida, sobre sua alimentação, sobre bebida sobre a vida e se mostrar superior. De repente, o sujeito se torna médico, psicólogo, nutrólogo, geriatra, fisioterapeuta, o miserável entende de tudo e fica dando receitas de vida e prescrevendo medicamentos para o idoso. Esse tipo de gente quer que o idoso se vitimize, fale de suas dores a fim de ter pena. Um saco esse tipo de gente.

         O octogenário em questão foi instado por um conhecido na rua, e esse conhecido usando uma linguagem “respeitosa” fez o que o figurino manda fazer nesses contatos e depois de a conversa se estender um pouco mais, perguntou:

         – O Senhor ainda bebe?

         O idoso, o olhou de cima a baixo e respondeu:

         – Por acaso, já pedi para o senhor pagar alguma bebida para mim?

         O idoso se sentiu ofendido com essa pergunta de alguém que nem tinha intimidade e continuou:

         – Bebo e o faço às minhas custas, pois nenhum fdp tem nada a ver com minha bebida.

         Prosseguiu o octogenário:

         – No dia que eu ficar gelado e sobre uma mesa, aí sim, pararei de beber, pois serei sorvido pela terra. Já pedi aos meus amigos que levem bebidas para meu último adeus, e desejo que o senhor não vá.

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