Colunista Moacir Saraiva: “O deputado e o poeta”

Ano de eleição no sertão do nordeste é movimentado e, quando se aproxima, o rebuliço aumenta mais ainda. Muitos sertanejos são cooptados por um ou outro candidato, se muitos que estudam são adoradores de políticos, têm políticos de estimação, quanto mais o sujeito que nunca frequentou escola ou se o fez foi apenas para aprender a assinar a fim de tirar o título de eleitor. Por um agrado ou por outro, ele faz parte do séquito de um político ou de outro.

No sertão, eles usam muitos cartazes de seus candidatos, e os colocam nas portas das casas, nas janelas. Em casas próximas, se veem cartazes de candidatos de partidos diferentes, mas o sertanejo não se engalfinha para defender seu candidato como fazem os citadinos “sabidos”, que, nas redes sociais, denigrem a imagem de quem não concorda com eles, de uma maneira desrespeitosa e raivosa.

Hoje, a festa já diminuiu mais, entretanto, outrora, em período de eleições, era muita festa. A predileção dos políticos era futebol, se criava um torneio e o candidato dava bolas, uniformes completos, claro, com o nome dele nas camisas e comprava taças e medalhas. No último jogo, muita gente, carro de som com narrador, muita cerveja e a entrega da taça e das medalhas aos ganhadores, além disso, um comício. Festa do Santo do lugar era outro lugar preferido dos candidatos, mesmo que ele fosse evangélico. Na hora da missa, ele fica perto do padre empunhando uma bandeirinha, agitando-a e cantando os hinos da missa. Após o ato religioso, o canditato fazia um comício. Só em ano de eleição os candidatos se tornam religiosos.

É bem verdade que, em todas estas manifestações, há aqueles poucos que não comungam com o candidato e, alguns, até se insurgem, devido às falsas promessas emitidas de cima dos palanques, que, muitas vezes, ferem a consciência de quem tem um pouco de discernimento. E, em um desses encontros, o deputado e candidato à reeleição subiu em um carro com um som forte a fim de falar para o povo.

E começou a falar, que se eleito fosse, traria um posto de saúde para a comunidade, faria uma boa estrada para ter acesso à cidade e, por

fim, anunciou que colocaria grama no campo de bola da região a fim de criar escolinhas de futebol para as crianças e adolescentes. Antes de o candidato terminar seu discurso, um sujeito, levantou a mão, se arrumou e disse:

– Doutor, faz quatro anos que o senhor fez estas mesmas promessas aqui. E nada fez.

O deputado, fez que não ouviu e continuou seu lero lero, subiu o tom de voz e berrou para o público.

– Fiz muito por esta comunidade, vocês, que estão aqui, provam que trabalhei muito por esta comunidade.

O mesmo sujeito subiu em um tamborete e falou bem alto.

– Mentiroso.

O deputado ouviu, e ficou vermelho de raiva, encerrou o comício e de onde estava, arregaçou a manga da camisa, e deu uma banana para o inoportuno sujeito.

O sujeito, de cima do tamborete, respondeu ao candidato da seguinte maneira:

– Deputado sem compostura

Metido a suçuarana

Quando se vê perdido

Paga o voto com banana.

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