Colunista Moacir Saraiva: “O brado retumbante da AV ACM”

 

Nessa época de pandemia, às vezes, me debruço no peitoril de minha janela e observo aquele logradouro em que passa um carro de caju em caju, a movimentação das motos no mesmo ritmo dos veículos e a circulação de bicicletas não difere em nada dos motorizados.

Apesar da distância, consigo ouvir a voz carregada de emoção daquela via pública, ora emergem lamentos, ora ouço cantos, esses mais do que aqueles, ambos carregados de emoção.

Ao se referir a ausência de transeuntes ela discorre com tristeza, pois sente falta das vozes que brincam na porta dos bares e botecos, a ausência dos bêbados ela sente muito, segunda ela, servem para se contrapor aos carrancudos que por ali desfilam, a maioria dos tomados pelo álcool sorriem, não brigam, levam tudo na esportiva, enquanto isso, há os enfezados que levam tudo na ponta de faca, se aborrecem com tudo, gritam e xingam muito.

Além dos bêbados, sente falta das crianças ao saírem da escola, e aquelas sentadas ou brincando na porta da farmácia na entrada da Água de Março, a senhora avenida se diz contagiada pela alegria das crianças, com suas brincadeiras, seus sorrisos fartos e as peraltices dos estudantes.

A alegria é maior.

Ela está mais sorridente e saltita de alegria o dia todo e todos os dias – de manhã, de tarde, de noite e de madrugada – desde a decretação da quarentena. Do alto do Grimaldi, vejo até o piso da avenida balançar de alegria e ouço-a falando pelos buracos do asfalto e pelos quebra-molas, como se estivesse falando para todo o universo

– Como estou feliz, como estou leve, livre de pneus pesados, e só esporadicamente sou tocada por um ou por outro, e todos pequenos e educados, livre de ser uma lixeira, pois, sobre mim, já não são arremessados dejetos das janelas dos veículos, como é bom não receber constantemente um líquido amarelo gelatinoso arremessado da cavidade bucal, como é bom eu não sentir queimaduras advindas dos bagos de cigarros, como isso me tortura, livre também de óleos derramados por carros mal-educados, enfim, estou me sentindo cheirosa e serelepe.

Continua ainda dizendo que agora consegue cochilar, dormir e roncar.

Tudo na vida tem dois lados.

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