Colunista Moacir Saraiva: “O bolo gratuito”

                O garoto tem um pouco mais de quatro anos, nasceu antes de iniciar o terror da humanidade provocado pelo vírus maldito. Cresceu sem sair de casa, convivendo apenas com os pais, portanto não interagiu com o mundo e com outras crianças, com o mundo real das ruas, das praias, das lojas, dos parques. Esse guri faz parte de uma geração diferente por todos esses fatores, evidentemente que isso deixa marcas, não se sabe pontuar, mas no dia a dia, manifestações causadas por essa privação apareceram.

            A linguagem da criança, suas percepções e a falta delas, as roupas, os hábitos alimentares revelam as alterações provocada por esse confinamento a que ela foi submetida por alguns anos e aindanão se livrou dele. A criança ficou adulta bem antes do tempo, adultez em alguns aspectos e em outros revelam uma idade psicológica menor do que a idade física.

            Crianças sem ter contato com parquinhos, com sorveterias, padarias, mercados, lojas, nem dinheiro lhes foi apresentado. Seres sem noção do processo de compra dos produtos para comer, para se vestir e outros fins.

            Quando essa criançada começou a ir às ruas, quantas surpresas eles tiveram, um mundo totalmente novo, alguns vislumbraram com as coisas que viram, como se fossem pessoas com os olhos vendados e rapidamente tiraram as vendas e deram pulos de alegria, umas arregalaram os olhos sem acreditar no que havia fora de casa, enfim estão começando uma nova vida. Pois na vida real é que se veem as nuances do mundo.

            Um garoto dessa geração começou a sair de casa, ora com a mãe, ora com pai e se constituiu em perguntador exagerado, segundo os pais, mas eles tinham paciência e a tudo respondiam, porque compreendiam essa fase da criança saindo do segundo útero.

            Em um fim de tarde foram a uma padaria sofisticada, lancharam e foram comprar algo para levar para casa. A criança acompanhando os pais e viu uma prateleira com alguns bolos bonitos e ao lado de cada bolo o valor, a criança olhava os bolos lambendo os lábios, pois eram bonitos demais e ainda não provados por ele.

            Em outra prateleira, havia outros bolos, no entanto não os acompanhava a papeleta indicando o valor desses produtos. A criança olhou, reolhou e olhou novamente e sempre segurando na mão da mãe, disse:

            – Mãe, leve três bolos desses, um para mim, outro para você e outro para o papai.

            A mãe olhou para o filho e falou o seguinte:

            – Meu filho, esses bolos são caros.

            O filho, de imediato, respondeu.

            – Mãe, esses bolos são de graça, pois ao lado deles não tem o papelzinho dizendo o preço.

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