Colunista Moacir Saraiva: “Na pandemia, radicalizou!”

         Há histórias tristes e também engraçadas nesse tempo que se arrasta, se arrasta e se arrasta lentamente, cujo epicentro é a peste da pandemia e quanto mais os dias, meses e anos avançam mais ela se elastece, maisela cria novidades para não nos deixar em paz.

         Dialogar com esse vírus não resolve muito, aliás, nada. Conviver com ele numa boa é impossível, uma vez que ele não tem piedade e nem considera ninguém, ao se instalar procura invadir nosso corpo, buscando atingir nossos pontos mais vulneráveis para vivermos, às vezes, o bicho é mais forte do que nossa capacidade de reação, mesmo usando muitos antídotos, o peste parece ser protegido pelas entidades malignas que o deixam intocável e, depois de tanto judiar da gente, nos empurra para o outro lado da vida.

         Desde que ele deu ar da desgraça que causaria no mundo, todos ficaram sem saber o que fazer e muitos optaram pelo isolamento, ou foram obrigados a se isolarem, houve uma “radicalização” seja por parte dos indivíduos ou dos governantes, mas nada se compara ao personagem a que me refiro agora.

         O sujeito passou pela primeira fase da pandemia, ou seja, todo o ano de 2021, ora se isolando, ora não. Mora sozinho, mas tem um bom ciclo de amizades, é um sujeito de boa conversa, gosta de sorrir e por isso consegue atrair muitas pessoas. Acima de tudo um amante da vida. Ele, para seus interlocutores, sempre repete um excerto de Mário Quintana: a vida é tão bela que chega a dar medo.Ia na casa dos amigos, era também visitado, observando todos os protocolos prescritos, pois se trata de um sujeito consciente.

         Viu muitos amigos partirem, outros ficaram com sequelas e a maioria, apesar de ser invadido pelo peste do vírus, saiu sem nenhum efeito danoso.

         Agora, no início de ano, todos vislumbravam com o sumiço do vírus que nos proporcionaria uma vida mais tranquila sem sobressaltos, mas o bicho não foi vencido, ainda circula entre nós com bastante liberdade, parece que não tão violento como seus ancestrais recentes, mas se pega um corpo debilitado faz um estrago danado e também pode levar o sujeito a se encontrar com os que partiram antes.

         Esse sujeito ficou deveras assustado com o não recuo desse inimigo invisível, para piorar, o vírus sugou quase todas as energias de um vizinho, judiou dele, deixando-o debilitado e beirou dar adeus a este mundo. Fatos que deixaram o assustado acometido por uma fobia socialtão intensa que assustou as pessoas próximas a ele.

         Diante disso, o nosso amigo solitário ligou para umsupermercado, comprou mantimentos para quatro meses e pediu que os entregasse na residência dele. Ligou também para a padaria e comprou vários tipos de pães, suficientes para viver por 120 dias. Após higienizar o que veio da rua, organizou tudo o que comprara.

Após estar ciente de que tudo estava no seu devido lugar e com mantimento suficiente para sua sobrevivência no tempo programado, sentou em frente aocomputador e preparou um aviso inusitado, após concluí-lo, o colocou no lado de fora da porta principal da casa, em um lugar visível e todo transeunte que passava pela rua lia: DEVIDO AO CORONAVÍRUS NÃO QUERO VISITA, FIQUE NA SUA CASA QUE EU FICO NA MINHA. NÃO É TEMPO DE VISITA, QUER SER MEU AMIGO, SE CUIDE.

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