Colunista Moacir Saraiva: A sem fogão
Os filhos crescem e alguns solteiros vão morar fora, outros casam e também moram distante, há aqueles que, por circunstâncias, casados ou não preferem morar perto dos pais. Até mesmo para ficar mais próximos aos idosos e lhes dar atenção.
Essa dinâmica constata-se desde que o mundo é mundo. Agora, quando os rebentos são solteiros e estudam em outras cidades, os pais já sabem quando eles vêm visitá-los, as crias parecem que estão esfomeados e querem comer do bom e do melhor, pois, muitas vezes, onde estudam, comem mal por morarem ou sozinhos ou comerem em restaurantes ou ainda na universidade onde estudam e, como se sabe, aí é só para encher o bucho, pratos mais requintados e saborosos só na casa de mamãe e papai. Os pais se esmeram para que os pimpolhos se sintam bem, se sintam amados e fazem os pratos que eles gostam.
Conheci um casal, com dois filhos morando fora, e o casal ao comer frutos do mar no dia a dia, só comia moqueca de arraia, de sardinha, ou de outro peixe mais simples, no entanto quando as crias vinham em finais de semana, só rolava moqueca de camarão, de robalo ou outros peixes nobres. Só um exemplo do zelo desse casal com os filhos.
Passam um fim de semana ou férias ou feriados longos, enfim quando encontram um motivo eles vêm para debaixo da asa dos pais, a despeito de comerem bem, de serem paparicados, no entanto, quando retornam para a realidade deles, os pais ainda os paparicam dando-lhes mantimentos, ou se não dão, eles invadem a despensa a geladeira e algum outro espaço em que se guarde algo para comer e fazem a faxina. Quando eles vêm de ônibus levam pouca coisa, no entanto quando usam dos próprios carros para virem, a feira é bem maior, deixam os velhos à míngua, mas os pais sentem prazer em ajudar os filhos.
Outro dia, ouvi esse pai dizer à esposa, após o retorno dos dois filhos para a capital e terem feito um rapa significativo, poxa se esses meninos viessem de caminhão tinham levado até os móveis da casa.
E nessa família à qual me referi acima, uma filha não foi estudar fora e preferiu ficar perto dos pais, casou e morava bem perto, pois os velhos já passavam dos setenta, a filha os visitava com muita frequência, tanto ela como o esposo, e, muitas vezes, ou almoçavam ou jantavam. além de filarem a boia dos velhos, levavam uma quentinha para comer em casa.
Em um período, ficou constante essa visita, ou melhor, diariamente, na hora do almoço, ou iam os dois ou apenas a filha, mas levava a quentinha para o marido, após duas semanas, ela revelou que o fogão deles havia danificado e o reparo demoraria muito tempo, até explicou o motivo para se justificar, mas os irmãos, que estudavam na capital, não a perdoaram e as chacotas vieram, pois entre si, brincavam muito, após um mês, um dos irmãos enviou um zap para ela, constando o seguinte:
Minha irmã, no Brasil, há vários movimentos sociais e estão tendo apoio dos governos; os sem-terra, os sem-teto, dentre outros, esses são os mais fortes, agora, você, com esse fogão quebrado que não tem conserto, crie um, pois há muitos casais e até solteiros, na sua situação, sofrendo essa monstruosa injustiça e sendo humilhados pelos irmãos, juntem-se, lutem pelos seus direitos e busquem apoio na prefeitura, no estado e também no governo federal, será o MSF – Movimento dos SEM-FOGÃO.