Colunista Moacir Saraiva: “A fotografia da praça”

         Uma fotografia é considerada boa, quando não pede explicação nenhuma, ela, por si só, expõe todos os detalhes que foram alvo do crivo de um fotógrafo, e quem a contempla consegue vê-los com nitidez. Além disso, uma bela foto se eterniza, compara–se a uma peça clássica, seja um livro, uma música, uma escultura, pois nem o tempo, nem ideologias, nem guerras conseguem tirar o objeto fotografado das retinas de quem as viu.

         Uma imagem, às vezes, nos faz pensar e foi isso que aconteceu, fui a um consultório médico e, ao esperar ser chamado para a consulta, vi nas paredes, da sala de espera, belas fotos da cidade de Valença, fotos com uma roupagem profissional e de uma precisão impressionante dos detalhes. Iniciativa fantástica dessa clínica.

         Dentre as fotos que vi, me ative naquela que retratava a Praça da República, uma foto dela recém inaugurada na sua última reforma.O fotógrafo a fez da frente do Teatro e pegando muitos detalhes,a pintura dos bancos, a fonte luminosa, o equipamento destinado aos skatistas, o coreto ao fundo, enfim o ângulo da foto mostra a amplitude daquele logradouro e os donos dele desfrutando, pessoas andando e sem nenhum empecilho, afinal a praça é do povo, pois é ele quem paga impostos e deve usufruir dos equipamentos bonitos de qualquer cidade.

         Como seria bom se a fotografia paralisasse a imagem e o objeto fotografado não sofresse mudanças, mas, infelizmente, ela mostra o que foi, hoje, a praça está totalmente descaracterizada, invadida por comerciantes que precisam sobreviver, mas o povo, verdadeiro dono, precisa do espaço para desfrutar dele, os idosos, as crianças, namorados, jovens, adultos, todos estão privados de aproveitarem a bela estrutura encontrada na praça por causa de vendedores que chegaram e fincaram barracas e outros apetrechospara comercializarem seus produtos,apenas no cair do dia e início da noite, e de lá não tiraram mais suas parafernálias.

         Com certeza houve anuência do poder público para a desconfiguração da praça, para o seu aleijamento, para a transformação de um belo equipamento em um botequim durante à noite e em uma grande tapera durante o dia. Não se pode negara beleza que é a noite, na praça, pessoas alegres se divertindo, comendo, bebendo, um ambiente agradável e não pode desaparecer, no entanto essa manifestação alegre não deve deformar o cartão postal de Valença como está acontecendo, a grama onde ficam as barracas não existe mais, buracos feitos para sustentar os toldos que se tornaram peças de “enfeite” daquele espaço público, um ou mais carros trailer lanche também fazem parte desse cenário, tais peças desconectadas com o propósito de um equipamento daquela magnitude, além de tirarem a belezapriva os cidadãos de transitarem naquele espaço outrora belo e hoje mutilado.

         Nas grandes cidades, espaços públicos também são utilizados à noite para pessoas ganharem dinheiro, mas ao término de suas atividades, retiram os equipamentos e a praça fica livre com o objetivo de ser usada devidamente durante o dia por seus verdadeiros donos.

         Parabenizar ao fotógrafo que, com sua aptidão, com sua sensibilidade registrou um espaço que era um cartão postal para a capital do baixo sul, mas infelizmente, hoje, durante o dia se assemelha a uma grande tapera.

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