Colunista Joice Vancoppenolle: “Casillero del diablo, um vinho lendário”

Em visita ao Chile no princípio de 2015, me encantei com tamanha beleza natural do país e seus numerosos vinhedos. Santiago, sua capital, localizada no Vale Central, é bem estruturada, moderna e com uma badalação incrível que atrai turistas do mundo inteiro.
As cidades mais próximas da capital como Valparaíso, Viña Del Mar e San Antonio, abrigam belas praias e paisagens montanhosas de tirar o fôlego, seja em qualquer estação do ano.

Há cinco séculos foram plantadas as primeiras videiras em solo chileno pelos colonizadores espanhóis. Em 1970, o Catalão Miguel Torrès levou tecnologia avançada para a viticultura do país e transformou essa atividade num formidável sucesso econômico.

Há diversas vinícolas de respeito no Chile, mas as antigas adegas da Concha y Toro são as melhores para se visitar, degustar seus vinhos e descobrir o lugar onde há mais de 100 anos nasceu a lenda do vinho.

Sem dúvida, o Casillero Del Diablo – que significa armário do diabo –, tornou a Concha y Toro famosa no mundo todo. Mas não é apenas o vinho e a sua reconhecida qualidade, que cativou muitos consumidores, mas também a sua lenda, tão poderosa e fascinante, que permite que esta marca seja uma tradição na indústria do vinho. É por isso que aqui lhes conto um pouco mais sobre este famoso Casillero del Diablo em várias cepas. Seja Carbernet Sauvignon (minha favorita), Carmenère, Merlot, Syrah, Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Reza a lenda que D. Melchor Concha y Toro, aconselhado pelos maiores especialistas franceses da época, começou em 1883 a produção de vinhos de alta qualidade, que ele guardava na sua adega pessoal. Logo que a excelência dos vinhos produzidos se tornou famosa, começou a ter problemas com alguns inquilinos indesejados, que entravam furtivamente na sua adega para roubar vinhos da sua coleção. Astutamente, Melchor Concha y Toro difundiu entre os trabalhadores da vinha o rumor de que o diabo apareceria naquela adega. Com este mito, ele conseguiu salvar os seus melhores vinhos e, acidentalmente, deu vida a uma das lendas mais poderosas da indústria mundial.

Esta adega tem uma única porta e vários respiros, por onde certamente entravam os estranhos. Do respiro para o chão são 14 metros de distância. Uma construção impressionante. O edifício resistiu sem danos ao longo do tempo. E apesar dos tremores de terra frequentes no Chile, nenhuma fenda sequer foi aberta, graças à sua construção feita de “cal y canto”, típica no país nos séculos XVIII e XIX. Para unir os tijolos usava-se uma mistura de cal, areia e clara de ovo e um pouco de sangue, segundo dizem. A técnica que se utilizava combinava os ingredientes para juntar os tijolos, os quais vão gerando uma estrutura maior, com enormes arcos interiores.

Neste lugar, a temperatura varia apenas quatorze graus no inverno, dezesseis no verão e sem o uso de equipamentos de ar condicionado. O solo é de areia grossa e amarelada, e é regado semanalmente para manter elevada a umidade, que varia entre 70% e 100%.

Se você gostou da história leitor, sugiro que compre algumas garrafas do casillero del diablo e deguste com seus amigos e familiares, resenhando o que acabou de ler. Seja tinto ou branco, harmonize-o com colheradas de alegria, taças de boas risadas e acima de tudo, beba com moderação.

“Bebo o vinho do teu corpo devagar como se a boca fosse uma flor onde o tempo desenha um mapa da vida.”

Pablo Neruda

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