Ciclistas comentam dificuldades nas estradas baianas

Um levantamento realizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF-BA) nas rodoviais federais baianas mostra um aumento de 60% no número acidentes envolvendo ciclistas. O estudo compara o número de ocorrências entre janeiro e outubro de 2020 com o mesmo período em 2019. Se usar a bicicleta como meio transporte já é um desafio na cidade, ciclistas relatam apreensão ainda maior com relação às auto estradas.

De acordo com a PRF-BA, a taxa de acidentes envolvendo ciclistas cresceu em rodovias federais que passam pela Bahia. De janeiro até outubro foram registradas 70 ocorrências, sendo 31 graves. Em 2019 foram 58, também com 31 casos mais graves. Também foram registradas 16 mortes em acidentes envolvendo ciclistas. São seis a mais que em 2019, no mesmo intervalo.

O ciclista Elcimar Rocha, 37 anos, começou a andar de bicicleta em 2014. Ele conta que decidiu começar a praticar o esporte como uma forma de lazer, para relaxar e fazer amigos. “Através de uma vizinha que já pedalava eu soube de vários grupos que pedalavam na região de Lauro de Freitas”, conta.

Foi então tomando gosto e em 2015 já participava de competições de ciclismo. No mesmo ano, junto com um amigo que também tinha vontade de fazer percursos mais longos, ele se aventurou em viagens pela recôncavo baiano. Elcimar mora em Lauro de Freitas e já viajou para Santo Amaro, Cachoeira, Maragojipe, Salinas da Margarida e toda região da Ilha de Itaparica.

Elcimar começou a andar de bicicleta em 2014 — Foto: Arquivo pessoal

Elcimar começou a andar de bicicleta em 2014 — Foto: Arquivo pessoal

“Os desafios de viajar de bicicleta variam de acordo com o tempo de viagem. É necessário ter a preparação física”

“Outra coisa é a questão da segurança. Quando tem acostamento, como na BR-101, é ótimo. Mas há lugares que não têm ou têm mas não está capinado, isso faz com que tenhamos que ir bem perto da faixa contínua e isso às vezes nos coloca em situação de risco”, explica.

O atleta conta que nunca se envolveu em acidentes na estrada. Além disso, também não relata nenhum tipo de discussão com motoristas de outros veículos. Para Elcimar, esse tipo de situação ocorre mais nas cidades. “Na estrada, as pessoas são mais solícitas que nos centros urbanos”, disse.

“Eu tenho mais medo de andar na cidade que andar nas estradas. Por outro lado, há o problema de logística, que é lidar com possibilidade de a bicicleta quebrar ou faltar alguma coisa durante a viagem. Mas é possível lidar com isso se organizando previamente”, ressalta.

Por outro lado, há ciclistas que não andam pelas rodovias. É o caso da professora Ana Carolina Vasconcelos, que mora em Salvador e prefere andar pelas ciclovias na orla da cidade, pelas ruas de bairros e com pouco movimento. “Não me sinto segura”, diz.

A BR-116 foi a rodovia que registrou mais acidentes na Bahia. Em 2019 foram 21 acidentes nos primeiros 10 meses do ano, em 2020 já são 26. Atrás da BR-116, vem a 101, com 20 ocorrências, 10 a mais que no ano passado.

Cuidados

De acordo com a PRF, transitar em rodovias exige do ciclista atenção triplicada, principalmente em razão do fluxo e velocidade dos veículos que trafegam na via, o que potencializa a gravidade do acidente em caso de impacto com uma bicicleta. Dentro das cidades é possível trafegar em locais com a velocidade dos veículos bastante reduzida, quando comparada às rodovias.

Por causa disso é que muitos evitam as rodovias. No entanto, há medidas que podem ser tomadas pelo ciclista para não se colocar em risco.

É importante que o ciclista dê preferência, quando for pedalar em rodovias, por estradas que sejam duplicadas, que tenham acostamento e sejam bem sinalizadas. Evitar trafegar em estradas sinuosas, em pistas simples sem acostamento, pois são fatores que podem expor mais o ciclista.

Em caso de grupo de ciclistas, de acordo com a PRF, é importante que transitem em fila indiana, o mais longe possível da linha que divide a pista do acostamento. Para os motoristas, é necessário respeitar a distância de 1,5 metros ao passar ou ultrapassar bicicleta. O desrespeito caracteriza uma infração média, com penalidade de multa.

Orlando Schmidt, presidente da Federação Baiana de Ciclismo — Foto: Arquivo pessoal

Orlando Schmidt, presidente da Federação Baiana de Ciclismo — Foto: Arquivo pessoal

Para o presidente da Federação Baiana de Ciclismo, Orlando Schmidt, há um problema nas condições das estradas que dificulta o uso pelos ciclistas, tanto amadores quanto profissionais. “Muitas sem acostamento e sem devida sinalização”. Outra coisa que ele aponta é a necessidade de realização de campanhas educativas para o uso da bicicleta.

“Nunca vi na televisão, por exemplo, uma campanha educativa sobre a forma que se usa o transporte, de como se devem pedalar, normas de trânsito. Muitos acidentes acontecem com pessoas pedalando que não são atletas. Na Estada do Coco, por exemplo, vejo muita gente que usa a via na contramão”, ressalta.

Para o representante, no entanto, não se trata de exigir documentação para andar de bicicleta, até porque ela possibilita o acesso muita gente que não tem condições de pagar outros transportes de chegar ao trabalho.

“Mas é realmente muito importante reforçar campanhas de conscientização e que ensinem sobre a melhor forma de transitar de bicicleta”. *G1

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