Bronze no Mundial de atletismo, Caio Bonfim é suspenso por doping
por Demétrio Vecchioli | Folhapress
Quase um ano inteiro se passou e, nesta quinta-feira (19) a AIU (Athletics Integrity Unit), um órgão independente da IAAF (Associação das Federações Internacionais de Atletismo, na sigla em inglês), criado no começo do ano passado, informou o fim do processo e a suspensão de Caio por seis meses –pena mínima. Apesar de o doping ter sido antes do Mundial, ele não vai perder a medalha. Mais uma vez, comprovou-se que o brasileiro consumiu suplemento alimentar contaminado.
“Eu estou feliz por ter conseguido provar minha inocência. A gente ficou com muito medo, é uma sacanagem o que aconteceu. Eles viram que os resultados estavam muito estranhos, que isso não é do mundo do esporte exames, surpresa, fiz vários exames do passaporte biológico e eles viram que meu organismo é igual desde 2011. O Brasil precisa ter consciência melhor sobre os contaminados”, comentou Caio à reportagem. “Foi um pesadelo do qual acordei.”
O marchador inclusive já entrou com queixa criminal contra a farmácia de manipulação que forneceu o medicamento. Em maio do ano passado, ele passou mal durante a Copa Pan-Americana, no Peru, já por conta da ingestão do suplemento contaminado. De fato, à época ele desmaiou e foi parar no hospital com batimentos cardíacos muito acima do normal e, segundo ele, com urina negra. “Parecia Coca-Cola. Se fosse outra pessoa, que não atleta, teria morrido”.
Caio, que foi defendido pelo advogado Marcelo Franklin, está suspenso por seis meses, retroativamente a março de 2018. Portanto, ele pode voltar a competir já em setembro. A lista da AIU não dá muitos detalhes do caso, apenas que ele testou positivo para bumetanide, um diurético, e dá a data de 27 de fevereiro de 2018, quando teria sido realizado o julgamento.
Em julho do ano passado, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) sabia do risco de não ter Caio Bonfim no Mundial. Os pais dele, responsáveis pelo seu treinamento, se negaram a dar entrevistas à reportagem nos dias que antecederam a prova. Colegas disseram que Caio “sumiu” das conversas em redes sociais num momento que queriam mais informações sobre o que era, naquele momento, um boato.
A situação seguiu em segredo por meses a fio. Em maio, Caio Bonfim ficou fora da equipe brasileira que disputou a Copa do Mundo de Marcha, uma espécie de Mundial da modalidade. A CBAt alegou que ele havia pedido dispensa “para tratar de uma lesão no pé”. Na verdade, ele já cumpria suspensão.
120 CASOS
Nesta sexta-feira (20), a AIU soltou comunicado informando uma lista de 120 procedimentos disciplinares que passaram pelo seu controle desde abril do ano passado, sendo 118 de doping. A maior parte das punições já eram conhecidas, mas há nomes novos, como de Ruth Jebet, campeã olímpica e recordista mundial dos 3.000m com obstáculos, competindo pelo Bahrein –ela é natural do Quênia.
O caso de Jebet é um reflexo da letargia do atletismo para punir atletas que falharam em testes antidoping. O resultado negativo dela é conhecido desde março, quando o jornal britânico The Guardian revelou o caso em primeira mão. Nunca nenhuma entidade do atletismo havia confirmado o doping, o que só ocorre agora.
Dos 120 casos divulgados pela AIU, 85 são de medalhistas olímpicos e/ou mundiais e 47% deles são de russos –há ainda sete ucranianos e sete bielo-russos. Muitos são casos referentes a reavaliação de exames colhidos durante os Jogos de Pequim, em 2008.
Além de Caio, há mais uma brasileira: Juliana Moreira, velocista que caiu no doping pela segunda vez na carreira em 2014. Ela só foi julgada em 2017, pegando oito anos de suspensão, até 2022.
A AIU promete que, a partir de agora, vai atualizar a lista constantemente, informando cada passo dos casos que chegam até ela, desde a punição preventiva até o julgamento final. No Brasil, a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) já faz assim.