Colunista Moacir Saraiva: “Choro inusitado”

            Situações extraordinárias e esdrúxulas surgiram na pandemia, o vírus ou o medo dele deixou o juízo de algumas pessoas conturbado, por isso alguns comportamentos incomuns pulularam as famílias e os demais grupos sociais.

         Em casa, um dos três filhos pequenos do casal manifestou modos estranhos, pois esse comportamento adotado por ele, é comum a todas as crianças e seres humanos, agora com um tempo de duração curto. Nesse dia, o filho do meio exagerou no tempo e apesar de os pais investigarem os motivos, o garoto não parava de chorar e não conseguia falar.

         Dirigiram-se aos outros filhos, a fim de tentar descobrir o motivo do berreiro que não cessava, os pais pensaram que o filho mais velho tivesse feito algo para o menor e imposto a lei do silêncio, esse comportamento é comum, mas logo é descoberto. Não foi o caso desse interminável choro, ou melhor, escândalo.

         Os pais, pessoas instruídas, diante desse choro desabitual, em que as lágrimas não paravam de escorrer pelas bochechas da criança, chegaram a pensar que o filho estaria vivenciando uma depressão ou outro transtorno de humor. Isso a criança não tem condição de falar. Pensaram também em ser uma dor profunda e recorreram ao pediatra que estava viajando, este instruiu a feitura de alguns procedimentos a fim de detectar alguma dor localizada, tais procedimentos não deram nenhum indicativo. Diante disso, o médico recomendou que levassem o pequeno para uma emergência pediátrica. Pois parece grave o problema diante do desespero do garoto.

         Há três dias, antes desse derramamento de lágrimas, ele sofrera uma queda em que arranhou o joelho, mas nada de grave, inclusive no dia, não houve nem choro do menino. Logo, essa choradeira não era motivada por esse incidente, até mesmo o médico chegou a esta conclusão.

         Outros familiares já haviam chegado à casa do garoto a fim de dar suporte aos pais, uma vez que o desespero era grande, afinal lidar com um sofrimento desconhecido deixa qualquer um desnorteado.

         A última a chegar foi a avó materna, que, ao longo dos seis anos da idade do garoto, esteve muito próxima a ele. A avó pôs o garoto no colo, nada perguntou, fez carinho acolhedor e à medida que a avó aumentava o omassagear, o pimpolho foi se acalmando e todos ficaram felizes, pois agora se saberia o motivo que o levou a este destempero choroso.

         Ele olhou para a avó e falou sem ninguém perguntar, mas ao falar o choro voltou não tão intenso, o soluço choroso tomou conta e a fala saia saltitando:

         – Minha vó, me roubaram ou eu perdi.

         Aqueles que estavam presentes fizeram uma roda em volta da avó com o garoto no colo

         E o choro do menino voltou com intensidade, deixando a todos apavorados.

         Outra sessão de afago e o menino se acalmou e a avó indagou:

         – Meu filho o que te roubaram ou você perdeu?

         Ele suspirou, estancou o choro e respondeu:

         – Roubaram ou perdi o cascão de minha ferida do joelho.

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