Salvador: Especialista critica fim do Samba de São Lázaro e alega ‘caça’ à cultura negra
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Em pleno Novembro Negro, mais uma ação contra a cultura popular acontece com o fim do Samba de São Lázaro, festa que se tornou tradição todas as sextas-feiras no bairro da Federação, em Salvador. Considerado um espaço de exaltação à negritude, o evento se tornou alvo de uma ‘caça’ desmedida pela opinião pública e políticos, o que para a especialista em relações étnico-raciais e gênero, Tainara Ferreira, é uma consequência discriminatória.
A organização do samba, que reunia centenas de pessoas durante toda a madrugada, encerrou as atividades em um comunicado no último sábado (23) depois de uma limitação judicial imposta, fazendo com que as últimas edições ocorressem entre 19h até às 22h, extinguindo o costume anterior. Esta medida polêmica foi fruto de uma articulação do vereador Duda Sanches (União) com alguns moradores da região, que reclamavam sobre a duração da programação semanal. Em relação a isso, a consultora evidenciou a diferença no tratamento com outros festejos que ocorrem na cidade, principalmente aos que atendem o público branco em sua maioria.
“Tenho carinho pelo vereador, mas gostaria de entender o motivo para essa decisão. O Samba de São Lázaro virou rota cultural, será que ele tem noção de quantas pessoas do mundo todo passavam por lá? Ou o dinheiro para o povo negro não te preocupa?”, questionou Tainara, em todo de crítica, à ação do parlamentar.
Em relação a isso, a especialista explica que, além da importância artístico-cultural, existe a geração de renda para a classe de comerciantes (majoritariamente pretos), que mantiveram seus sustentos durante a realização desta festividade por 3 anos. Agora, com a série de proibições que levaram ao ‘estrangulamento’ do samba que acontecia em frente à Igreja de São Lázaro, haverá um baque significativo.
“Diversas barraquinhas eram instaladas ali, fizeram a economia girar, com a possibilidade de dignidades àqueles que ali trabalhavam. Todos saiam lucrando, os comerciantes, o público que era bem atendido e tinha um momento de lazer propício e representativo, e o poder público, que captava mais tributos com esta circulação de capital. No entanto, parece que nada disso é importante”, pontuou Tainara.
Por fim, de uma maneira elucidativa, a estudiosa no campo racial – que é nascida e criada em Salvador – relembrou que o lazer sociocultural para zonas periféricas também faz parte de benefícios à saúde pública, já que favorece o bem-estar comum e, em casos de opressão como este, é um retrocesso aos movimentos civis.
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