Refluxo de urina pode causar infecção ou insuficiência renal

 

Cerca de 50% das crianças com infecção urinária apresentam RVU

Apesar de ser encontrado em até 50% das crianças que têm ou já tiveram infecção urinária, poucas pessoas sabem o que é ou sequer ouviram falar no refluxo de urina da bexiga para o ureter (refluxo vesicoureteral ou simplesmente RVU). Entretanto, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado desse problema podem evitar danos como a infecção renal chamada de pielonefrite, capaz de lesionar os rins, e a insuficiência renal crônica. O tratamento da doença pode ser medicamentoso, endoscópico ou cirúrgico.

 

O plano terapêutico depende do grau do refluxo, da idade da criança na época do diagnóstico, do número e da severidade das infecções urinárias, da extensão da lesão ou cicatriz renal, entre outros fatores. De acordo com o urologista pediátrico Leonardo Calazans, a princípio, “a criança recebe uma baixa dose diária de antibiótico para prevenir uma nova infecção urinária até que o refluxo se resolva espontaneamente ou seja corrigido cirurgicamente”.

 

Crianças com infecções urinárias podem apresentar febre; dor abdominal; dificuldade para urinar, acompanhada ou não de dor, aumento da frequência e da urgência para fazer xixi, episódios de perda de urina ou, raramente, hematúria (sangue na urina). Além da cultura de urina, exames como ultrassonografia e retrocistografia miccional (UCM) podem ser solicitados para facilitar o diagnóstico de RVU.

 

Causas – Normalmente, na porção que entra na bexiga, o ureter passa por um “túnel” de mucosa. Quando a bexiga se enche, a pressão da urina fecha este túnel ureteral, tal como uma válvula. Se este túnel for muito curto ou ausente, ocorre um retorno anormal de urina da bexiga para o ureter e rim, ocasionando o chamado refluxo vesicoureteral primário. Entretanto, o RVU também pode ser consequência de outros problemas da criança, tais como distúrbios miccionais e bexiga neurogênica, entre outros, caracterizando o refluxo vesicoureteral secundário.

 

O RVU é classificado em cinco graus. O grau I é muito leve (ocorre apenas no ureter, não atingindo o rim), enquanto o grau V é o mais severo e apresenta acentuada dilatação do ureter e do rim. Além de auxiliar na decisão sobre o tratamento, identificar o grau do problema permite ao especialista estimar o prognóstico do paciente. “Os graus mais severos (IV e V) estão associados com baixas taxas de resolução espontânea e maior incidência de lesão ou cicatriz renal, se não for tratado adequadamente”, destacou Leonardo Calazans.

 

Tratamento – Segundo o urologista, é possível a utilização de medicamentos como recurso observacional para conter as infecções decorrentes do refluxo vesicoureteral, visto que, na maioria dos casos, o RVU regride espontaneamente à medida que a criança cresce. “Este plano terapêutico consiste na administração de baixa dose diária noturna de antibiótico por via oral. Uma uretrocistografia miccional deve ser realizada anualmente para avaliar se o refluxo se resolveu. Se o problema persistir ou se a criança continuar a ter infecção urinária febril, a cirurgia pode ser necessária”, explicou o especialista.

 

O tratamento cirúrgico é reservado também para as crianças com maiores graus de refluxo ou que apresentem piora da lesão renal devido a infecções urinárias recorrentes. Na cirurgia, o ureter é reposicionado na parede da bexiga, criando-se um mecanismo anti-refluxo. A cirurgia aberta é feita através de uma pequena incisão no baixo ventre (semelhante à de uma cesariana), mas pode ser realizada também por via laparoscópica. Geralmente, a criança precisa usar uma sonda e dreno ao redor da bexiga por algum tempo. A internação hospitalar dura em  torno de três dias.

 

“O tratamento cirúrgico aberto tem sido cada vez menos utilizado após a evolução da correção endoscópica”, frisou Leonardo Calazans, atual preceptor de urologia das Obras Sociais Irmã Dulce (Salvador) e do Hospital Estadual da Criança (Feira de Santana) e diretor do núcleo de urologia no Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR). O procedimento endoscópico, minimamente invasivo, é realizado através de um aparelho chamado cistoscópio que, introduzido pela uretra, permite visualizar o interior da bexiga. Neste caso, nenhuma incisão cirúrgica é necessária. “Esta endoscopia anti-refluxo dura cerca de 30 minutos e o paciente tem alta hospitalar no mesmo dia. O sucesso dessa modalidade de tratamento depende do grau do refluxo, mas a taxa média de sucesso é de 85%”, concluiu o urologista.

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