Prefeito de Itabuna, na Bahia, explica declaração polêmica: ‘Pressão que estou levando ser humano nenhum aguenta’
Na última quarta-feira (1º), uma declaração do prefeito de Itabuna, Fernando Gomes (PTC), através de transmissão na internet, sobre a reabertura do comércio na cidade, ganhou repercussão nacional após ele dizer que autorizaria que estabelecimentos comerciais reabrissem as portas “morra quem morrer”. Um dia depois, a gestão municipal divulgou uma nota afirmando que o prefeito foi mal interpretado e, nesta sexta-feira (3), em entrevista ao G1, Fernando Gomes explicou a declaração.
Fernando Gomes, que tem 81 anos e está no quinto mandato como prefeito em Itabuna, afirmou que a frase foi dita em um momento de pressão sofrida por ele durante o combate à pandemia do coronavírus na cidade.
“A gente diz as coisas e coloca umas palavras soltas, de raiva, já que está na pressão. Não colocaram o que eu disse antes. Ninguém fez mais em saúde em Itabuna que Fernando Gomes, tenho cinco mandatos de prefeito. Todos os postos daqui fui eu que construí. A pressão que estou levando ser humano nenhum aguenta. O governador está no palácio, prefeito está no palácio e prefeito está na rua. O Hospital de Base de Itabuna está hoje com 82 leitos, 10 leitos de UTI. Eu ia abrir [o comércio] e quando chegou na segunda-feira estourou [o número de casos da Covid-19] , encheu a Santa Casa e os 10 leitos de UTI do Hospital de Base. Sabe o que aconteceu? O prefeito que se vire para resolver o problema”, disse Fernando Gomes.
A previsão da prefeitura de Itabuna era colocar em prática a flexibilização das atividades comerciais a partir da última quarta-feira (1º). No entanto, a reabertura foi adiada porque o município registra 100% de ocupação dos leitos de UTI para pacientes com a Covid-19, conforme apontou relatório da Procuradoria Jurídica do Município.
De acordo com o último balanço divulgado pela prefeitura de Itabuna, na sexta-feira, a cidade contabiliza 2.863 casos confirmados da Covid-19, 1.136 pessoas curadas e 72 mortes. Dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), informados no mesmo dia, dão conta de que o município é o quinto da Bahia com maior coeficiente de incidência por 100 mil habitantes, atrás apenas de Itajuípe, Gandu, Ipiaú e Uruçuca, todas também no sul do estado.
Na quarta-feira, Fernando Gomes falava sobre o processo de retomada do comércio na cidade quando, ao citar o dia de provável reabertura, disse “morra quem morrer”. A declaração foi parar nas redes sociais e teve uma repercussão negativa.
“Primeiro, lutar pela vida, a vida é uma só. [Depois que] morrer, acabou [a vida]. Não tem fortuna, não tem pobreza, não tem falência, não tem nada. Mas não posso abrir uma coisa que não tenho cobertura. Com a dúvida, com os nossos morrendo por causa de um leito em Itabuna, vou transferir essa abertura. No dia 8, mandei fazer o decreto, que no dia 9 abre, morra quem morrer”, disse o prefeito na quarta-feira.
Ao G1, nesta sexta, o prefeito lembrou os 115 dias de fechamento do comércio não essencial, mas garantiu que não tem qualquer descaso pela vida da população. O gestor disse também que se arrependeu da declaração.
“A pressão que recebo hoje em Itabuna, pouco ser humano aguenta receber. Uma palavra que eu disse. Agora querem criticar. Tudo política. Se você está em uma pressão, solta uma frase qualquer. Se está numa guerra, solta uma frase. Uma frase que um homem que está governando o município. Quer matar alguém? Não. Minha preocupação sabe o que é? O comércio está há 115 dias fechado”.
“Sim [me arrependo]. Você solta uma frase… Bolsonaro solta, presidente dos EUA. Diz uma coisa e sai outra. É na pressão, o cara está nervoso com a pressão. Não é verdadeira [a frase] porque eu sempre procurei nos meus governos saúde e educação. Meu trabalho é esse e por isso me elegeram”, continua.
Um dia depois da declaração do prefeito, o governador da Bahia, Rui Costa, decretou toque de recolher em Itabuna. Fernando Gomes explica que já tinha decidido pela medida por três vezes mas, na última, a Justiça suspendeu o decreto.
“Fiz o primeiro, segundo e terceiro [toque de recolher]. Só que o juiz de Itabuna derrubou meu decreto. Aí disse ao governador, que decretou. O juiz que não vai na rua, não vê a situação, derruba. A lei é para se cumprir”.
“[O governador] falou comigo, conversamos tudo. Uma frase que eu disse. Quem mais fez e faz pela vida sou eu em Itabuna na história. A imprensa bota só uma palavra. Estou consciente, sou cara de fé, sei o que estou fazendo”, continua o prefeito.
O prefeito de Itabuna reafirma o desejo de abrir o comércio da cidade, mas com segurança.
“Quero abrir comércio com segurança. Se eu tivesse, hoje, 20 leitos disponíveis, abriria hoje. Tem que ter normas, começar 9h e terminar 16h, todo mundo com máscara, álcool em gel na porta. Meu decreto é duro”.
“Vida é vida. O que está acontecendo nesse país…O desemprego é grande, situação difícil. Temos que combater o vírus e depois resolvemos a fome. Medidas duras têm que ser tomadas. Temos que zelar pela vida e também olhar que o cara tem que trabalhar. Agora conforme as normas para que o povo não perca seu emprego”, conclui
*G1