Jeep, Rural, Veraneio e Bandeirante: conheça os “avôs” dos SUVs que você vê hoje nas ruas

Os SUVs (Sport Utility Vehicle, ou Veículo Utilitário Esportivo) são sonhos de consumo de uma grande parcela da população. Muita gente quer um carro alto e que une características como robustez, muito espaço interno e conforto. Mas isso nem sempre foi assim no Brasil. Antes da liberação de importações, que aconteceu no início da década de 1990, o mercado tinha poucas opções de veículos desse tipo e nem todos eram objetos de desejo dos consumidores urbanos – especialmente as mulheres.

Selecionamos aqui alguns exemplos de automóveis que podem ser considerados os pioneiros do universo off road e do conceito de veículos com múltiplos usos no país. Eles são de um tempo em que não se pensava em ar condicionado para esse segmento, tampouco existia controle de estabilidade para evitar que o centro de gravidade elevado aumentasse o risco de capotamentos. Saiba mais um pouco sobre eles.

Imagem: https://www.flickr.com/groups/willys/ usada sob licença Creative Commons
Imagem: https://www.flickr.com/groups/willys/ usada sob licença Creative Commons

Jeep
“Somente a Willys fabrica o veículo autorizado a usar a marca Jeep”. Era o que dizia, na década de 1960, o anúncio da montadora que trouxe o veículo mais emblemático do segmento off road para o país até hoje. É que a força do seu nome era tão grande que acabou sendo associado, no país, a todos os veículos com robustez suficiente para andar nas trilhas.

A verdade é que, mesmo com o esforço da empresa, o nome Jeep acabou sendo incorporado – e abrasileirado, com a grafia “jipe”. Hoje, graças ao veículo que foi pioneiro entre os aficionados pelo universo off road, vários SUVs são chamados pelo apelido que veio dele.

O Jeep, segundo sua fábrica, “nasceu para os campos de batalha”. Criado nos Estados Unidos para enfrentar a crueza da Segunda Guerra Mundial, ele deveria ser “tão resistente quanto os homens e as mulheres que iriam dirigi-lo”, de acordo com a Jeep. Passado o conflito, sua praticidade e robustez ganharam o mundo. O carro chegou ao Brasil na década de 1950 e foi sucesso no país, com suas (muitas) estradas precárias.

Dada a sua rusticidade, o Jeep não tinha o conforto como uma das características marcantes. O veículo não vinha de fábrica com teto: a opção era usar uma capota de lona e plástico colocada manualmente através de encaixes bastante rudimentares que faziam considerável barulho com o veículo em movimento. O câmbio tinha duas alavancas: a da transmissão principal, com apenas três marchas – o forte do carro era a força, não a velocidade – e outra menor da redução. Os engates eram duros e exigiam mão firme do motorista.

Quem vê o luxo dos modelos da Jeep, hoje, incluindo o Renegade, não imagina que eles vieram de uma ideia tão rudimentar. Mas a verdade é que eles devem toda a robustez que ostentam hoje ao bom e velho carrinho nascido para enfrentar os caminhos repletos de buracos de bomba da Segunda Guerra.

Imagem: Victor Camilo (https://www.flickr.com/photos/victorcamilo/7002561466/) usada sob licença Creative Commons
Imagem: Victor Camilo (https://www.flickr.com/photos/victorcamilo/7002561466/) usada sob licença Creative Commons

Rural
A resistência do Jeep. O conforto de um carro de passageiros. A força de um caminhão”. Era o que os consumidores liam em anúncios da Rural. O Jeep consagrou-se como veículo extremamente robusto, mas não era exatamente um exemplo de conforto e espaço. Para consumidores que desejavam um modelo que continuasse capaz de enfrentar estradas ruins, mas com características mais próximas de um carro de passeio para poder levar a família, a Rural, também fabricada na Willys (mesma indústria de origem do Jeep e derivada do utilitário), era mais apropriada.

A proximidade entre os dois modelos se mostrava até na aparência: as primeiras versões da Rural tinham uma frente extremamente parecida com a do Jeep. Com o passar dos anos, no entanto, suas linhas foram sendo mais suavizadas. O modelo foi lançado no mercado brasileiro logo depois do Jeep, na década de 1950, e seguiu sendo produzido até o fim da década de 1970.

Andar na Rural era uma experiência bem diferente da que se tinha no Jeep. Com sua carroceria mais longa, de 4,59 metros, o veículo também era rústico, mas trafegava com um pouco mais de suavidade. Além disso, ela era generosa em espaço: suas propagandas destacavam que tinha capacidade de levar com conforto (considerando os padrões da época) seis pessoas, fora o imenso bagageiro. Com os bancos rebaixados, ele levava quase 2.800 litros.

A Willys-Overland, fabricante dos modelos da marca Jeep, foi incorporada à Ford. Com isso, a montadora lançou versões da Rural menos rústicas, voltadas principalmente para consumidores urbanos. Lançada inicialmente com o câmbio de três marchas e a tração 4×4 do Jeep, ela ganhou opção de transmissão com quatro velocidades e tração 4×2.

Veraneio
Imagem: Delfino Francelino de Mattos (https://www.flickr.com/photos/delfinomattos/) usada com modificações sob licença Creative Commons

Veraneio
Caso você não conheça, existe uma música da banda de rock Capital Inicial que se chama “Veraneio Vascaína”. Ela fala um pouco sobre a história do veículo que, durante muitos anos foi usado pelas forças policiais no Brasil. O termo “Veraneio Vascaína” se refere às cores preta e branco, usadas em vários estados para pintar o modelo. Com seu amplo espaço no bagageiro, ela era uma das únicas do mercado, na época (início da década de 1960, quando foi lançada), capaz de abrigar os suspeitos.

A fama de veículo de órgãos de segurança, vale ressaltar, não é justa com o leque de possibilidades que a Veraneio permitia. Pela fartura de espaço interno e maciez da suspensão, foi muito usada como ambulância. Além disso, ela era um veículo capaz de levar uma família com espaço e conforto. Diferentemente da Rural, o modelo não tinha apelo off road, apesar de ser um carro alto. Era uma station wagon com capacidade para levar até nove pessoas (um terceiro banco permitia a acomodação de mais três passageiros na parte de trás).

Sem concorrentes durante muito tempo, a Veraneio passou por suaves reestilizações até o fim da década de 1980. A mudança radical em sua carroceria só aconteceu quando o mercado nacional foi aberto para os importados. No entanto, a grande distância que existia entre o modelo, em termos de tecnologia e desempenho, e os que chegaram de várias fábricas ao redor do mundo não permitiram que ela continuasse sua trajetória de sucesso com o novo design. Por isso, a imagem que ficou no consciente coletivo foi mesmo a das versões iniciais.

Bandeirante
Imagem: John Lloyd (https://www.flickr.com/photos/hugo90/) usada sob licença Creative Commons

Toyota Bandeirante
“Treme mais que Toyota em ponto morto”. Nos tempos em que nem se cogitava o sucesso que modelos como Corolla e Hilux fariam no Brasil, a referência de veículo com a marca japonesa era um jipe que tinha como uma das principais características o motor a diesel forte e robusto, mas com alto nível de vibração, o que lhe rendeu até esse dito popular. O veículo chegou ao país primeiro com unidades que tinham as peças importadas e eram montadas aqui, ainda na década de 1950. A produção em fábrica local começou em 1959.

Com tração 4×4 e muita resistência, o Bandeirante teve vida longa no Brasil. Sua produção só foi encerrada em 2001, aproximadamente uma década depois da abertura do mercado nacional aos veículos importados. Quando ele saiu de linha, os consumidores já haviam tido oportunidade de conhecer opções de utilitários muitos mais modernos e confortáveis, mas de acordo com a Toyota, não foi a falta de demanda que levou a parar a produção, e sim a inadequação do modelo a novas regras de emissão de poluentes que haviam entrado em vigor no Brasil. É provável que ainda houvesse mercado para o carro, principalmente por causa do sua fama de robustez e disposição para o trabalho.

Um detalhe interessante é que os primeiros modelos vinham com motor a gasolina. O motor célebre, cujo barulho e vibração lhe renderam o apelido de “britadeira”, nem era fornecido pela Toyota: ela o comprava da Mercedes-Benz. A indústria alemã forneceu praticamente todos os motores usados pelo Bandeirante. Só em 1998 ele foi substituído por um fabricado pela japonesa Daihatsu.

Outra curiosidade sobre o jipe é que ele, por incrível que pareça, é um ancestral do sofisticadíssimo Land Cruiser Prado. O nome do Bandeirante fora do Brasil, inclusive, era Land Cruiser. O Prado vem da Série 70, que substituiu a Série 40 (de onde veio a Bandeirante). As linhas das versões iniciais da Série 70, inclusive, lembram bastante as do Bandeirante. No entanto, a evolução de design e de tecnologia da Série 70 – que não aconteceu com a Série 40 – se encarregou de criar a distância abissal entre os modelos de cada linha.

 

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