Infectologista esclarece dúvidas sobre a AIDS e alerta: avanço do tratamento não pode afrouxar prevenção

 

Historicamente identificada em grandes centros, doença se interioriza na Bahia e está presente em quase 70% do estado

por Andréia Vitório 

Dos 417 municípios da Bahia, o vírus HIV está presente em 288, ou seja, em quase 70% deles, de acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. De 2017 até meados de 2019, foram registrados 6.121 novos casos – sendo 2.587 em Salvador, 352 em Feira de Santana, 211 em Itabuna, 159 em Camaçari e 142 em Lauro de Freitas, para citar os cinco locais de maior ocorrência. Os números podem ser ainda maiores, pois há aqueles que têm o vírus e não sabem. No Brasil, esse é o caso de 135 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde. Em todo o mundo, estima-se que 9,4 milhões de pessoas não sabem que têm o HIV.

 

“Ainda é comum as pessoas terem medo de fazer o exame. E, como o vírus é silencioso, muitos convivem com ele sem saber, o que é grave, já que o diagnóstico precoce é fundamental para o êxito do tratamento”, analisa Celso Granato, infectologista e diretor Clínico do Grupo Fleury, detentor da marca Diagnoson a+, em Salvador. Se por um lado  há  conquistas como a queda de mortes associadas à Aids, principalmente em virtude da efetividade dos tratamentos disponíveis, e o fato de que 85% das pessoas em tratamento chegam a zerar a carga viral, ou seja, convivem com vírus HIV, mas não o transmitem; por outro, ainda é preciso alertar para que não haja um descuido da prevenção, o que pode acarretar em novas infecções.

 

“A Aids ainda não tem cura e nem há vacina para ela. O tratamento, por sua vez, é para a vida toda e, por mais que hoje ele esteja mais personalizado e com menos efeitos colaterais, não pode ser desculpa para afrouxarmos a prevenção. A infecção pelo vírus HIV ainda é um grave problema de saúde pública, com sérios danos para a imunidade, podendo, em virtude das chamadas doenças oportunistas, levar ao óbito”, afirma Granato.

 

A seguir, o especialista esclarece outros pontos importantes para se avançar no combate à Aids.

 

Como posso me prevenir?

A camisinha é fundamental não só para evitar a transmissão do HIV como de outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e hepatite. É recomendado não compartilhar seringas e outros aparelhos cortantes que têm contato com o sangue. Uma dúvida muito comum é sobre manicures e estúdios de tatuagens. Nesses casos, não é possível a transmissão do HIV, mas sim dos vírus B e C da Hepatite. Agulhas e seringas devem ser esterilizadas e descartáveis. Ter seu próprio kit para unhas é uma boa pedida e escolher um local que te inspire confiança, também.

 

E a Profilaxia Pré (PrEP) e Pós (Pep) exposição sexual? Como funcionam?

A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) previne o contágio por meio de um comprimido, disponível no SUS para alguns grupos de risco. Ele tem eficácia de 80% a 90%, mas não substitui o uso da camisinha, já que não protege contra as demais doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, que vem aumentando no Brasil. Já a Profilaxia Pós-exposição sexual (Pep) funciona como uma espécie de pílula do dia seguinte, porém não deve ser usada de forma rotineira. De toda forma, vale frisar: a camisinha é a melhor opção para se evitar a Aids e todas as outras infecções sexualmente transmissíveis.

 

Todo portador do vírus HIV tem AIDS?

Nem sempre. Quem adquire o vírus não necessariamente vai desenvolver a Aids. O avanço de tratamentos também contribui para que portadores do vírus não desenvolvam a doença. Quanto mais precocemente o indivíduo saber que possuiu o HIV, mais chances ele tem de obter êxito em tratamentos, que são para a vida toda.

 

Como faço para saber se tenho o vírus HIV?

É preciso fazer um exame de sangue específico, chamado anti-HIV.

 

Os testes rápidos funcionam?

Os testes rápidos, feitos a partir de uma gota de sangue ou da saliva, funcionam, mas podem, mesmo que raramente, apresentar falhas. É preciso, também, ter atenção à janela imunológica, que é o período entre a infecção e a produção de anticorpos pelo organismo contra o HIV em quantidade suficiente para serem detectados.

 

Quais são os sintomas da Aids?

Passada a fase assintomática, os sintomas mais comuns são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento, o que pode ser confundido com outras enfermidades. O resultado do exame é fundamental para o diagnóstico e o tratamento.


O vírus HIV pode ser transmitido por beijo na boca, abraço, aperto de mão e banheiro compartilhado?
Não. O vírus só é transmitido por meio do contato sexual e pelo sangue. Objetos não perfurantes, como talheres e copos, ou mesmo o compartilhamento do vaso sanitário não apresentam riscos.

 

Mulheres soropositivas podem engravidar sem transmitir o vírus ao bebê? E o aleitamento, é permitido?
Sim, mulheres podem engravidar sem transmitir o vírus desde que a mãe seja medicada e siga o tratamento corretamente, acompanhada por um médico infectologista. É recomendado que a mulher esteja com boa imunidade e baixa carga viral. A criança também deve ser monitorada nos primeiros meses de vida. O aleitamento, no entanto, é proibido, já que o leite materno pode transmitir o vírus à criança.

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